Quando a Memória Falha... (Em Andamento)
6 de Janeiro
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 23/10/20 16:22
Editado: 23/10/20 21:43
Qtd. de Capítulos: 11
Cap. Postado: 23/10/20 16:53
Cap. Editado: 23/10/20 21:43
Avaliação: 8.89
Tempo de Leitura: 10min a 13min
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Palavras: 1655
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Não recomendado para menores de dezoito anos
Quando a Memória Falha...
Capítulo 10 Tudo à Tona

Aconteceu há três anos.

Jamie se lembrou claramente deste dia importante.

- Sim, sim eu traí você com mais de trinta mulheres, e não estou nem aí, você é inútil, só presta pra gastar meu dinheiro, nem boa mãe você é, sabe o que eu vou fazer? Vou pedir a guarda da Grace, ela é a única parte de você que eu amo, Grace é a mulher da minha vida, minha coisa mais preciosa e eu não vou deixá-la com você. – Patrício, o marido de Jamie disse enquanto colocava suas malas dentro do carro.

- Onde você pensa que vai? Vai viajar novamente? Não pode viajar! Fique aqui e converse comigo! Você destruiu esta família, ouviu? Destruiu! Que belo exemplo de pai!

- Cale essa sua boca imunda! Eu volto segunda-feira, com meu advogado, minha filha não vai ficar com uma inútil como você. – Patrício acelerou com o carro e se foi ao longe.

“Ele vai ver...” – Jamie pensou enquanto procurava seus calmantes.

Tomou dez pílulas de uma só vez e virou uma garrafa de vodca na goela, logo estava tão bêbada que não podia saber a diferença entre uma porta e uma cadeira.

Começou a ter alucinações horríveis - eram os calmantes fazendo efeito, mas ela não queria dormir, por isso tomou uma garrafa todinha de energético, e estava pronta a bomba.

Foi o tempo de Grace chegar em casa.

- Oi mamãe, por que ninguém foi me ver dançar? Eu sabia que o papai não ia, mas eu pensei que você fosse... – Grace tirou o cartão de dentro da mochila e o entregou para aquele fracasso materno.

- Que é isso?! – a mulher berrou, ainda em estado de choque por causa da briga.

Sua cabeça rodava...

- Eu fiz para o papai, mas ele deve estar viajando... Bom, vou dá-lo a você agora, mas eu vou dar com o mesmo carinho com que daria ao papai, tudo bem? Ou você se importa? – a menina tentou encostar-se à mãe, porém, Jamie acertou seu bracinho com um murro.

- Mãe...?

- Calada! – a mulher estava zonza, tudo estava turvo.

- Você se esqueceu não é mesmo? Sempre se esquece das minhas coisas, mas não tem problema, da próxima vez eu sei que você irá...

- Cale a boca! – derrubou a menina com um chute.

E começou o processo, o funesto processo que levou ao fim da vida de Grace Max, no dia dos pais do ano de 1970.

- Por favor, mamãe me desculpe! Desculpe! Eu faço um cartão com o seu nome da próxima vez, por favor, pare! Eu te peço, nunca mais eu danço, assim você não poderá se esquecer! – Grace implorava entre um murro.

Jamie Max estava com o inferno nos olhos.

Com sede de morte.

Como alguém pode conceber uma vida e sem mais nem menos acabar com a mesma?

Grace se via refletida nos olhos da mãe, olhos profundos, com um brilho psicótico, era como se houvessem navalhas no olhar de Jamie, e as navalhas cortavam a Grace de fora a fora, o pior, nem foi o espancamento, e sim o olhar, um olhar de mil abismos.

E aquele olhar consumiu a menina de seis anos em poucos minutos.

Após se cansar de tanto chutar e socar, a mulher desabou como uma avalanche e se derreteu no chão.

Quando Jamie desmaiou, Grace já não tinha mais vida. Quando Jamie acordou, já era domingo. Fazia menos de 6 horas que tudo havia acontecido.

Foi aí que começou toda a loucura.

- Grace? Acorde filha... Nossa, veja só! Você brincou de tinta a noite inteira! – Jamie disse pegando a filha no colo e a levando para o banheiro.

Deu um bom banho na menina e a vestiu com sua roupa de domingo, era dia de ir para a casa da vovó, ela não ia deixar de ir para a casa da vovó só por causa de uma ressaca...

Pôs a filha dentro do carro e dirigiu até o condomínio da vovó, que não ficava muito longe de casa.

Estacionou, saiu do carro, mas a filha não saiu junto.

- Ora Grace, venha! Não faça pirraça!

Silêncio.

- Grace, não finja que está dormindo.

Silêncio.

O silêncio dilacerou o resto de atitudes sãs que residiam na mente da mulher.

Jamie colocou a mão no rosto da filha, a criança estava fria como mármore e roxa como uma berinjela.

- Uau, eu te dei um bom banho e seu rosto ainda está roxo! Cheio de tinta! Ah,você é criança, as pessoas da igreja nem vão reparar, vamos lá filha... – Jamie fez de conta que estava indo embora sem a menina, mas Grace não se moveu nem um centímetro.

Típica pirraça, então Jamie a colocou em seu colo com a cabeça apoiada nos ombros, como se estivesse dormindo, assim fazia quando Grace ficava manhosa.

- Oi irmã, bom dia, e essa princesa? Está fazendo pirraça? – uma irmã foi a primeira a vê-las.

- Pois é Vitória, a Grace está bem difícil hoje, parece que ela se esqueceu de como andar, não é Grace? – Jamie deu um pulinho pra ver se a menina levantava a cabeça.

- Tem certeza de que ela está bem? Ela não deu um pio.

- Está fingindo de morta.

- Fingindo? Ela finge muito bem! Vai ser uma ótima atriz! Mas só de filmes que falem sobre judaísmo hein? Tipo... A vida de Abraão, Isaque e Jacó. – a tia Vitória riu com seu sotaque chique.

Atriz?!

Ora cale a boca Vitória Dinkle Max, minha filha vai ser doutora e não atriz de filmes judeus!

Ela pensou.

A família Max é judia, mas Jamie é cristã, no entanto, a menina é criada como se fosse judia; as tias e tios de tentavam influenciar Grace a seguir o judaísmo – por mais que Grace não concordasse.

- Grace, dá um oi para mim, lindinha... Venha, te comprei uma boneca, se lembra de que eu te prometi uma boneca no último domingo? Não faça pirraça, princesinha... É uma boneca que o tio Joshua comprou lá em Israel, olha só essa miniatura do Torá, não é maravilhoso? – quando Vitória pegou Grace no colo, logo percebeu...

Não, Grace infelizmente não estava se fingindo de morta.

E o grito de Vitória Dinkle Max bradou e toda a família escutou.

Logo todos estavam ali.

Ninguém sabia o que fazer, se ligavam para a polícia, se oravam ou se matavam aquela mãe horrorosa ali mesmo.

O pior de tudo, era que Jamie não se lembrava do que tinha acontecido, e reagiu da mesma forma que as pessoas reagiram, ficou em desespero, desolada, realmente não fazia ideia de que ela mesma que tinha feito aquilo.

E por esta razão, faz três anos que ela estava internada no hospício mais imundo do país.

- Jamie? No que está pensando?

- As pessoas da igreja... Vão querer me queimar, como na idade média.

- Você acha? Ah, eu não me preocuparia, as pessoas da igreja hoje em dia, estão mais preocupadas em cantar hinos do que em queimar alguém.

- Não, Sra. Bret, me ouça, eles estão vindo, você os chamou pelo interfone, não? Eles não vão me dar choques, ou bater aqueles martelos com pontas afiadas na minha cabeça, nem ao menos vão me dar remédios que me façam vomitar... Eu prefiro ser queimada Sra. Bret, prefiro ser queimada pelos crentes da idade média.

- Ninguém vai te dar nenhum choque, e eu te garanto, por mais que te deem choques, os choques ainda são melhores que queimar na fogueira.

- Sra. Bret, me esconda, me esconda Sra. Bret, não deixe que me achem, eu não quero ir para a sala 4T.

A sala 4T, é a sala dos medicamentos e de qualquer tratamento necessário para os internados no hospício, lá eles recebem choques, injeções, são obrigados e tomarem diversos remédios e em alguns casos, eles batem um tipo de martelo pontudo em alguns pontos do crânio do paciente.

Era um inferno naquela sala.

Quem que melhora assim?

- Mas a sala 4T vai te ajudar a sarar.

- Eu não quero sarar, não há nada de errado comigo.

- Jamie, você está suja de sangue, por quê?

- A Grace me bateu, eu já lhe disse.

- Precisa dos seus remédios, precisa muito deles.

Ah... Então a Sra. Bret era um deles, queria fazer Jamie tomar os remédios, sinto muito Elizabeth Bret, Jamie é muito esperta, ela jamais cairá em seus truques mal planejados.

Aguarde Sra. Bret, Jamie é imprevisível...

- Preciso telefonar, por favor.

- Não posso deixar que faça isso.

- Por favor, por favor.

Os médicos estavam demorando a chegar, cadê eles? – Sra. Bret pensou.

- Eu te peço, prometo, se me deixar dar um telefonema de um minuto apenas, eu juro que nunca mais trago a Grace aqui, viu só? Ela já está correndo por aí, prometo que não a trago mais, não vou mais atrapalhar seu trabalho. – Jamie jurou de pés juntos.

Era totalmente proibido fazer a vontade dos pacientes, e mais proibido ainda fazê-los pensar que seu mundo imaginário é real.

Porém, Sra. Bret o fazia as escondidas, sentia uma dó imensa, durante os três anos de estadia de Jamie ali, ninguém jamais tinha ido visitá-la, além dos humanitários que faziam trabalho social.

Helena era uma dos humanitários.

- Tudo bem, um minutinho. Vou pegar o telefone, não conte a ninguém. – Sra. Bret se foi ao longe.

As paredes da biblioteca pareciam estar se encolhendo, o ambiente parecia estar ficando vermelho vivo, de repente Jamie ouviu barulho de vidro quebrado, logo os viu descendo as escadas, saindo por entre as prateleiras, de trás dos armários e de todos os lugares.

Os viu? Quem?

Pessoas com tochas.

- Ali está ela! – apontou um homem que trazia consigo a maior de todas as tochas.

- Não, por favor! Eu menti, menti! Prefiro os choques, se afastem de mim!

Jamie saiu em disparada pelo corredor, trombou em outras pessoas, trombou em paredes e escapou de todos os braços que ousaram tentar prendê-la.

- Volte aqui Jamie Max! – ela ouvia.

Por mais que ela se afastasse, as chamas pareciam chegar mais perto.

Precisava de uma saída, uma saída bem rápida...

❖❖❖
Notas de Rodapé

Esse capítulo ficou grande demais aaa, obrigada a quem leu até aqui!

Apreciadores (3)
Comentários (3)
Postado 24/10/20 12:18

Então foi isso... O marido não era um bom exemplo, mas uma mulher que bebe e espanca a filha até a morte... aiai... Esse mundo está cheio de pessoas do mal

Postado 26/10/20 16:47

Foi o que eu tinha pensado, o marido era um pedaço de merda, mas a mulher é louca também, e ficou mais louca ainda depois, que história, uau!!

Postado 13/10/22 01:22

Gente... As teorias foram por terra! Que plot incrível foi esse? Realmente estou sem palavras...

A potência da história da personagem é surreal e a maneira que ela foi construída deixou tudo ainda mais palpável, como se o leitor pudesse acompanhar o vai e vem das lembranças de Jamie.

Obrigada por compartilhar conosco mais um capítulo!

​Parabéns, 6 ♥

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