Reflito,
Penso,
Repenso,
Toco o lápis no papel.
Uma pequena gota de tinta o suja,
Retiro o lápis,
Reimagino,
Restruturo,
Refaço,
Reinvento,
Ré, retornei um instante,
De ideias coerentes não disponho mais.
Reluto,
Digo a mim mesmo que hoje é o dia,
Que não passarei um outro
Perecendo as minhas incapacidades,
Não deixarei que o escuro e incessante vazio,
Esta turbulência processada pela palavra "nada",
Vença-me novamente.
Hoje sairá um rabico qualquer,
Hei de quebrar este incoveniente vício
Este amontoado de ausências,
De pensamentos que não se conectam
Não se interligam,
Não almejam,
Que não possuem audácia,
E que tornaram-se pura comodidade.
Nã quero dizer-vos com alarde,
Mas ser cômodo
Não me trás mobilidade,
Pelo contrário, sinto-me completamente imóvel,
Sinto que os pensamentos de que disponho
Sâo inertes a sua próproa existência,
E por este fato, lamento muito,
Sinto também,
Mas tal quais os pensamentos e lamentos,
Os sentimentos meus não possuem a mínima intenção
De aderirem ao papel que tenho em mãos.
São todos desconexos,
Partes de um mesmo algo,
Que, aparentemente, não saberei explicar-vos o que é,
Um algo que ainda não possuo descrito,
Escrito em um papel,
Ouvido por alguém,
Pensado ou inspirado,
Se a este fato algo convem.
Perdão, caros leitores,
Dou ouvidos demais ao que não escrevi,
Mas, explico-vos por motivo qual.
Já tiveram a sensação de que as melhores ideias,
Os momentos mais belos de inspiração,
Aquele inesperado estalo,
Um momento maravilhoso em que nada ocorre,
Mas as ideias parecem escorrer sob teus olhos
E de tanto ouvir, mentalmente, em tua própria voz
Podes quase ver em tua caligrafia ou em uma fonte de um editor de texto
Aquilo que deveras pensaste escrito?!
Pois bem,
Este insuficiente e completamente inútil texto
É um lembrete a mim mesmo
Que no caso de isto ocorrer novamente
Não devo virar a cabeça e dizer
Que amanhã hei de, com certeza absoluta, escrever.
Mas levantar-me e não deixar o rabisco que só por mim foi ouvido,
Perecer.