- Morte, grande amiga! – Saudou Vida.
- Vida, a quanto tempo! – respondeu a Morte, reservada.
As duas se olharam no limite do Existir, uma linha tênue que separava seus dois mundos. Não podiam tocar-se ou cruzar a linha, então sentaram-se a mesa estrategicamente posta no meio. Com a morte ainda em seu mundo sombrio e a Vida em seu lugar alegre.
Morte estica sua mão esquelética para um bule de chá em cima da mesa e serve a bebida quente em duas xícaras, tomando cuidado para não transpor a linha enquanto servia a amiga.
- Faz muito tempo mesmo velha amiga. Nossas rotinas estão mais atarefadas do que nunca!
- Muitas pessoas nascendo e morrendo, eu suponho... – disse morte com os lábios inexistentes na xícara.
- Realmente, o mundo está feio, muitas guerras, fome, doenças... Mas imagino que isso seja noticias boas para você...
A Morte eleva seu olhar sábio á Vida.
- Eu não tenho prazer em ser a Ceifadora cara amiga, não é exatamente o trabalho mais bem visto pelos seres desse mundo...
A Vida reflete seu olhar melancólico com empatia.
- Ainda ei de entender por que os seres me amam e odeiam você...
A Morte sorri, o que era incrível ser feito na ausência completa de dentes.
- Porque você, cara amiga, é uma linda mentira, e eu, uma horrorosa verdade.
- Explique-se cara amiga, e por favor, use de suas belas palavras.
A Morte levanta de sua cadeira e começa a vaguear por seu lado do mundo, mórbido e moribundo era aquele lado da linha que a pertencia, arrastando seu manto puído pela terra.. Tudo do lado Mortal definhava, as plantas, as arvores e até mesmo o próprio solo. Seu mundo era povoado por dor e sofrimento, por almas que acabaram de morrer e não sabiam lidar com o fato.
Um extremo injusto se comparado com o lado da Vida a centímetros de distancia, que borbulhava em vida e cores, onde os passarinhos cantavam, e as almas recém-nascidas mal podiam esperar para descer a terra.
- Nós nascemos juntas, vivemos lado a lado desde de os primórdios do Existir. Pois onde há Vida, há Morte. E vice-versa.
- Mas sempre eu fui a odiada e você a adorada. Por que eu represento o fim, e você, o começo.
- Enquanto eu sou constante e chata, você é a promessa de algo novo e inédito.
- Você representa possibilidade e futuro, e eu consigo ser o extremo oposto disso.
A Morte encerra seu monologo com um floreio triste e volta a se sentar a mesa com a velha amiga Vida, agora era a vez dela.
A vida se levanta e copia os gestos da velha parceira, vagueando por seu mundo perfeito enquanto fala.
- Mas a morte nada mais é que um fim inevitável?
- Todo ser que passa por mim, sabe que vai morrer. Se há algo verdadeiro e justo, é você amiga. Você é o que me faz soar importante, sem você, o que eu seria? Se o que eu sou agora é ser o seu oposto, que nome dariam a um existir sem morte?
- Imagino que sem você, eu não passaria de uma maldição.
- Os seres não souberam agregar os sentimentos á nós, agregam o positivo a mim e o negativo a você, eles mentem para si mesmos.
- O amor por exemplo, no fim do verdadeiro amor, existe a morte, pois só amando sabendo que no fim há morte, que há verdadeiro amor.
- Para a mente bem estruturada, a morte é o verdadeiro começo, e eu, o verdadeiro fim.
A Vida volta a seu lugar na cadeira com a estima de ter feito os olhos sua velha cara amiga brilharem com sentimento.
- Cara amiga Vida, suas palavras sempre ei de me emocionar.
- Cara amiga Morte, á você, eu devo tudo.
As duas encerram o encontro com um brinde atrasado de suas xícaras de chá. Seus encontros sempre eram breves, já que o mundo nunca era escasso de seres nascendo e morrendo que lhe delegavam trabalho.
- Adeus cara amiga – saudou a vida – A mais horrorosa das verdades!
- Adeus cara amiga – despediu-se a morte já se afastando – A mais bela mentira!