Monstro de Natal
Meiling Yukari
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 12/12/21 21:01
Editado: 12/12/21 21:07
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 3
Comentários: 3
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Palavras: 427
Este texto foi escrito para o concurso "Terror Natalino" Neste Natal, o Papai Noel sumiu e o Jack é o menor dos problemas. Ver mais sobre o concurso!
Não recomendado para menores de dezesseis anos
Notas de Cabeçalho

Olá, este é meu texto para o concurso Terror Natalino.

É uma leitura triste.

Capítulo Único Monstro de Natal

Querido diário...

É hoje. Infelizmente chegou. Dezembro. Natal. Meu pior pesadelo.

Minha angústia é tão grande que, durante o ano inteiro, eu rezo todas as noites pedindo a Deus para que meu desejo mais profundo pudesse ser realizado...

Eu queria tanto que essa data maldita não existisse nunca mais.

Sinceramente eu não entendo como tantas pessoas gostam tanto dessa época de Natal. Fico sempre me perguntando se para elas existe uma felicidade verdadeira nessa data. Porque para mim isso parece ser impossível.

A cada ano que passa eu me sinto pior, pois tento ter esperanças de que poderia ser diferente. Mas não. O Monstro do Natal é implacável. Ele sempre me encontra e sempre me mata, mesmo que eu sempre saia viva.

Agora já estou ficando mocinha, já tenho 12 anos e tenho muita fé que agora acreditarão em mim. É que os adultos nunca acreditam quando uma criança fala sobre monstros. E isso é muito triste.

Minha memória mais antiga disso é de quando eu tinha apenas 4 anos. Gritei e chorei, contando a todos sobre o monstro, mas ninguém acreditou em mim.

Nos próximos anos eu não gritei mais, pois pensei que assim me levariam mais a sério. Mas adultos nunca levam as crianças a sério. Infelizmente.

Já estamos há 6 horas dentro do carro, logo chegaremos ao destino. A casa da vó Catarina é muito bonita, mas tudo que acontece lá dentro não tem nenhum tipo de beleza.

Não importa o que eu tente fazer, ou a forma que eu tente fugir. O tio Alfredo sempre me encontra. Eu odeio sua voz fingidamente doce. Eu odeio sua fala tão falsa que para mim é tão cruel. Ele diz aos meus pais que sou sua sobrinha preferida.

O tio Alfredo tem a total confiança dos meus pais. Então quando eu com 4 anos tentei dizer que ele era um monstro, que me obrigou a tirar minha roupa, ninguém me deu ouvidos.

Sofri durante oito anos, uma violência crescente que cada vez ficava pior. Não aguento mais sofrer sem ninguém acreditar em mim. Sempre tentei convencer meus pais de que eu não estava inventando as coisas, mas nunca adianta de nada, pois a cada ano que passa, nós continuamos voltando aqui.

Meus pais me trazem direto para dentro da boca do monstro.

O carro parou. Eu tenho que descer e parar de escrever. Agora eu preciso ir enfrentar o Monstro do Natal que está a minha espera. Ele está balançando a mão na porta da casa para nos cumprimentar.

Quando será que meu sofrimento irá terminar?

❖❖❖
Notas de Rodapé

Essa é, infelizmente, a triste realidade de muitas crianças.

As festas de fim de ano são um lugar, infelizmente, muito propício para abusos sexuais.

Por favor, pais, acreditem em seus filhos, deixem que eles falem com vocês, mostrem que vocês confiam neles.

Por favor, pais, coloquem os seus filhos sempre em primeiro lugar. Não importa se for um tio, um primo, ou até mesmo um avô. Ou qualquer parente, homem ou mulher. Acreditem nos seus filhos.

Abusadores costumam ser pessoas fora de qualquer suspeita e que têm o respeito e confiança dos pais. Por isso é tão importante acreditar no que as crianças dizem para a gente.

Muito obrigada por ter lido meu texto. Por favor, leve essa ideia adiante e incentive os homens e mulheres que são pais a sempre acreditar em seus filhos.

Apreciadores (3)
Comentários (3)
Postado 03/01/22 15:47 Editado 03/01/22 15:49

A maldade humana não precisa de hora e nem lugar para acontecer. Por mais que o natal não seja a minha comemoração favorita por N motivos, sei que é uma época de alegria, amor e empatia, mas é doentio como isso não se aplica as crianças. Sempre tive a impressão que muitas pessoas veem os pequenos não como humanos, mas, sim, como coisas: pequenas coisas que, muitas vezes, só são vistas em seu real valor quando é tarde demais.

A narrativa é curta, mas o impacto das palavras é imenso. Conforme as palavras da pequenina narradora são lidas, um aperto começa a formar no peito do leitor, assim como uma imensa vontade de bater em cada um dos adultos para que eles ouçam o clamor de dor dessa criança. A leitura é triste, melancólica e dolorosa em níveis que eu não conseguiria descrever...

Para além disso, sua obra está muito bem escrita. Do ponto de vista criativo, nós podemos observar que há (1) uma abordagem diferenciada dentro da temática do concurso, pois, realmente, as festas de fim de ano em família, muitas vezes, tornam-se ambientes propícios para que os abusadores voltem a fazer atos horrendos com suas vítimas e (2) nem sempre o significado de hediondo encontra-se na violência repleta de sangue e facadas; por vezes, as agressões constantes, a dor que não é ouvida e o fardo de viver algo assim por anos, dói mais e assusta mais... Ainda assim, no quesito compatibilidade, nós esperávamos um pouco mais do cenário natalino. O horror que assombra se faz presente a cada linha, mas alguns aspectos do natal acabaram ficando de pano de fundo. Por fim, eu gostei do seu texto e acredito, sim, que seja necessário falar sobre isso e entender de uma vez por todas que as crianças sentem e precisam ser ouvidas.

​É com um aperto no coração e algumas lágrimas nos olhos, que agradecemos sua participação em nosso concurso! Muitos cenários hediondos foram desbravados através desta proposta, porém, o seu em particular, nos mostrou como a maldade humana não possui limites e que isso é assustador. Queremos e esperamos vê-la participando dos posteriores concursos que estamos elaborando.

Obrigada por compartilhar conosco.

Parabéns, Meiling ♥

Postado 14/10/22 15:32

Não é a primeira vez que leio esse texto e não é a primeira vez que sinto profunda raiva no decorrer da leitura, principalmente por saber que os acontecimentos narrados pela pequena não são uma mera ficção criada para o concurso.

É triste saber que muitas crianças passam por situações semelhantes ou piores e que na maioria dos casos os adultos, aqueles que deveriam oferecer proteção, são aqueles que causam e aqueles que ignoram por simplesmente se acharem donos de todo o saber.

"É só uma fase. Ela é criança, não sabe de nada. Nossa, quanta imaginação ela tem."

Simplesmente revoltante.

Já pesso desculpas por ter demorado tanto para comentar.

Do ponto de vista técnico, tua obra está realmente bem escrita. Você foi para fora da caixa do terror sangrento e tenebroso, mas não deixou a desejar no quesito horror/terror.

Um texto assustadoramente realista e perturbador.

Parabéns

Postado 18/11/22 21:12

Quando eu li esse texto pela primeira vez, lembro que me senti tão mal, e o sentimento agora não foi diferente. Muito triste saber que essa é a realidade de tantas crianças que sofrem. Você é uma escritora incrível, meu bem, parabéns por conseguir passar esses sentimentos com a sua escrita

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