Quem eu costumo notar raramente, só que com mais interesse, são as pessoas que aparentemente pensam que ninguém se dá conta de que elas estão ali. Há tanta intensidade e despretensão nelas... Mal sabem que algumas raras vezes eu, ao depararmo-nos, as notei; e não perceberam porque elas também não me notaram (ou eu penso que não). Mas é importante que se diga que eu não fico observando-as como um maníaco: é um instante fugaz, um olhar rápido e trêmulo, mas que fica em minha memória por seu conteúdo.
As pessoas-que-não-se-notam costumam parecer mais intensas porque não precisam se preocupar em ignorar os olhares alheios, e então elas se concentram em outras coisas, e até em suas inseguranças — ao contrário das pessoas obviamente lindas, que tentam soar naturais perante os olhares alheios mas só por tentarem ficar naturais falham: só porque tentam, falham; eu também noto a existência destas, claro, elas são lindas e todo mundo sabe e vê, só não são naturais.
As pessoas-que-a gente-não-nota se contraem em tímidas expressões melancólicas que são lindas; elas claramente não sabem da beleza e da poesia que emanam. Isto faz com que eu queira dizê-las: “Eu sei que você existe”. No entanto admito que se isso acontecesse eu omitiria a sequência realista da mensagem que eu quero passar: “Eu sei que você existe, mas muitos não sabem. E você vai ter que aprender a lidar com isso de forma saudável.” Assim eu chego em um dilema que vai me silenciar. Não posso dizer apenas a primeira parte e omitir o resto, porque dizer isto seria excluir aquilo, e então o mais provável é que (também por minha timidez) eu não diga nada e essa situação que acabei de retratar nunca se concretize por eu não querer ser desonesto com a pessoa.
O mais provável é que a fulana ou o fulano continue em silêncio e pensando que nessa vida ninguém tenha algum dia, em algum momento que seja, notado a sua existência.