Caçada Sombria (Em Andamento)
Sabrina Ternura Co-Autores Mr Black
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 17/10/21 02:36
Editado: 02/06/23 16:41
Qtd. de Capítulos: 6
Cap. Postado: 17/10/21 02:38
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 8min a 10min
Apreciadores: 2
Comentários: 1
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Usuários que Visualizaram: 4
Palavras: 1314
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Não recomendado para menores de dezoito anos
Caçada Sombria

Esta obra participou do Evento Academia de Ouro 2021, indicada na categoria Fantasia.
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Capítulo 2 Todas As Maneiras de Morrer

Querido eu do futuro, aqui quem fala é o seu eu do passado.

Faz exatamente sete anos que estou vivo. A mamãe diz que isso é um feito grande, pois nem todas as crianças conseguem viver o suficiente para escrever sobre isso. Por isso, sou grato por mais esse aniversário.

Apesar de toda essa gratidão, desde ontem sinto que minha alma está tão leve que poderia desaparecer. Gostaria de estar sentindo um turbilhão de emoções, uma avalanche de alegria, um choque de ansiedade… mas não há nada além de um iminente sentimento de desaparecimento.

Uma vez me disseram que a morte é um enorme vazio… Será que algo está começando a morrer em mim?

Querido eu do futuro, aqui quem fala é o seu eu do passado.

Faz exatamente sete anos que estou vivo… mas será que vou ir além disso?

Assinado, Blake Derick Black,

Um eco de seu passado.

Não sei quanto tempo se passou desde que comecei a encarar através da janela a imensidão branca se formando diante de meus olhos. A brancura se funde em um horizonte distante com o cinza do céu, que rapidamente começa a ficar mais escuro, anunciando a chegada de uma tempestade. Não sei quanto tempo se passou desde que comecei a pensar que o céu, em sua onipotência assombrosa, está engolindo a terra, que não tem outra escapatória a não ser se deixar morrer.

Não posso compartilhar tais pensamentos com a mamãe. Ela se assustaria caso eu dissesse que, para mim, todos os humanos representam a impotente neve e o céu escuro, o vazio da morte que aguarda a todos nós. Não sei se gostaria que ela soubesse que eu sinto esse vazio se espalhar dentro de mim desde que o relógio anunciou a chegada do meu aniversário, fazendo tudo desaparecer dentro da minha alma. Esse ano a mais incluso nos meus seis anos, está pesando como se fosse o fim.

Mamãe está preparando um pão doce para comermos em comemoração ao meu aniversário. Viro para encará-la mexendo freneticamente algo dentro de uma travessa. Tudo o que consigo ver são suas costas pequenas e seus ombros estreitos, quase desaparecendo na madeira das prateleiras e das paredes da nossa cabana. A mamãe é tão miúda que caberia facilmente em qualquer lugar, isso inclui o coração das pessoas. As únicas coisas grandes nela são seus longos cabelos negros, que vivem presos em um coque, e seu nome: Catharina Helena Klein Brand. Tenho muito medo que a mamãe, tendo essa miudeza, acabe sendo engolida pelo céu mortal que está consumindo tudo dentro de mim.

Me levanto e estico meu braço, inutilmente tendo alcançá-la. Ou, talvez, empurrá-la para longe de mim. A cada segundo, a sensação de sufocamento cresce, como se algo muito ruim estivesse prestes a chegar. Ouço o som de algo se partindo dentro de mim. A mesma rachadura que me engole e faz tudo desaparecer, é a mesma que me recusa, jogando-me em um vazio. A minha alma é uma caixa de Pandora completamente oca. Não sei se o céu pretende engolir a terra, só sei que eu não quero que minha mãe seja levada no processo, mas não tenho forças para salvá-la: sinto uma fisgada forte no peito e como se milhões de aranhas andassem por baixo da minha pele. Se há uma maneira de morrer, essa definitivamente é uma delas.

Meu corpo cai para frente, enquanto minhas mãos arranham compulsivamente meu pescoço em uma vã tentativa de atrair ar. Minha visão está turva, mas vejo o vulto de minha mãe correndo desesperada em minha direção. Não ouço sua voz e não sinto seu toque. Tudo o que há é uma sensação aterrorizante e congelante caminhando sobre a minha pele e preenchendo as minhas artérias. Sinto uma enorme pressão na minha cabeça, enquanto ouço todas as minhas veias saltarem. Quero gritar de medo e agonia por conta de todas essas sensações, mas parece que as minhas próprias mãos estão me sufocando, impedindo que minha voz saia, como se meu corpo estivesse recusando a minha existência.

Então, de repente, tudo para. Sento-me abruptamente e encaro minhas mãos: as veias estão totalmente saltadas e o sangue, agora de coloração negra, corre de maneira frenética dentro delas. Estou ofegante. Estou frio. Estou vivo. Não sei explicar o que houve, só sei que não sou mais o mesmo.

— Blake? — Ouço minha mãe me chamar, com a voz trêmula, através de um sussurro.

Olho para ela, mas antes que eu formule uma resposta, ouvimos um estrondo. Sobressaltados, olhamos na direção da porta, que acabou de ser arrombada. Um homem muito alto adentra a cabana e é como se eu fosse um reflexo dele, pois somos iguais, com exceção dos cabelos: os dele são castanhos claros. Ao vê-lo, minha mãe começa rastejar para trás, assustada, como se estivesse fugindo, mas falha quando bate as costas contra a parede de madeira da cabana. Sem ao menos me encarar, o homem caminha rapidamente na direção da minha mãe e, com uma frieza palpável, desfere um tapa forte no rosto dela, fazendo seu nariz sangrar. Ele repete o gesto uma, duas, cinco, dez vezes… E só para quando o sangue de minha mãe está cobrindo o rosto dela completamente. A triste Catharina, diante daquele homem cruel, tornou-se tão miúda que desapareceu.

Foi só quando ele terminou que percebi que havia me encolhido no outro canto da cabana. O homem se vira e me encara. Apesar do medo e da distância, encarei-o de volta e foi neste momento que eu soube o que era me sentir vazio. Ele se aproxima de mim, se agacha e, apontando o dedo indicador em meu rosto, diz com indiferença:

— Você não é meu filho, jamais será. Você é tão porco quanto a vagabunda da sua mãe. Se não quer que ela morra, você terá que fazer tudo que eu mandar.

Sinto todo o meu corpo trêmulo e tal tremor parece ter chegado aos meus olhos, pois sinto minhas órbitas tremerem. Olho de realce para a minha mãe desacordada e irreconhecível após a surra e só aceno positivamente com a cabeça para o homem.

— Ótimo. — Ele responde, se levantando. — Então, beije a minha bota.

Levanto a cabeça rapidamente, assombrado com o pedido dele. O olhar frio do homem e o medo crescente envolvendo a vida de minha mãe falam mais alto do que qualquer outra coisa e me abaixo, beijando a superfície de couro da bota. Com o outro pé, o homem desconhecido simplesmente me chuta, fazendo com que eu bata a cabeça com força na madeira da parede da cabana.

— A partir de hoje você é meu escravo e eu, Gutemberg, sou seu senhor. — Declara o homem, com um ódio crescente na voz. — Se algum dia você ousar abrir essa boca imunda para dizer a alguém que é meu filho, vou arrancar todos os seus dentes e fazer sua mãe engolir um por um.

Sinto-me zonzo ao ouvir as brutas palavras do homem e nem tanto pelo chute, pois a dor infligida na alma é a pura expressão da violência humana. O homem vai até a minha mãe e a ergue pela barriga. Depois, ele vem até mim e faz o mesmo. Gutemberg nos carregou por um longo tempo sobre a neve e ora eu encarava o meu antigo lar ficando cada vez menor pela distância, ora olhava para a minha mãe, que parecia muito menor do que antes, coberta por seu próprio sangue. Enquanto aquele homem terrível nos carregava, tive a certeza que jamais o reconheceria como pai. Foi sentindo os braços dele envolvendo o meu corpo que tive a certeza que viver é uma forma de violência. O céu havia acabado de nos engolir e algo dentro de mim deixou de existir.

Meu sétimo aniversário foi o último que comemorei. A partir daí, entendi que a vida tem o sabor da morte e isso não merece nenhuma comemoração.

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Apreciadores (2)
Comentários (1)
Postado 17/10/21 20:56

Viu? Eu sabia que já podia começar a chorar pela Cathy. Só sofrimento na vida dessa mulher, desse menino... Começo a pensar que a gente gosta de fazer isso com as personagens.

Não tem um capítulo de sossego, que não venha acompanhado por um de Tortura e Massacre.

Que a Deusa proteja todos nós!

Eu só espero que o senhor Blake faça o "pai" dele muuuuuuito feliz, amém!

Parabéns, Brinis! A obra está cada vez mais incrível! Vontade de te morder é o que não me falta. *3*

Postado 30/10/21 23:25

Eu nunca escondi que gosto de massacrar meus personagens, principalmente a Ternura que é a mais nova (ela é fofa, da vontade de maltratar ela kkkkkkk).

Sossego não existe aqui. O Blake não tem um dia de paz, coitado.

Obrigada pela presença e comentário, Flavinha ♥

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