Estamos em guerra.
Em um conflito sem sentido.
Dois povos com culturas totalmente diferentes.
Um amor proibido a beira da morte...
- Sinto muito, mas é tarde demais...
Tarde demais não é resposta.
Pensei que nossa promessa fosse para sempre.
Eu preciso levá-lo comigo, você me prometeu seu coração.
Lutei por você e assim que sou recompensada. Sendo rasgada em pedaços.
Seu coração se perdeu nessa escuridão, sua alma se corrompeu. E eu...?
Pensei que, mesmo depois de tudo que passamos, ainda poderia salvar uma parte de você que um dia conheceu o amor.
Apenas me enganei...
Dessa vez estou perdendo.
Estou te perdendo...
Sei que preciso olhar para frente e correr. Salvar ao menos minha pele e meu sangue desses monstros conhecidos como seres humanos.
Mas ainda não acredito que você resolveu se unir a eles para me destruir.
Vendeu-se por uma falsa liberdade. Agora é tarde demais para mudar.
Esta foi a sua escolha, abandone essa vida dupla que te corrói por dentro e me consome também. Senão iremos ambos perecer.
Suas cicatrizes são provas de seu erro e de nossas lutas. E, por mais que eu queira negar, me sinto mais próxima a você.
A única luz que vi no escuro, que estendeu a mão para mim dando-me força para lutar e sobreviver nesse mundo selvagem.
Naquele dia eu apenas desejei sempre estar lá para você e perto de você.
Mas essa mesma mão que me acolheu, está me deixando para a morte...
Veja as feridas que causou em minha pele e depois me deixou aqui a sangrar.
Graças a você, encontro-me em um baile, onde minha companhia é a morte e a música expressa sofrimento, dor, angustia e abandono...
Não irei cair sozinha. Levarei-te comigo a todo custo.
- Julie, direi apenas mais uma vez. Saia de perto de mim. É tarde demais para mim e para você. Não quero ter que matá-la. – suas palavras não correspondiam a suas ações. Diz para que eu me afastar, mas ainda me deseja. Não quer me matar, porém deixa-me a beira da morte. – Somos incompatíveis desde o início. Tentamos cruzar destinos paralelos. Somos como dois pontos que se repelem ao se aproximarem.
- Talvez tenha razão, Romeu. – expressei um pequeno sorriso. – Talvez sem mim você consiga voltar a si. Recupere sua sanidade... Talvez eu seja o seu mal. Mas só há um pequeno problema... Ambos estamos condenados a nos afogar nesse mar de discórdia. Porque estamos amarrados pelo destino. Duas almas opostas, vidas paralelas que se cruzaram em meio a essa guerra. Pertencíamos a mundos diferentes desde o começo, criamos nosso mundo para fugir dos conflitos que não começamos...
- Como Romeu e Julieta que se apaixonaram e morreram por amor. Esse se tornou nosso destino. – ele me interrompeu, completando a linha de raciocínio. – Estamos em guerra, somos inimigos amantes. Estamos fadados ao sofrimento até que a morte nos cubra com sua compaixão.
- Então iremos junto para um mundo onde não exista ninguém para nos separar. Onde a guerra não tenha chegado. – retomei a palavra. – Você não sabe o quanto te odeio por não conseguir passar um dia sequer sem pensar em você e sofrer com a dor de tê-lo tão perto e não poder tocá-lo. Apenas lhe peço um último beijo e tudo estará acabado.
Mesmo hesitante meu Romeu se aproximou de mim e de meu corpo já fraco por tantos ferimentos. As poucas forças que ainda me restavam, eu as gastava falando com meu amado. Sabia que aquele era o fim da guerra para mim. Não precisaria mais sofrer, nem veria inocentes morrerem, nem amores como o nosso sendo destruído por motivos humanos.
Senti os lábios de Romeu sobre os meus, selando nosso ultimo beijo. Naquele momento nada mais importava.
- Irei logo após de você, querido. – interrompi o beijo, aproveitando-me da sua proximidade para apunhalá-lo na altura de sua costela, com uma lamina banhada por uma camada de veneno. – Agora poderemos ficar juntos, não é?
Sua resposta foi apenas um sorriso que aos poucos foi se perdendo a medida que o veneno se mistura com seu sangue e seus sentidos se perdessem.
Minhas forças não duraram muito depois disso, senti meus olhos pesarem, dando-me ao luxo de deitar-me ao lado daquele homem que sofreu tanto quanto eu. A escuridão me cobriu com seu manto e finalmente pude dizer adeus a esse mundo.
O que os outros diriam ao encontrar dois corpos inimigos juntos realmente não me importa. Talvez se lembrem de uma história semelhante e coloque um fim nessa guerra. Talvez continuem até se destruírem... Nada disso me convém.
Eu estava fora da guerra e ao lado da pessoa que amava. Meu mundo começava naquele instante. Após a minha morte...