Pássaro Invernal
Ouroboros
Tipo: Lírico
Postado: 08/12/17 17:04
Editado: 08/12/17 19:56
Gênero(s): Drama Reflexivo
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 4
Comentários: 3
Total de Visualizações: 1094
Usuários que Visualizaram: 7
Palavras: 443
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Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Primeiro contato com o site, sejam amistosos! Haha. Um texto lírico e reflexivo, a ordem das cenas descritam não seguem uma ordem cronológica exata ou coesa. O objetivo é fazer com que os leitores façam suas próprias interpretações acerca do contexto do texto. Aguardo ansiosamente por suas opiniões, abraços!

Capítulo Único Pássaro Invernal

Um sopro fugaz e tênue guiou as folhas secas, quase cobertas pela límpida neve, em direção ao horizonte, desaparecendo até alcançar o chão.

O mesmo sopro colidiu e acariciou os poros de sua pele avermelhada. Retomou rapidamente sua consciência. Sua visão estava turva, ainda desnorteada. Podia sentir o frio corroer seu corpo lentamente. O sol ameno e apaziguante quase não possuía força, ignorado pelo inverno abrasador e torturante.

Piscou uma, duas, cinco vezes. O balouçar moroso dos galhos esbranquiçados podia ser visto de soslaio. Aos poucos, sua propriocepção indicava uma familiaridade com aquele local.

Mordeu o lábio inferior, erguendo o tronco lentamente.

Suas pequenas mãos estavam trêmulas, arroxeadas com tamanha exposição à neve. Pôde sentir sua barriga revirar internamente e enxergar o próprio ar que respirava. Um turbilhão de sensações veio à tona, exceto uma em questão; Sentiu-se fraca, impotente e covarde.

O vento;

Era tudo que conseguia ouvir. Suas lágrimas já estavam congeladas, secas. Como poderia continuar? Qual seria a sensação de estar viva novamente? Sentir-se viva.

Desenhos e desfechos foram feitos em sua mente nos últimos dias, engasgada na multidão. A incessante busca pelo sentido e pela conclusão do ecoar de sua alma, o mais profundo e insólito. A razão por existir, por pertencer àquele lugar. Completar-se como ser, transformando a dor massacrante em algo, em um alcance.

Mas isso vazava. Fluía. Inibia qualquer razão, limitava o mais íntegro pensamento.

Ouviu o sonido agonizante dos pássaros invernais, observando-a espalhados entre os galhos e os troncos dos pinheiros mais próximos. Podia sentir o afago dos pássaros, a súplica e a esperança que tentavam exalar, alcançando o âmago de seu corpo.

Percebeu que todos fugiam do inferno. As pessoas, os animais, a maioria dos pássaros; até mesmo a própria natureza evitava o álgido sentimento capaz de congelar o cerne de toda e qualquer alma.

Porém os pássaros invernais eram os únicos que não fugiam. Cantarolavam felizes pelo ar gélido. Ela sentiu o apelo dos bichos. Sentiu que pertencia ao inverno, mas que ele não a aceitava, regurgitando todas suas tentativas de fazer parte daquele chão.

Era movida pelo frio, movida pela dor, pela tragédia, pelo sangue e pelo vento.

Suas lágrimas já estavam congeladas quando decidiu caminhar despida pelas árvores que a circundavam. Sentiu a neve fofa engolir seus pés frágeis, impedindo-a de seguir seu caminho.

Mas ela foi contra o desejo da natureza, das árvores nuas. Tudo que precisava era lembrar como é sentir viva. E, assim, deitou-se no rio congelado. O pássaro negro invernal gorjeou em um tom fúnebre e melancólico. Uma despedida.

O sopro do vento atingiu seus cabelos castanhos. Caminhou em direção ao seu mais profundo e belo sonho.

❖❖❖
Notas de Rodapé

E então, o que acharam?

Apreciadores (4)
Comentários (3)
Postado 08/12/17 20:19

Eu, com minha existência rasa, não consigo concluir ou ter um formato oficial em minha mente do que exatamente retata esta sua obra magnífica, mas sei que, algum canto adormecido da minha alma, me levará a alguma conclusão.

Sinto cada palavra como uma amiga distante, como se eu já tivesse participado de cada sentimento e situação citada, costumo imaginar as cores... O clima, o horário no qual se passa o enredo... É uma obra totalmente profunda, que se extende dentro da mente, me faz imaginar causas, consequências... Sequências!

Achei linda, triste, singela...

Parabéns por esta sua primeira obra, vejo que entrou com tudo na Academia e desejo de todo o meu ser, te ver por estas bandas novamente, amei seu estilo de escrita, escolha de palavras e até a escola da capa da obra, fez meu coração ficar aquecido, como se eu acabasse de chegar em casa depois de passar a noite toda perdida na neve.

Bem-Vindo! E muito sucesso!

Postado 08/12/17 20:27

P.S.: Tem uma música que se chama "Walking in the air", quando eu vi a foto que você utilizou, logo esta música me veio à mente.

Ela não é exatamente parecida com sua obra, mas eu fiquei com a melodia do início ao fim de minha leitura.

Segue o link, espero que te inspire a uma continuação.

[Esta não é minha versão favorita, mas é a que ficou ressoando na mente]:

https://www.youtube.com/watch?v=A1-41Memra0

Postado 09/12/17 01:15

Antes de tudo, muito obrigado pelo seu comentário acolhedor! É muito gratificante ver que uma simples obra pode tocar o sentimento mais profundo ou jamais explorado de alguém de diferentes maneira. É uma pena que não tenha feito nenhuma interpretação acerca do texto, mas acontece, aconselho reler algumas vezes e parar para refletir. Não posso falar sobre minha própria interpretação, isso estragaria tudo, não é? Haha!

Novamente, agradeço pelas palavras tocantes e acolhedoras! Muito obrigado, de verdade! Com certeza estarei rodando por aqui uma hora ou outra... haha!

Até mais!

Postado 10/12/17 18:02

Primeiramente, gostaria de dar-lhe as boas-vindas. Espero que encontre neste espaço acolhedor, amigos e ótimas obras.

Do início ao fim, esse texto me tocou a alma. Conforme fui fazendo a leitura, imaginei que a caminhada pela neve, pudesse ser a nossa jornada pelos vários caminhos que a vida nos leva. Nossos passos podem ser tranquilos e leves, mas também podem ser torturantes e mortais. No fim, quando começamos a apreciar a beleza da vida com os olhos da alma, deixamos este plano.

Em suma, a obra inteira é poética, carregada de melancolia, mas possui uma bela singular. Meus parabéns, moço! Espero ver mais obras tuas por aqui.

Postado 11/12/17 15:19

Olá! Antes de tudo, peço perdão pela demora em responder seu comentário. Estive um pouco atarefado. Agradeço muito pelo seu comentário acolhedor e gentil, de verdade. Fico muito feliz em saber que mihas palavras a tocaram de uma forma tão especial. Isso é muito importatne para mim, muito mesmo.

A sua interpretação é bem condizente com o que eu quis passar. No entanto, á algo além disso, mas é bem por esse caminho que você redigiu mesmo. Era essa a minha intenção; deixar os leitores livres para apreciearem e fazerem suas próprias interpretações.

Obrigado pelo comentário e pelos elogios! Prometo estar sempre por aqui, seja lendo e coentando ou até mesmo postando pequenos textos. Até breve!

Postado 06/02/18 23:55

Estou profundamente arrependida de não ter lido esta obra antes. É tão tocante e encantadora. A poesia flui com o vento.

Não sei como dizer em palavras o que senti exatamente ao ler, mas posso dizer que foi uma sensação muito boa.

Parabéns!