Querido diário...
É hoje. Infelizmente chegou. Dezembro. Natal. Meu pior pesadelo.
Minha angústia é tão grande que, durante o ano inteiro, eu rezo todas as noites pedindo a Deus para que meu desejo mais profundo pudesse ser realizado...
Eu queria tanto que essa data maldita não existisse nunca mais.
Sinceramente eu não entendo como tantas pessoas gostam tanto dessa época de Natal. Fico sempre me perguntando se para elas existe uma felicidade verdadeira nessa data. Porque para mim isso parece ser impossível.
A cada ano que passa eu me sinto pior, pois tento ter esperanças de que poderia ser diferente. Mas não. O Monstro do Natal é implacável. Ele sempre me encontra e sempre me mata, mesmo que eu sempre saia viva.
Agora já estou ficando mocinha, já tenho 12 anos e tenho muita fé que agora acreditarão em mim. É que os adultos nunca acreditam quando uma criança fala sobre monstros. E isso é muito triste.
Minha memória mais antiga disso é de quando eu tinha apenas 4 anos. Gritei e chorei, contando a todos sobre o monstro, mas ninguém acreditou em mim.
Nos próximos anos eu não gritei mais, pois pensei que assim me levariam mais a sério. Mas adultos nunca levam as crianças a sério. Infelizmente.
Já estamos há 6 horas dentro do carro, logo chegaremos ao destino. A casa da vó Catarina é muito bonita, mas tudo que acontece lá dentro não tem nenhum tipo de beleza.
Não importa o que eu tente fazer, ou a forma que eu tente fugir. O tio Alfredo sempre me encontra. Eu odeio sua voz fingidamente doce. Eu odeio sua fala tão falsa que para mim é tão cruel. Ele diz aos meus pais que sou sua sobrinha preferida.
O tio Alfredo tem a total confiança dos meus pais. Então quando eu com 4 anos tentei dizer que ele era um monstro, que me obrigou a tirar minha roupa, ninguém me deu ouvidos.
Sofri durante oito anos, uma violência crescente que cada vez ficava pior. Não aguento mais sofrer sem ninguém acreditar em mim. Sempre tentei convencer meus pais de que eu não estava inventando as coisas, mas nunca adianta de nada, pois a cada ano que passa, nós continuamos voltando aqui.
Meus pais me trazem direto para dentro da boca do monstro.
O carro parou. Eu tenho que descer e parar de escrever. Agora eu preciso ir enfrentar o Monstro do Natal que está a minha espera. Ele está balançando a mão na porta da casa para nos cumprimentar.
Quando será que meu sofrimento irá terminar?