Quando a vida não tem gosto,
Pouco adianta procurar posto,
Tudo possui o mesmo rosto,
O mundo está sempre maldisposto,
Passa-se janeiro, chega agosto,
Persistindo no mesmo encosto.
Quando a vida não tem gosto
A cena congela em um estado febril
Não tem mais azul, nem mesmo um tom de anil
São todos cinzas, os dias, que nos causam calafrios,
Injúrias de um nunca, que sempre passa por um fio.
Quando a vida não tem gosto
O sofrimento é o agora,
Mesmo passando-se às horas,
Ele nunca vai embora,
Mesmo fugindo para fora,
Ele sempre revigora.
Quando a vida não tem gosto
O âmago acaba sendo decomposto,
Por tristeza e desgosto,
A melancolia vira pressuposto
E tudo acaba deposto,
Sempre em um mesmo poço.
Quando a vida não tem gosto
A angústia torna-se casa,
A insônia uma morada
O desalento, meu onde morar
O medo nosso lar
A falta de esperança o lugar.
Quando a vida não tem gosto,
Tudo fica tão assim,
Que é difícil ressuscitar boas lembranças,
E retomar o melhor em mim.