Irmãs de perpétua aberração (Em Andamento)
Calígula
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 24/02/21 08:02
Editado: 23/07/21 08:55
Qtd. de Capítulos: 14
Cap. Postado: 14/07/21 15:30
Cap. Editado: 23/07/21 07:44
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 6min a 8min
Apreciadores: 2
Comentários: 1
Total de Visualizações: 532
Usuários que Visualizaram: 7
Palavras: 1043
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Não recomendado para menores de dezoito anos
Irmãs de perpétua aberração

Esta obra participou do Evento Academia de Ouro 2021, indicada na categoria Romance ou Novela.
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Capítulo XIII 03 de março, noite

O que infernos foi aquilo? Jamais vivenciei nada nem de perto parecido e… enfim… foi aterrorizante…

Quando estava prestes a sair para ir ao quarto de Catherine comecei a ouvir certos gritos muito estridentes vindos do lado de fora do convento. Eram gritos longínquos, porém fortes. Na hora até mesmo pensei que fossem os brados de alguma mulher ou criança sendo atacada por alguma fera, ou coisa parecida. Mas não. Eram pássaros, grandes pássaros que nunca havia visto antes, totalmente brancos e com longos bicos recurvados. Eles simplesmente se aproximavam e gritavam, gritavam mais e mais…

Contei pelo menos uma dezena deles. Observei sem muita atenção seu voo, pois realmente não havia muito o que observar ali, fora os guinchos tão particulares. Porém…

Bom, logo notei que eles estavam vindo exatamente na direção da minha janela. Sim, não haviam dúvidas.

Fui dominada por um estranho medo, como se houvesse percebido o que eles queriam, e mais: como se soubesse que aquelas criaturas viessem para mim levadas por alguma ideia nociva, intenção maligna que…

Ah… naquela hora não tive tempo de pensar no absurdo disso. Foi tudo instintual. Rapidamente fechei e tranquei as portinholas… e não demorou para que os pássaros chegassem ali e começassem a bater contra a madeira e gritar, gritar e gritar...

Fiquei alguns instantes com as costas apoiadas contra a janela. Sentia que precisava ajudar a segurar o avanço das criaturas, que aquela proteção sozinha não resistiria. Sim, eram apenas pássaros, e eu mesma me repetia isso enquanto estava ali… o que simples pássaros podem fazer contra uma pessoa, não é? Mas ao mesmo tempo sentia a pressão que eles produziam, ouvia seus gritos e… eu… eu os entendia.

Os pássaros gritavam, e não gritavam apenas como pássaros… eles urravam como gente, como… pessoas machucadas, pedindo ajuda, implorando para entrarem, fugirem de algo muito ruim, muito horrível que estava para chegar.

Socorro! Socorro!”, eu ouvia. “Ajude! Ajude!”, e mais, muito mais… Só de lembrar minhas mãos começam a tremer e as linhas desse diário se perdem…

Não vou dizer que as vozes eram nítidas. Não vou dizer que tudo estava plenamente claro… mas eu ouvia, ouvia entre os guinchos animalescos, por mais que não quisesse ouvir, por mais que não quisesse acreditar que estava ouvindo.

E então… os gritos pararam. A pressão na porta cessou. Tudo ficou quieto, extremamente quieto.

Não me senti aliviada. Para mim os pássaros ainda estavam ali fora planejando algo, apenas esperando que abrisse a janela para entrarem e… e…

É bizarro. Eu pensava naqueles seres como criaturas impossivelmente inteligentes. Imaginava que queriam me ludibriar, que assim que penetrassem no quarto dilacerariam minha carne, comeriam meus olhos e língua lentamente enquanto continuavam seus gritos hediondos… enquanto riam

Sim, era essa exata imagem que chegava até minha imaginação…

Como explicar? Minhas ideias subitamente começaram a ficar confusas. Estava ainda segurando a janela, mas de um momento ao outro foi como se visse os grandes pássaros brancos já entrando em meu quarto e se regozijando em meu cadáver, que de maneira impossível jazia bem diante de mim.

Era minha cabeça, sabia mesmo naquela hora. Havia começado a delirar.

Eles gargalhavam sem parar, triunfantes, conquistadores de meus músculos ensanguentados e pulsantes… E essa imagem apenas ficava cada vez mais e mais nítida… eu podia quase tocar a figura de meu próprio corpo sendo lentamente devorado enquanto ainda respirava, ainda sentia, ainda de uma forma fraca e inútil tentava expulsar as aves malditas, mesmo que cada uma delas fosse muitas, muitas, infinitas vezes mais poderosa que eu…

Meus nervos não estavam em seu melhor estado… isso não é difícil de perceber agora. Mas tudo ainda piorou quando… quando percebi que em meus devaneios meu cadáver estava festejando junto aos seus carrascos, sorrindo e como que comandando, incentivando com leves movimentos as ações assassinas que se realizavam em suas próprias entranhas…

Sim, sim… era tudo minha imaginação e eu o sabia perfeitamente, mas ainda assim era como se aquilo fosse também um pedaço incontestável de realidade: era como se com um olho eu visse meu quarto real, vazio, tão insípido como sempre foi, e com o outro avistasse tudo dominado pelos terríveis pássaros que gritavam, gargalhavam e festejavam dançando no ar, portando pedaços de minhas vísceras ainda quentes, ainda palpitantes, ainda pingando meu sangue e meus sumos para pintar de vermelho cada fragmento mais ínfimo daquele lugar… E isso enquanto meu corpo comemorava junto… sorria um sorriso tão pleno, tão alegre, tão impossível naquela boca já desprovida de lábios, com as gengivas todas retalhadas e…

Não sei o que aconteceu logo depois… não sei sequer se sofri com algum outro tipo de delírio. Quem me encontrou foi Léa, talvez horas após eu ter perdido consciência. Estava estirada no chão perto da janela, e a noite já havia caído. A janela estava aberta, aliás… essa foi a primeira coisa que vi. Eu bradei algo como: “Os pássaros! Os pássaros!”, e Léa pareceu não entender… Eu tentei contar para ela o que havia acontecido, mas ela simplesmente me encarava incrédula. Acalmei-me o máximo que pude e continuei explicando…

Depois de um tempo ela compreendeu ao menos um pouco, e disse que eu provavelmente havia tido um pesadelo, que não havia pássaro nenhum em meu quarto, nem sinal de sua passagem.

Eu fui até a janela para mostrar as marcas que eles provavelmente haviam deixado do lado de fora das portinholas e… e não haviam marcas. Nem marcas, nem penas, nem nada. Tudo estava como sempre havia estado… vazio, quieto… e isso era tudo.

Eu simplesmente não soube como reagir.

Léa ficou algum tempo comigo tentando me acalmar. Eu fingi estar melhorando, e ela acreditou… talvez. Depois me contou que haviam me esperado para realizar os rituais, e que Catherine, vendo que eu não chegaria, decidiu suspender a reunião e deixar tudo para o dia seguinte.

Tentamos conversar sobre alguma coisa diferente, mais leve, mas a conversa não fluía, muito por culpa minha. Léa logo disse que dormiria comigo caso não estivesse me sentindo bem. Recusei, muito por conta dos riscos de alguma madre nos encontrar. Ela concordou que era arriscado, mas tentou argumentar que haviam coisas mais importantes… eu agradeci, mas continuei negando.

Ela foi embora… e eu prometi que ficaria bem.

Ficarei…?

❖❖❖
Apreciadores (2)
Comentários (1)
Postado 13/10/21 19:29 Editado 13/10/21 19:30

Isso foi completamente assustador, mórbido e surreal de bom. Me senti desesperada lendo. Morro de medo de ser atacada por pássaros, pois em Miss Butterworth e o Barão Louco (uma história contada dentro de um romance de época), a mãe da protagonista é bicada por pombos até a morte. Agora meu medo só se intensificou por conta desse capítulo.

É assustador o quanto essa leitura foi maravilhosa, mas temo pela sanidade da protagonista...

Obrigada por compartilhar mais um capítulo conosco! ​

Parabéns, Pablo ♥

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