Sem Título
Mei
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 10/09/21 15:17
Editado: 19/11/21 15:43
Gênero(s): Cotidiano Crônica
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 4min a 5min
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Palavras: 696
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Notas de Cabeçalho

eu realmente não sei até agora um título legal ou nada que possa servir como tal para esta história. é apenas o texto, e só ele. só isso.

Capítulo Único Sem Título

O que é o toque, o nosso, que acontece. As peles se tocando, a minha, a sua; nossa pele, nosso corpo, tocando, um, o outro. Você, eu, bem pertos. O contato, o toque que é tão próximo de colidir, tal como as galáxias e toda essa coisa que falam do céu que a gente não vê com os olhos. O céu que para eles é mais do que o azul que vemos, os olhos veem, você vê? Aquele céu que estava azul mas que não se via o azul porque haviam nuvens o encobrindo, e estávamos eu e você e as nuvens naquele dia que havia chuva e nuvens nos velando, eu e você.

A chuva caindo, tocando-nos o corpo, mais íntimo que o próprio toque das peles, nossas peles, e escorria e descia e molhava, quase que se infiltrando nos poros, tocando os ossos, encharcando as veias, a chuva, que caía sobre mim, sobre você, naquele dia que a gente se olhou, você me viu? Eu te vi. Estava escuro, porque o dia estava, porque haviam nuvens, mas você não me escapou dos olhos, e sei que nem eu escapei dos seus. Você me olhou, eu vi, por isso te olhei de volta, e fiquei olhando, sem nunca desviar, só quando me caiu uma gota nos cílios e pisquei e você não estava mais lá, onde te vi.

Você se afastou, quase não pude acompanhar, meus olhos não puderam. A distância, sabe, é difícil, não dá para acompanhar quando você se afasta e não espera e fica cada vez mais inalcançável, distante. Você se foi, assim, pra longe, onde meus olhos não alcançavam, e eu tentei ver, não vi, você viu? O céu ficou laranja – aquele que as nuvens encobriam e faziam chover, lembra? Eu vi o céu, não vi você, para onde foi? Nem me esperou, só foi – se foi – você, sem mim. Um dia aprendi que quem vai nunca nos deixa de fato, sempre fica, em algum lugar, na memória. O primeiro contato, o último adeus, os olhos sempre lembram, não esquecem, como poderiam? Me diga, você pôde?

Talvez não chegue a se lembrar daquele dia como eu me lembro, porque eu lembro, mas você pode não lembrar, lembra? Te digo que naquele dia chovia, e pelo menos isso eu tenho certeza que não esqueceu, porque você foi o primeiro a falar dela, da chuva, não com a boca mas com os olhos.

Naquele dia você olhou para cima, parecendo buscar além do céu que os olhos veem, dizendo que queria ver estrelas, sendo que nem noite era. Mas o céu não é só esse que a gente vê daqui, o nosso céu é também o deles que é mais do que o azul que vemos, e nesse céu, que não é o nosso mas o deles, as estrelas estão sempre lá em cima, mesmo que a gente não veja porque nossos olhos não enxergam mais do que o azul que, às vezes, está cheio de nuvens o encobrindo. E, olhando para além do céu, escorreu chuva no seu rosto – do seu rosto – e molhou a ti, a mim também, e foi então que aconteceu o toque, na pele (da pele, eu disse?). Tocou, superficialmente, a chuva em nós; não nós nela, ou nós em nós, porque a gente só se misturou a ela, e ficou mais ela em nós do que nós nela. Ou eu em você. Ou você em mim.

Não houve nós e, você sabe, porque não houve nós também não houve ele, o toque, o nosso, do corpo, que acontece quando há o contato por estarmos perto, porque, quão mais perto estivemos senão apenas dos olhos que veem tudo menos o céu que está acima das nuvens?

E não houve o toque naquele dia que você se foi, só foi, assim, sem olhar para trás, sem se despedir. O último adeus não dado, os olhos que não se encontraram, e eu que não te vi. Não vi a você, a mim ou a nós, eu e você, que não existiu, lembra?

Não vi, mas senti a chuva que caiu naquele dia que a gente, eu e você, não existiu.

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