Família Feliz
Meiling Yukari
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 29/10/20 17:15
Editado: 29/10/20 17:53
Avaliação: 8.8
Tempo de Leitura: 6min a 8min
Apreciadores: 6
Comentários: 5
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Palavras: 971
Este texto foi escrito para o concurso "Concurso Macabro - Monstro" Te convidamos a olhar debaixo da cama e nos contar qual monstro está escondido aí. Ver mais sobre o concurso!
Não recomendado para menores de dezoito anos
Notas de Cabeçalho

Olá, pessoinhas adoráveis!

Este é um conto para o Concurso Macabro!

Desejo uma boa leitura <3

Capítulo Único Família Feliz

Mel era uma doce menininha, sempre muito brincalhona e sorridente. Ela era o maior orgulho da mamãe e do papai. Eles formavam uma família feliz e perfeita.... Pelo menos na aparência.

Na realidade a menina crescia alheia a tudo, pois, em sua inocência de criança, a maldade não existia. E como é de conhecimento geral, os humanos são criaturas culturais e sociais, sendo este peso muitíssimo mais elevado do que o peso biológico.

Mel nasceu um bebê da espécie humana, e iria precisar se apropriar da cultura acumulada historicamente pela humanidade para poder se humanizar também. O que essa pobre alma não sabia, é que havia nascido na pior família, e que sua humanização seria na verdade um execrável processo de desumanização.

Marcos, seu pai, nas horas vagas era um enfermeiro. Marta, sua mãe, nas horas vagas era professora. Mas nas horas mais importantes este belo casal era uma exímia dupla de assassinos.

A infalível dupla havia começado a iniciação de Mel desde tenra idade, a deixando brincar com peças de carne bovina fresquinhas. A menina desde cedo aprendeu a apertar a carne macia, e a afundar os dedinhos no pedaço de vida até saírem fartas gotas de sangue, que cobriam sua mãozinha durante a brincadeira.

Depois, com a ajuda dos pais, ela passou a jogar um joguinho muito divertido, no qual deveriam competir para ver qual dos três conseguia espetar mais agulhas no gato da casa. Este jogo era realmente divertido, pois, na imaginação de Mel, o gato também ria alto e pulava alegre com a brincadeira.

E o dia preferido do mês sempre era o último domingo, no qual a família realizava uma encantadora gincana!

Primeiro o clássico jogo de “quem faz o cachorro rir mais alto”. Essa disputa consistia em, com tachinhas com as pontas afiadas viradas para baixo e coladas na sola do sapato, cada integrante da família pisar cinco vezes no cachorro, e ver quem conseguia fazer ele “rir mais alto”. Era emoção pura, e Mel sentia-se radiante, apesar de geralmente Marcos ser o vencedor deste jogo.

Em seguida brincavam de “quem consegue beber o sangue mais rápido”. Essa magnífica competição era feita com quatro copos cheios de sangue, que Marcos trazia do hospital, e na hora da largada cada integrante da família deveria beber tudo correndo, para ver quem terminava primeiro os quatro copos. Mel se gabava muito, pois nesta competição ela era quase sempre a vitoriosa!

Por último realizavam a brincadeira que Mel achava a mais difícil, aquela de “quem faz o melhor corte”. Para isso pegavam fartos pedaços de carne, sentavam-se no chão, e com a faca começavam a desenhar algo. Era um jogo muito subjetivo, mas na maioria das vezes Marta saía ganhando, pois seus retalhos de carne eram sempre muito graciosos, como belas flores ou estrelas diferenciadas.

A vida de Mel seguia assim, linda, bela e tranquila, cheia da mais pura felicidade, sempre envolvida pelo imenso amor familiar.

Quando a menina completou 5 anos, os pais decidiram que era hora de dar um grandioso presente para ela. A levariam para uma grande gincana. Mel se sentiu a menina mais sortuda da face da Terra. Ela não imaginava, não poderia nunca imaginar, que na verdade ela estaria sendo levada para a cena de seu primeiro crime.

Eles então chegaram em uma casinha na zona rural. Lá dentro havia duas pessoas, um homem vivo e completamente amarrado, e outro já morto, em estado de decomposição. Mel se impressionou muito com a cena do cadáver, mas logo seus pais trataram de contar qual seria a primeira brincadeira!

Teriam que fazer o amiguinho deles (o homem amarrado) comer o máximo possível da carne pútrida. A menina adorou a ideia, e logo foi afundar suas mãozinhas inocentes no cadáver, arrancando fartos pedaços fétidos, e indo enfiar goela abaixo do homem que estava com a boca sendo mantida aberta pelas fortes mãos de Marco.

Mel estava muito feliz, pois achava que iria conseguir ganhar o jogo, já que estava indo tão bem, indo e voltando com vários nacos daquela carne podre e enchendo a boca do miserável homem. Mas a mamãe disse que só seria o verdadeiro vencedor quem participasse de todos os jogos.

O papai então começou a passar álcool por toda a extensão do corpo do pobre amiguinho. Pegou uma vela e a acendeu, dando-a logo em seguida para Mel segurar. A instrução era clara, a menina teria que atear fogo ao amiguinho. Ela ficou um pouco confusa, mas assim o fez. Aproximou a vela do corpo do homem ainda vivo e o incendiou.

Porém o calor das chamas fez a menina tropeçar, e em vez de cair para trás, caiu para frente, sendo engolida pelas chamas. A mãe se desesperou e se atirou ao fogo para salvar a filha, não sem antes chutar o vidro de álcool, que se espalhou pelo chão, alastrando as chamas, o que fez todos arderem como se estivessem no inferno.

Foram momentos da mais angustiante dor que Mel já havia sentido em sua vida. Mas uma hora a dor cessou. E foi nesse instante que apareceu um Ceifador, que a pegou no colo, e lhe pediu perdão.

– Pobre menina, te peço perdão, mas terei que levar seus pais para o Inferno. Você não entende... E você não tem culpa de nada, seus pais fizeram isso com você. Os humanos são os verdadeiros monstros deste mundo.

– Eu vou poder ir junto com eles, né? – Pergunta Mel.

Ainda sem responder, coloca a menina novamente no chão. Era a alma dela, pois seu corpo ainda estava queimando nas chamas. Então o Ceifador a segura pela mão. E enquanto a está conduzindo pelo caminho espiritual da despedida, lhe responde:

– Perdão, minha querida, mas você não poderá ir com eles. Sua alma é inocente, e você irá para o Céu, para nunca mais sofrer.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Agradeço muitíssimo pela leitura <3

Apreciadores (6)
Comentários (5)
Postado 31/10/20 03:44

Essa obra me impactou demais tanto pelas cenas descritas de puro horror e massacre, quanto pela crueldade presente nesses pais. Esse final foi simplemenste épico e me deixou toda arrepiada!

Obrigada por compartilhar conosco! Boa sorte no concurso (sinceramente, o primeiro lugar é seu!!!).

​Parabéns, Mei ♥

Postado 08/11/20 01:50

Só quero começar esse comentário dizendo que estou cada vez mais preocupada em ser sua amiga, e cada vez mais receosa hahahaha. Mano, sua imaginação é muito macabra, que ao mesmo tempo que me traz admiração, me traz um puta medo também. Porque são descrições tão bem redigidas, de uma forma tão "normal", que aparenta ser cotidiana, o que torna o clima mais macabro ainda.

Na verdade, esse é um clássico exemplo de não julgar o livro pela capa; nesse caso, o texto pela capa e título. Me senti extremamente enganada, Srta. Diablair.

Não há dúvidas sobre o referido monstro aqui. E realmente eu concordo com o ceifador: o ser humano é o verdadeiro monstro deste mundo, e uma das principais facetas disso é o descrito nessa obra: perversão e destruição.

Cada ato feito pelo casal feliz é, infelizmente, tão verdadeira na realidade, seja em momentos distorcidos, sejam em total concordância. Afinal, os noticiários estão cada vez mais expondo cenas de tortura em animais, assim como creepystas trazem situações reais de massacres e aniquilação.

Chega a ser irônico que todo o trabalho bem executado e pensado tenha terminado justamente por um simples acidente ocasionado pela Mel. E é triste por saber a quão influenciada ela foi pelos pais, de modo a pensar que todos os atos que realizou eram normais e pertencentes a uma inocente brincadeira.

Parabéns pelo excelente texto e muito obrigada pela participação ♡

Postado 08/11/20 01:54

O mais chocante é que algo assim realmente poderia acontecer nos dias de hoje, ou em qualquer outra época. Pessoas Doentes, infectando inocentes e fazendo eles acharem que é algo normal.

Quando não se conhece outra realidade, a sua parece ser maravilhosamente perfeita. Por mais que seja um conto de fadas distorcido e macabro, é a única coisa que se conhece e se acredita.

A cada segundo de leitura, eu ia ficando mais e mais imersa em pensamentos. Foi uma loucura totalmente bem escrita. Doente e insana.

Parabéns!

Postado 08/11/20 16:19

Impressionante como uma descrição tão leve trata algo tão pesado. Mei, que texto cruel, triste e bem construído. Faço das palavras do Ceifador, as minhas. O ser humano é o verdadeiro monstro. A inocência da Mel diante dos ataques brutais foi um baita contraste. Parabéns! <3

Postado 14/11/20 08:27

Uma obra de tamanha qualidade e malevolência somente testifica o talento, criatividade e Doença da autora, a qual faz por merecer o vindouro título de Deusa das Trevas. Estou estupefato e maravilhado com o grau de detalhamento deste conto, é deveras impressionante e sublime a maestria com a qual você abordou o tema, Mei!

Eu preciso aprender muito contigo ainda sobre Terror/Horror, pois sua sensibilidade tornou a coisa toda muito mais pavorosa e deleitável, um verdadeiro Swan Song do Inferno! Bravíssimo, minha preciosa e aterrorizante Mei! Bravíssimo! Meus sinceros parabéns, foi verdadeiramente uma rival à altura do Primeiro Lugar!

Atenciosamente,

Um ser pútrido, mas infelizmente ainda vivo, Diablair.

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