NONA CENA (PARTE 2): EXT. MANSÃO JASON (DIVISÃO DO SUL) - MADRUGADA.
Após se dirigir ao extremo Sul do círculo, Diablair joga sua capa vermelha sobre o próprio corpo para ficar invisível. Ele para de correr e começa a levitar de modo a ultrapassar a altura do cômodo em que a Trindade do Apocalipse se encontra, pois está intrigado com a patente do exército diante dele: há somente seres de luz. Era de conhecimento geral no mundo mágico que tais seres eram orgulhosos demais para estarem juntos sem a presença de seu falso deus. Anjos e arcanjos eram, na visão de Diablair, inimigos enrustidos que se adulavam em prol de um deus falso. Era por causa dessas inimizades escondidas que o Líder das Hordas Infernais os desprezava com intensidade. Para ele, o ódio sempre devia se manifestar em sua potência máxima.
DIABLAIR (em pensamento): É um tanto intrigante o fato de todos esses imundos estarem colaborando em conjunto sem protestar ou causar a Quarta Guerra Santa.
[Diablair, ainda flutuando e invisível, passa a analisar a estrutura em que o exército inimigo se encontra: um pouco antes da borda, encontravam-se por volta de 800 Principados com escudos altos e encostados no chão. Logo atrás deles, estava a Cavalaria Celeste, que era composta por 600 Potestades com espadas alvas e flamejantes. Três enormes catapultas encontravam-se acima das elevações do terreno. Os Querubins arqueiros estavam divididos: 300 estavam no solo ao lado das catapultas e 400 no céu, no espaço vazio entre a Cavalaria e as catapultas. A predominância dos arqueiros no céu fez Diablair arquear as sobrancelhas, pois significava que eles sabiam que o Líder das Hordas Infernais atacaria por cima, inicialmente. Além disso, eles não deixaram uma brecha sequer em sua estratégia de batalha.]
DIABLAIR (em pensamento): A conta não bate. Se são 10 mil soldados, deveria ter 2500 aqui, mas certamente faltam 400. Onde esses franguinhos estão?
[Diablair olhou mais uma vez para o terreno, analisando as possibilidades. Era impossível que eles estivessem no solo ou em trincheiras, afinal nada no terreno a olhos nus e espirituais revelou isso ao Líder. Além disso, Diablair concluiu que os 400 soldados em falta eram Serafins.]
DIABLAIR (em pensamento): Apenas alguém causaria um buraco no próprio exército. Eu jamais poderia imaginar que aquele maldito Duende conseguiria trazer para o campo de batalha alguém como Ele. Isso certamente vai ser interessante…
[Tendo chegado à conclusão de que os 400 Serafins restantes estavam protegendo o líder da Divisão do Sul em um local desconhecido, Diablair, ainda flutuando e invisível, esticou ambos os braços e, nas palmas de suas mãos, surgiram dois pentagramas.]
DIABLAIR (em voz alta): Veni, maledictus exercitus¹.
[Por um segundo, nada aconteceu. Entretanto, no segundo seguinte, um imenso pentagrama vermelho cobriu todo o campo de batalha. Mil hordas infernais começaram a sair do mesmo, fosse voando ou em carruagens. O Abismo criado por Meiling ficou completamente vermelho e, das águas do Rio da Escuridão, começaram a sair diversos demônios, que rapidamente escalavam a parede de pedra. Diablair invocou, ao todo, 3 mil soldados infernais.]
DIABLAIR (gritando): HORDAS DO INFERNO, MOSTREM AOS MORADORES DO CÉU A FORÇA DOS QUE QUEIMAM!
[Todas as hordas infernais cercam o Exército do Céu e atacam. Diablair voa na direção das catapultas. Uma enorme pedra em chamas é lançada na direção do Líder Infernal, enquanto o mesmo está no ar. Ao se aproximar da pedra, no entanto, Diablair desfere um soco poderoso e a mesma se desfaz em pedaços. Antes que outra pedra pudesse ser lançada, Diablair pousa em alta velocidade em cima de uma das catapultas, estraçalhando-a na força bruta. Uma nuvem de fumaça se levanta por conta do pouso violento do Líder Infernal e vários Querubins que estavam voando o cercam, apontando para ele suas lanças alvas.]
DIABLAIR (levantando os braços, como se estivesse se rendendo): Vocês querem mais violência?
[Os soldados aproximam suas lanças do corpo de Diablair e o mesmo abre um sorriso macabro.]
DIABLAIR: Eu escolho violência².
[Os Querubins movem ainda mais as lanças, porém Diablair repentinamente desaparece e surge atrás de um dos soldados, quebrando o pescoço do mesmo. Restava apenas dez soldados e todos eles foram golpeados mortalmente somente uma vez sem uso de nenhuma magia ou arma. Ao derrotar os anjos, Diablair saltou e destruiu as outras duas catapultas com socos fortes que abriram crateras no chão.]
DIABLAIR (observando seus demônios lutarem): Estão demorando demais para acabar com a raça dessas galinhas mal depenadas. Vou ensinar a vocês como se faz.
[Diablair levanta os dois braços e uma nuvem de moscas sai de suas mãos.]
DIABLAIR: Traga para a Terra sua podridão, Belzebu.
[A nuvem de moscas adentra o campo de batalha, atacando Principados, Potestades e Querubins. Os arqueiros começam a lançar diversas flechas de fogo com o intuito de queimar os insetos, no entanto quando elas atingem as moscas, viram pó. Diablair solta uma risada maligna ao ver as moscas adentrando os olhos azuis dos anjos. O Líder das Hordas levanta os braços novamente e uma gosma negra sai, consumindo grande parte do solo do campo de batalha.]
DIABLAIR: Destrua-os com sua ira, Azazel.
[A gosma negra começa a criar bolhas verdes e gosmentas nos corpos alvos dos anjos e um cheiro pútrido toma conta do ambiente. Os seres angelicais começam a cair em grande escala, se contorcendo de dor e nojo, padecendo logo em seguida por conta do envenenamento por enxofre. Diablair dá alguns pulos de alegria e bate palmas ao desfrutar da cena. O Líder das Hordas levanta as mãos e, em seguida, as bate no chão.]
DIABLAIR: Contamine-os com sua luxúria, Asmodeus.
[Diversas estátuas de barro sem rostos surgiram atrás dos anjos, pegando-os luxuriosamente pelos pescoços. Em seguida, as estátuas quebraram os pescoços dos seres celestiais restantes no campo de batalha. Quando o último anjo padeceu, todos os demônios no campo de batalha começaram a gritar.]
DIABLAIR: Em formação!
[Automaticamente todos os soldados infernais se alinharam e Diablair pôde ver que que não havia sofrido muitas perdas, pois ainda havia 2800 soldados. O Líder Infernal desceu da rocha que estava e se aproximou de suas tropas.]
DIABLAIR: JUDAS!
[Um cavalo negro apareceu trotando pelo campo de batalha. Quando ele se aproximou, Diablair o montou. Com um estalar de dedos, as roupas do Sacerdote da Deusa foram substituídas por uma armadura negra com diversos símbolos satânicos entalhados em vermelho.]
DIABLAIR: A verdadeira batalha começa agora.
BELZEBU (montado em um cavalo negro logo atrás de Diablair e com diversas moscas voando ao redor de sua cabeça): Então, quer dizer que Ele está aqui? Que audácia!
AZAZEL (montando em um cavalo negro ao lado de Belzebu): Quando os demais líderes infernais souberem disso, vão querer vir correndo para cá. Mas a pergunta que não quer calar é: como diabos aquele Duende conseguiu trazer esses porcos santos para cá?
ASMODEUS (montado em um cavalo negro ao lado de Azazel): Hoje aquele porco angelical pagará pelo o que fez a minha doce Sodoma… E, meu caro Azazel, creio que um dos poderes básicos de qualquer duende seja conseguir persuadir através de encantamentos. Corrija-me se eu estiver errado, meu Mestre.
DIABLAIR: Tem razão, Asmodeus. É algo tão básico que quase me esqueci. Faz sentido isso ser aplicado a seres inferiores, mas existem algumas presenças esmagadoras no campo de batalha de seres superiores. Creio que seria impossível Rumpelstiltskin tê-los enfeitiçado. Ele não teria poder para tal.
VOZ DESCONHECIDA (do outro lado do campo de batalha): Tem razão. Ele não precisou enfeitiçar os líderes das Divisões, todos vieram por livre e espontânea vontade.
DIABLAIR (com deboche): Cansou de lamber a bunda do seu falso deus e agora está seguindo Rumpelstiltskin feito um cão, Gabriel?
GABRIEL (do outro lado do campo de batalha): Falou o homem que controla o Inferno, mas é apenas o mero cão de uma deusa imunda sem poder algum. Sabe o que dizem pelo Submundo, caro Diablair? Que essa tal Trindade do Apocalipse é uma farsa e que você as sequestrou de suas verdadeiras famílias para colocar medo nos demais líderes submundanos para manter sua grandeza.
[Diablair inclina o corpo para frente, apoiando os cotovelos no pescoço de Judas. Seus olhos possuem um brilho ameaçador, mas sua expressão está completamente leve.]
DIABLAIR: Engraçado você dizer isso, concubina dos Serafins. Me soa como algo que você faria.
[O rosto de Gabriel se contorce e Diablair solta uma risada de satisfação ao vê-lo estressado. O Líder das Hordas Infernais desce de seu cavalo.]
DIABLAIR: Vamos resolver isso somente nós dois, Gabriel. Pela primeira vez na vida haja como um arcanjo e resolva isso sozinho. Estou te dando o benefício de apenas sonhar com a vitória.
GABRIEL (rindo): Sou um arcanjo, mas não sou burro. Jamais o enfrentaria diretamente, é para isso que os 400 Serafins servem.
DIABLAIR: Entendo. Mas, deixe-me perguntar uma coisa aos seus Serafins: vocês lutariam por um homem que não lutaria por vocês?
[Todos os Serafins ficam em silêncio, mas suas expressões faciais demonstram um profundo desgosto ao ouvirem as palavras verdadeiras de Diablair. Gabriel fica boquiaberto com a maneira que Diablair o humilha diante de seus homens.]
DIABLAIR: O silêncio de vocês diz muitas coisas. Não preciso que me dêem uma resposta. Vocês [Diablair se volta para seus homens], não ousem se mexer. Essa luta é minha.
[O exército infernal consente. Os Líderes Infernais encaram com orgulho seu Mestre.]
GABRIEL: Você deve se achar muito poderoso para enfrentar a mim e meus homens sozinho.
DIABLAIR: Me acho, porque sou poderoso mesmo. E tudo o que vou precisar é dar um socão no meio dessa sua cara de puta. O seu erro, Gabriel, foi ter ofendido a minha Deusa e a minha família.
GABRIEL: Se um erro significa falar a verdade, acolho com tranquilidade meu destino.
[Diablair desaparece e, logo em seguida, aparece no ar diante do rosto de Gabriel, no qual desfere um soco forte o suficiente para afundar o nariz do arcanjo. Rapidamente, o Líder Infernal pousa e, de maneira inumana, ele estica seu braço de modo a deixá-lo largo e gigante, tornando toda a sua carne desfigurada. Violentamente, Diablair move o braço e esmaga 50 Serafins. Seu braço volta ao normal, mas o Sacerdote da Deusa já está preparado para o próximo golpe: juntando as duas mãos, ele as bate na cabeça de um único Serafim, esmagando todo o corpo do ser celestial e espelhando seus órgãos pelo chão, porém o impacto do golpe continua mesmo após o Serafim estar morto, pois o intuito do Líder Infernal era acertar com violência o chão para parti-lo ao meio e derrubar 150 Serafins no Abismo. Os 200 Serafins que restaram fizeram um círculo ao redor do corpo desacordado de Gabriel, ativando suas espadas de fogo.]
DIABLAIR: É incrível como vocês agem como gado! Mesmo sabendo que essa puta celestial não lutaria por vocês, ainda assim, o protegem.
[Os Serafins permaneceram em formação, entretanto se entreolharam quando Diablair falou tais palavras.]
SERAFIM DESCONHECIDO (sussurrando): Nem sempre, caro Senhor, nos dão o benefício da escolha.
[Diablair encara com pena os Serafins.]
DIABLAIR (gritando): SAIAM DO MEU CAMINHO!
GABRIEL (atrás dos Serafins, já recuperado): Não deixem ele passar. Ergam uma barreira divina até que Rafael apareça aqui para me buscar.
DIABLAIR: O próprio Jesus poderia vir aqui para te buscar e ainda assim, eu mataria você e qualquer habitante do Céu que estiver diante dos meus olhos.
GABRIEL: Então, venha! Tente ultrapassar os Serafins. O que te impede?
[Os Serafins encaram perplexos Gabriel por oferecê-los facilmente a morte.]
DIABLAIR: O meu senso de honra me impede de ultrapassar seus pobres homens. Dizem que os demônios são nós, mas todos vocês, seres celestiais, fedem a merda e corrupção. Vocês são os verdadeiros demônios.
[Diablair começa a correr na direção do círculo de Serafins.]
GABRIEL (gritando): Ergam a barreira!
[Os Serafins não se movem. Diablair se aproxima do círculo e os Serafins abrem caminho, permitindo a passagem do Líder Infernal.]
GABRIEL: Traidores inúteis!
DIABLAIR: Cala a boca, pedaço de merda.
[Diablair segura Gabriel pelos ombros, dá um impulso para trás com o pescoço e, com violência, bate sua cabeça contra o rosto de Gabriel. Uma, duas, oito, treze vezes. O sangue azul do arcanjo cobre o rosto de Diablair.]
DIABLAIR: Eu ainda não acabei com você.
[Diablair enfia a mão direita no peito de Gabriel e, com a mão esquerda, desfere um golpe no chão para realizar um ataque mágico.]
DIABLAIR: Crucificado.
[Uma enorme cruz surge através de um pentagrama vermelho e Diablair arremessa o corpo de Gabriel sobre a mesma.]
DIABLAIR: Messorem¹.
[A criatura fantasmagórica do Ceifeiro surge diante do corpo crucificado de Gabriel, entretanto a criatura ceifadora possui uma forma feminina.]
DIABLAIR: Contemple o poder da Deusa, Gabriel.
[O Ceifeiro toma a forma completa da Deusa. Gabriel, com o rosto curado, começa a gritar.]
GABRIEL: Você não pode me matar. Eu sou o arcanjo mais poderoso!
DIABLAIR: Apenas um deus pode matar um arcanjo.
DEUSA: Você continuará sendo o arcanjo mais poderoso… no Vazio.
[A cruz começa a afundar no chão. A forma fantasmagórica da Deusa encara Diablair com um sorriso. O Líder, assim como as tropas infernais, fazem uma reverência para a Deusa. Quando a cruz desaparece, a Deusa some.]
DIABLAIR (para os Serafins): A luta ainda não acabou.
SERAFIM DESCONHECIDO: Acabou. Nós nos rendemos.
[Em vez de largarem as armas, todos os 200 Serafins restantes enfiaram suas espadas flamejantes nas próprias barrigas.]
DIABLAIR: O QUE ESTÃO FAZENDO?
SERAFIM DESCONHECIDO (com sangue saindo da boca e quase desaparecendo nas chamas): Esperamos que… em outra vida… um líder honrado como você… nos lidere.
[Todos os Serafins restantes são consumidos pelas chamas e padecem. O exército de Diablair se aproxima.]
BELZEBU: Excelente luta, meu Mestre. Certamente entrará para a história.
AZAZEL: Todos eles preferiram morrer do que lutar contra o Senhor… mas todos sabiam que Gabriel era o micróbio de excremento mais escroto do mundo mágico.
ASMODEUS: Caro Mestre, creio que devemos refletir acerca dos acontecimentos desta batalha…
DIABLAIR: Sim, Asmodeus. Há uma revolta se instaurando em nosso mundo. Vocês também sentiram a presença do outro Líder Infernal, não é?
[Belzebu, Azazel e Asmodeus acenam positivamente com a cabeça.]
DIABLAIR: “Perdão” não é algo do nosso feitio e “misericórdia” não é uma palavra do nosso vocabulário. Todo e qualquer traidor perecerá! E isso não será diferente para Leviatã, um dos setes Líderes do Inferno.
FIM DA NONA CENA (PARTE 2)