Ao meu querido Ravi...

Já faz um tempo desde a última vez que te escrevi, estou um tanto fraca, mas sigo firme, pois preciso me manter viva, por você, por nós...

E você, meu querido, como está? Sei que os guardas não permitirão que me responda, mas escrevo para te mostrar que estou viva, e para dizer o quanto te amo.

Aqui presa estou lendo vários livros, e em um deles encontrei a representação de nossa esperança nas palavras do grande poeta Mario Quintana, “entre minha casa e a tua há uma ponte de estrelas”, essa frase me impressionou muito e me fez acreditar nela, pois mesmo que não materialmente, eu sinto que essa ponte existe acima de mim, pairando na vastidão do céu noturno, convidando-me a ir ao teu encontro, meu adorado amor.

Nós pertencemos um ao outro, desde o primeiro momento em que nossos caminhos se cruzaram aqui nesta vida, eu tive a certeza de que nossas almas já haviam se cruzado em outras existências, pois nossa conexão foi instantânea, linda, forte e tão profunda que é difícil de descrever em palavras... você sabe exatamente do que estou falando!

Sim, nós sofremos muito, e tantas pessoas foram e são contra nós... principalmente ele... Mas juntos somos mais fortes, e sei que apesar da distância que nos separa fisicamente, durante a noite nossas almas se encontram no astral, percorrendo a linda ponte de estrelas que nos une, e nos permite nosso amor.

Por favor, meu bem, não ligue para quem te envenena, tente ser forte, aguente os trancos da vida, e saiba que mesmo distante eu estou sempre pensando em ti, mandando boas energias, e desejando ardentemente pelo dia de nosso reencontro.

Sei que é difícil não se abalar com a maldade humana, e sei o quanto lhe dói certas lembranças... Mas tenha perseverança, meu amor, pois você triunfará, enquanto aquele que tanto lhe fez mal passará o resto da vida sendo um pálido reflexo da luz alheia.

A sua luz, a sua força, a sua luta e a sua vida são coisas gloriosas das quais você deve se orgulhar, e muito. Mesmo que você não enxergue as coisas desse modo, eu lhe digo que é assim, e você deve acreditar em mim, meu doce anjo.

Ele conseguiu afastar nossos corpos físicos, mas ele nunca conseguiu destruir nossa ponte de estrelas, e é por isso que tenho fé e esperança em te ver novamente e poder estar em seus braços amorosos.

Acalme-se, logo logo ele morrerá, esse monstro que tenho que chamar de pai está doente, uma mera sombra pálida que nunca conseguiu emitir luz própria, que agora está atrofiando dia após dia, e nosso exílio terá fim com sua morte. Até lá, aguente firme, minha vida, pois cedo ou tarde voltaremos a nos encontrar.

Com todo o amor do mundo,

Sua e sempre completamente sua, Aurora.

P.S.: Nossas vidas mudaram muito ao longo destes 13 anos de exílio e afastamento... Isso sempre me faz pensar em um trecho de Cecília Meireles:

“Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face?”

E eu te respondo, meu amor, que minha face ficou perdida no espelho de sua alma, na última vez em que olhei em seus olhos... Cuide dela por mim, pois estou cuidando da sua que ficou perdida aqui comigo... E tenha fé que haveremos de recuperar um ao outro. Eu te amo.