Ouvidos para rabiscos
Giordano
Tipo: Lírico
Postado: 26/02/17 11:39
Editado: 26/02/17 11:41
Gênero(s): Poema
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 2min
Apreciadores: 12
Comentários: 6
Total de Visualizações: 864
Usuários que Visualizaram: 15
Palavras: 329
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Livre para todos os públicos
Capítulo Único Ouvidos para rabiscos

Reflito,

Penso,

Repenso,

Toco o lápis no papel.

Uma pequena gota de tinta o suja,

Retiro o lápis,

Reimagino,

Restruturo,

Refaço,

Reinvento,

Ré, retornei um instante,

De ideias coerentes não disponho mais.

Reluto,

Digo a mim mesmo que hoje é o dia,

Que não passarei um outro

Perecendo as minhas incapacidades,

Não deixarei que o escuro e incessante vazio,

Esta turbulência processada pela palavra "nada",

Vença-me novamente.

Hoje sairá um rabico qualquer,

Hei de quebrar este incoveniente vício

Este amontoado de ausências,

De pensamentos que não se conectam

Não se interligam,

Não almejam,

Que não possuem audácia,

E que tornaram-se pura comodidade.

Nã quero dizer-vos com alarde,

Mas ser cômodo

Não me trás mobilidade,

Pelo contrário, sinto-me completamente imóvel,

Sinto que os pensamentos de que disponho

Sâo inertes a sua próproa existência,

E por este fato, lamento muito,

Sinto também,

Mas tal quais os pensamentos e lamentos,

Os sentimentos meus não possuem a mínima intenção

De aderirem ao papel que tenho em mãos.

São todos desconexos,

Partes de um mesmo algo,

Que, aparentemente, não saberei explicar-vos o que é,

Um algo que ainda não possuo descrito,

Escrito em um papel,

Ouvido por alguém,

Pensado ou inspirado,

Se a este fato algo convem.

Perdão, caros leitores,

Dou ouvidos demais ao que não escrevi,

Mas, explico-vos por motivo qual.

Já tiveram a sensação de que as melhores ideias,

Os momentos mais belos de inspiração,

Aquele inesperado estalo,

Um momento maravilhoso em que nada ocorre,

Mas as ideias parecem escorrer sob teus olhos

E de tanto ouvir, mentalmente, em tua própria voz

Podes quase ver em tua caligrafia ou em uma fonte de um editor de texto

Aquilo que deveras pensaste escrito?!

Pois bem,

Este insuficiente e completamente inútil texto

É um lembrete a mim mesmo

Que no caso de isto ocorrer novamente

Não devo virar a cabeça e dizer

Que amanhã hei de, com certeza absoluta, escrever.

Mas levantar-me e não deixar o rabisco que só por mim foi ouvido,

Perecer.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Baseado na pessoa que vos escreveu estas notas de rodapé.

(Tenho que parar de fazer isso --')

Apreciadores (12)
Comentários (6)
Postado 26/02/17 19:04

Satan, olhem só a diferença de nível. E isso porque este excelso Mestre Poeta afirma estar no block stage... Imagine se não estivesse!

(na verdade nem precisamos imaginar, pois o acervo dele é a prova cabal do que podemos esperar deste incrível autor)

Já posso sair do DQ?

Excelente texto, saudoso amigo! Será um páreo duro para os demais participantes, certeza!

Atenciosamente,

Um ser metaescroto, Diablair.

Postado 27/02/17 16:02

O cara é foda. Se lascar, hahaaha.

Mas gostei da ideia do texto: não deixe para amanhã o que pode ser feito hoje. E também gosto de ver o esforço para sair do repouso. Isso é muito bom.

Belissima mensagens escrita em forma de um poema simplesmente genial. Muito bom!

Postado 12/04/17 15:49

Gostaria de saber como você sempre escreve coisas tão fodas assim.... que habilidade, hein!

Postado 05/01/18 22:38

Esse poema define a rotina de muitos poetas. Eu me vi em muitos versos e abracei o restante deles porque carregavam uma essência que conheço tão bem. Às vezes não escrevo, porque esqueço. Outras vezes, porque as ideias são as mesmas de sempre. O estalo, a inspiração que vem do céu ou a dádiva divina da criatividade, simplesmente não me alcança. Talvez eu seja uma poema amaldiçoada.

Parabéns pelo poema, Gio. Adorei! ❤

Postado 05/03/23 02:38

Estou muito impressionada com o nível de detalhes e profundidade de cada palavra que você usou Gio! Estou feliz por ter tido a chance de ler esta obra de arte e olha que cheguei com atraso hehehe, saudades dos seus escritos.

Com carinho, Seis.

Postado 05/03/23 15:24

intenso e relatável, mas também com uma linda beleza poética. parabéns pela escrita!