Hoje estou rico, milionário. Há uma semana, andava pela rua e vi um velho hilário. Ele me disse que compraria uma carteira de cigarro com seu salário. Eu, fumante e salafrário, decidi vender a minha carteira por um preço bem ordinário: duzentos reais mais honorários. Isso é pouco dinheiro, mas ainda não acabei meu itinerário. Entrei em uma lotérica e joguei os duzentos reais crente no melhor cenário. Um invejoso e um latifundiário me chamaram de lunático e otário. Não deu outra: aconteceu o extraordinário! Com o dinheiro já em minha conta, vi que nunca mais teria problemas monetários. Para celebrar, fui a livraria comprar um dicionário. A primeira palavra lida foi “corsário”. Meu futuro seria um conto literário. Fui a um marceneiro e pedi um navio com tudo que fosse necessário: freezer, leme, poltronas, velas e perfumes da O Boticário. Adentrei pelos mares sem celular e relógio porque não me interessava mais o horário. Parti para o Caribe para viver num mundo sem calvários. Ah, que desnecessário! No alto mar, vi algo legendário. Três grandes navios majoritários, liderados pelo velho hilário, pelo invejoso e pelo latifundiário; eles vivem em aplicar contos do Vigário. Jamais pensei em cair em golpe tão temerário. Eles vieram até mim recuperar o dinheiro de um golpe visionário. Em complô com lotérica, governo e livraria, eles achavam um destinatário que recolheria o dinheiro do proletário. Depois, contratavam mercenários e o recuperariam num ato autoritário. Hoje estive rico, milionário. Queria ser de Peixes, mas sou de Aquário. No fundo do mar, não poderei nem escrever meu inventário.