Engraçado ver o quanto os cidadãos se preocupam com política hoje em dia. Ou melhor, se preocupam em compartilhar política, espalhar política, criticar a política dos outros, e parecer envolvido politicamente. Em países diferentes, e em linguagens diferentes, comentaristas especializados falam sobre como "o mundo está dividido", "todo mundo tem uma opinião", "não tem mais notícia verdadeira", "a mídia é parcial", etc. Tem país influenciando a política do outro, tem presidente puxando o saco do outro, tem gente gritando, tem gente protestando, tem de tudo.
Não que nada disso seja novo. Mas uma parte é. O fato que todo mundo se importa. Que todo mundo se envolve. Que todo mundo quer aquela curtida, aquele coração, aquele subscribe. E isso nem é tão ruim. É bom até. Mas também parece que ninguém quer mais conversar um com o outro. Ninguém quer discutir, debater. Ninguém quer ouvir o que o amigo que votou diferente tem a dizer. As pessoas preferem apontar o dedo e mostrar o quanto eles odeiam aquilo que um outro alguém representa, em vez de dialogar, tentar entender o lado dos demais, dar o benefício da dúvida, ou até simplesmente ignorar.
Ignorar. Uma vez eu estava falando com uma amiga próxima e ela discordou completamente comigo nisso, mas eu mantenho a minha opinião. Muitas vezes, ignorar é a melhor arma, é a mais eficiente, é a mais poderosa. Perdi a conta de quantas vezes abri Twitter, Instagram, ou qualquer outra rede social e vi aquele típico post, mais ou menos no seguinte formato: "Olha que ABSURDO o que esse indivíduo [X] falou! Que ultraje! Que horror! Queima!" Me surpreende que as pessoas não percebem que é isso mesmo que tais indivíduos gostam: causar ultraje, causar muvuca, causar espanto, e com isso a sua popularidade só aumenta.
Existe uma pessoa que até uns dois anos atrás eu nunca tinha ouvido falar. Não fazia ideia de quem era, apesar de eu ser relativamente envolvido politicamente. Até que tal pessoa começou a falar certas coisas horríveis, coisas ultrajantes, coisas que não se deve falar nos dias de hoje, e adivinha o que aconteceu? Suas ideias ultrapassadas foram compartilhadas e compartilhadas, espalhadas e espalhadas, justamente pelas pessoas que as achavam mais ultrajantes. "Olha isso, que horror!", "Olha que absurdo!", diziam as pessoas na minha timeline, enquanto tal indivíduo só ria e ganhava popularidade em cima dos compartilhamentos.
Engraçado como o ser humano funciona assim. Vê algo que o desagrada e quer mostrar para todos os "amigos". É quase como se a gente comesse uma comida estragada e pedisse pros outros que estão na mesa provar. Ou ouvisse uma música ruim e mostrasse pra todos os colegas. Por que tem tanta gente que compartilha mais aquilo que não gosta do que aquilo que gosta nas redes sociais? Por que a gente espalha as ideias que detesta e não as que acredita?
Tem muito papo sobre ódio e amor hoje em dia. Mas os que mais falam de ódio muitas vezes são os que mais o espalham. Por isso, fica a dica: a próxima vez que você ver algo que te incomoda, algo que te irrita, algo que você acha ultrajante e horrível, que tal ignorar? Que tal deixar passar em vez de compartilhar para todos os seus "seguidores" e dar mais ibope para a coisa? E quando você ver algo em que você realmente acredita, algo que te deixa feliz, algo que mexe com o seu coração positivamente, aí sim, mostre para todos, e ajude a dar popularidade a quem merece.
E para os que acham que ignorar o ruim não é suficiente para melhorar o mundo, é verdade. Ignorar tudo provavelmente não vai melhorar coisa alguma. Mas ficar sentado sem fazer nada, apenas compartilhando ódio, só vai o fazer multiplicar. Nesse caso, é melhor ignorar mesmo.