Acordo outra vez e o sol ainda não nasceu. Mas não é como antes… não estou assustada, não existem trevas, não há silêncio, por mais que as sensações daquela outra madrugada não parem de voltar ao meu pensamento. Mas isso não importa agora.
Tive outro sonho agradável, em outra planície… Porém não é disso que quero escrever: Léa veio me acordar faz pouco. Ela precisava falar sobre algo.
Ela me disse que me encontrou em um sonho. Sinceramente nunca havia visto Léa assim tão transtornada. Nada nem ninguém parece nunca poder tirar a mínima reação dela e… e ainda assim ela parecia tão nervosa, empolgada com algo certamente… e também qualquer pouco assustada.
Enfim… ela me disse que o sonho não parecia sonho, que nunca havia sonhado nada nem de longe tão real. Disse que no sonho eu mesma era… simplesmente eu? Da forma mais perfeita que poderia ser, tão linda e inteligente, e dizendo as coisas mais preciosas…
Não estou inventando nada. Foi isso que Léa me disse, disse enquanto segurava minhas mãos e olhava profundamente em meus olhos de uma maneira que nunca pensei que ela seria capaz de fazer. Ela, sempre tão pálida, sem cor sequer nos cabelos, estava enrubescendo de forma que era visível até mesmo na fraca luz da vela.
Eu não sabia como reagir. Disse que também estava tendo sonhos diferentes, que provavelmente nossas cabeças estavam se enchendo das conversas, das besteiras de Catherine… Pensei até em comentar algo sobre a possibilidade da tal hipnose, mas me calei. Isso é algo que quero manter para mim mesma, ao menos por enquanto.
O fato é que tentei argumentar que toda essa situação dos sonhos realmente não significava muito. Mas Léa respondeu simplesmente assim: “Não, não é como você diz. É que as coisas estão começando. Eu sinto. Sabe, Marie, eu sempre senti essas coisas, mais ou menos. E acho que você também sente. Seria difícil não sentir, na verdade. Ao menos agora”. E depois simplesmente me deu um beijo na bochecha, levantou-se e saiu quase correndo.
Mais uma vez realmente não sei o que pensar… como aliás se tornou terrivelmente comum nos últimos tempos.