A Linha de Rubio
Envoltos por tubos, sacolejando em vidros,
Lançados para sempre no breu sem fé
Raça careca, homens de frasco,
Cuspidos para fora num zunido metálico,
Vagantes do fim.
Nossas memórias partidas ao meio,
É quase amargo olhar pelas fendas.
Lá vem a linha, a linha de Rubio,
A linha invisível, a linha que expande
Esposa do escuro, do rio negritude,
Do sêmen cósmico e da primeira terra.
Fonte escondida como cristais mistos
Numa casa sem luz.
Dê adeus à Carlos, adeus à Maria,
Adeus à Paulo, adeus à Henrique,
Pois a massa perece,
E mil vozes clamam
Avistando o terror pairar sobre o firmamento.
Mas enquanto isso
A veia do universo
Pulsa furiosa
Como uma correnteza taquiônica,
Pronta para me levar.
Estou vendo a luz
Pela grossa janela
Tão lenta e distante
Ficando para trás.
Não há mais estrelas, não há mais ninguém.
Sou apenas uma partícula vadia,
Sujeira enérgica,
Assistindo ao grande final.
Ali, lá na frente
Grande e aberto,
Monstro de boca pequena,
E dentes de esfera.
Está frio e azul,
Infinito e minúsculo,
Eis o nada, eis o tudo,
Sou agora parte da rara existência
Escarrada para o nada,
Para o antes de tudo
Aqui o tempo faz falta
Aqui a musica faz falta,
Uma conversa faz falta,
Uma dança faz falta
Voce me faz falta.
Era para ser lindo
Era para ser a salvação
Mas não há cores, nem sorvete
Não há amores, nem chuva, nem sonho
E vejo o milagre congelar e desligar
Tudo ao mesmo tempo, sem mais nem menos.
Então é aqui que tudo acaba?
É só isso e mais nada?
Pois que se finde para sempre,
E fico aqui, quieto e encolhido
Esperando algum dia Deus vir me buscar
Aqui, onde nada faz sentido,
Eu vago continuamente
Na escuridão insólita deste não-mundo
E é assim que tudo termina
E é assim que eu termino
Vagando pela noite desestrelada
Vagando e caindo sem nunca chegar ao fundo
Estou morto e vivo,
Mas nunca chego lá,
Eu caio, mas nunca chego lá,
Eu nunca chego, eu nunca chego,
Eu nunca chego...
* A Linha de Rubio é uma poesia de ficção de cientifica, que mistura surrealismo, retratando o fim do mundo sob o ponto de vista de um homem que consegue escapar para a singularidade, e de lá testemunhar a morte termica do universo.