Diário de MS Fernandes

A Linha de Rubio

Escrito 16/07/18 13:36

A Linha de Rubio

Envoltos por tubos, sacolejando em vidros,

Lançados para sempre no breu sem fé

Raça careca, homens de frasco,

Cuspidos para fora num zunido metálico,

Vagantes do fim.

Nossas memórias partidas ao meio,

É quase amargo olhar pelas fendas.

Lá vem a linha, a linha de Rubio,

A linha invisível, a linha que expande

Esposa do escuro, do rio negritude,

Do sêmen cósmico e da primeira terra.

Fonte escondida como cristais mistos

Numa casa sem luz.

Dê adeus à Carlos, adeus à Maria,

Adeus à Paulo, adeus à Henrique,

Pois a massa perece,

E mil vozes clamam

Avistando o terror pairar sobre o firmamento.

Mas enquanto isso

A veia do universo

Pulsa furiosa

Como uma correnteza taquiônica,

Pronta para me levar.

Estou vendo a luz

Pela grossa janela

Tão lenta e distante

Ficando para trás.

Não há mais estrelas, não há mais ninguém.

Sou apenas uma partícula vadia,

Sujeira enérgica,

Assistindo ao grande final.

Ali, lá na frente

Grande e aberto,

Monstro de boca pequena,

E dentes de esfera.

Está frio e azul,

Infinito e minúsculo,

Eis o nada, eis o tudo,

Sou agora parte da rara existência

Escarrada para o nada,

Para o antes de tudo

Aqui o tempo faz falta

Aqui a musica faz falta,

Uma conversa faz falta,

Uma dança faz falta

Voce me faz falta.

Era para ser lindo

Era para ser a salvação

Mas não há cores, nem sorvete

Não há amores, nem chuva, nem sonho

E vejo o milagre congelar e desligar

Tudo ao mesmo tempo, sem mais nem menos.

Então é aqui que tudo acaba?

É só isso e mais nada?

Pois que se finde para sempre,

E fico aqui, quieto e encolhido

Esperando algum dia Deus vir me buscar

Aqui, onde nada faz sentido,

Eu vago continuamente

Na escuridão insólita deste não-mundo

E é assim que tudo termina

E é assim que eu termino

Vagando pela noite desestrelada

Vagando e caindo sem nunca chegar ao fundo

Estou morto e vivo,

Mas nunca chego lá,

Eu caio, mas nunca chego lá,

Eu nunca chego, eu nunca chego,

Eu nunca chego...

* A Linha de Rubio é uma poesia de ficção de cientifica, que mistura surrealismo, retratando o fim do mundo sob o ponto de vista de um homem que consegue escapar para a singularidade, e de lá testemunhar a morte termica do universo.

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