O dia foi movimentado. Mais movimentado e ocupado do que geralmente são os dias neste lugar.
Mas quero começar a registrar tudo desde o primeiro acontecimento, se possível for: Isabelle veio ao meu quarto ainda antes do sol nascer. Por sorte eu já estava acordada… Bem, a verdade é que simplesmente não consegui dormir direito na última noite. E aparentemente Isabelle também não.
Não que ela estivesse preocupada com qualquer coisa, longe disso… Acho que depois de tantos meses que a conheço nunca a havia visto assim tão… animada. Realmente sorridente. E por qual motivo? Havia sonhado com seu prometido (ou ao menos o que ela pensa ser seu prometido).
Sua família realmente a tem enviado cartas falando sobre um casamento que não deve estar tão distante assim, com um certo jovem senhor de terras. Um senhor de terras que ela nunca viu ou falou com, é claro. E ainda assim… ela está feliz, feliz porque conseguiu sonhar com ele pela primeira vez.
É claro que ela queria que eu fosse a primeira a saber. Pobre Isabelle… espero que as suas esperanças não se quebrem… por mais que isso seja tão difícil quanto os rituais de Catherine se provarem úteis para alguma coisa.
Aliás… por falar neles, Isabelle acredita realmente que seu sonho foi obra do “gênio”, e quer a todos os custos continuar com nossas reuniões. Acho que a inocência (para não dizer outra coisa) é realmente uma benção.
Depois disso fiquei atolada em muitas obrigações por quase todo o dia. Todas nulas. Eternas atividades sem propósito… nada com nada, e então mais um pouco.
Não sei, tive a impressão que as madres não estavam contentes com meu comportamento e por isso me enviavam de um lugar ao outro para realizar as atividades mais mesquinhas. Como se eu não fizesse tudo o que preciso fazer aqui. Como se não fosse uma das melhores estudantes que já tenham visto… Às vezes esse tipo de coisa me irrita enormemente. Mas às vezes também não consigo me importar: pobres coitadas, presas aqui por anos… Se eu fosse uma delas provavelmente gostaria também de passar meu tempo atormentando as jovens noviças. Conforme fiquei mais velha percebi que uma das melhores formas de aplacar a própria miséria é causar miséria aos outros, de preferência uma miséria muito maior que a sua. Será que só eu penso assim? Não. É claro que não.
Pois bem… as madres me irritaram, por isso cheguei um pouco mais decidida que o normal em nossa reunião no quarto de Catherine. Juro, beijei-a por mais tempo do que ela mesma esperava: lábios, língua… tudo. Aliás, amei como ela sorriu o tempo todo (e eu também sorria)… Depois ainda perguntei se haveria algum problema em beijar Léa ou Isabelle (até então apenas Catherine nos beijava, nós não interagíamos uma com a outra). Catherine me olhou curiosa e disse que não haviam impedimentos, que isso seria até parte do ritual mais tarde e que não havia problema em adiantar um pouco as coisas. Todas concordaram. Léa qualquer pouco indiferente (céus, juro que talvez não haja nada que faça sua face pálida mudar de expressão nesse mundo, é inacreditável… ela é tão linda e tão imóvel quanto um cadáver). Isabelle, porém… Isabelle avermelhou inteira. Engraçado, com Catherine ela havia se envergonhado, mas nem de longe tanto assim. Por que será?
Enfim… Não me arrependo de nada. Queria realmente que as madres houvessem nos visto. Ao inferno com elas. Espero que um “gênio” ou qualquer outro fantasma me visite esta noite. Terei coisas bem específicas para pedir.