Longe de onde Aydan e os outros estavam, o puma corria pela floresta para fugir da chuva que estava caindo. Ele encontrou uma caverna pequena e se escondeu, largando o embrulho no chão. O bebê começará a chorar e ele desconfiava que era de fome.
"Ótimo, agora o que eu faço com você? O próximo templo é muito longe daqui"
Nesse momento, uma raposa vermelha entrou na caverna rosnando atrás do intruso que tivera a ousadia de entrar em sua casa.
O puma rosnou e colocou seu corpo na frente do filhote humano.
A raposa iria atacar, porém o bebê chorou alto. O puma recuou um pouco e apontou a pata para o bebê. A raposa também saiu da posição de ataque desconfiada e deu uma leve olhada no rostinho vermelho de choro. Logo depois, iniciou a transformação.
− O que você faz com esse bebê ômega? − A raposa deu lugar a um homem de longos cabelos escarlates e olhos da mesma cor.
Até mesmo entre as bestas, havia um código de conduta não-escrito, elas eram seres inteligentes, orgulhosos e tinham seus princípios que cruzavam uma linha fina entre a violência e a razão. Nessa linha, uma besta jamais mataria ômegas, marcados ou não, muito menos crianças e filhotes.
O puma se transformou para poder explicar a situação.
− Atacaram o templo que existe no pé da montanha, mataram todos os monges e não tinha sinal dos ômegas que estavam lá, eu encontrei somente esse bebê deixado na floresta.
− E por que veio para cá? Você planeja cuidar dele numa caverna?
−Eu planejo levá-lo até o outro templo.
A raposa observou o pequeno que tinha cansado de chorar.
− São dias de viagem, você é burro? Filhotes humanos são frágeis e morrem por qualquer coisa, ele parece estar com fome.
− Idiota, eu sei que ele está com fome e sei que é frágil. Eu parei aqui por causa da chuva, acha que eu queria ter entrado nessa caverna fedorenta? − O puma olhou para ele com raiva.
− Ora seu! − Uma veia brotou em sua testa.
−Se não vai me ajudar, não atrapalhe. Eu não tenho tempo de brigar, aliás, esse pode muito bem ser seu companheiro.
Ele não sabia, mas tinha pisado em um calo, deixando a raposa ainda mais brava.
−E daí? Quem disse que eu quero um companheiro? Imbecil. − A raposa deu as costas e foi para os fundos da caverna.
− Se você não queria, porque veio morar perto dos humanos? eu moro aqui faz um século e sei que você vivia aqui bem antes de mim.
A raposa fechou os olhos e se conteve para não chutar aquele idiota, pois não queria cuidar de criança nenhuma.
Nem todas as bestas queriam constituir família, então se tornavam nômades, vivendo aqui e ali, bem longe dos seres humanos, a expectativa de vida variava por espécie, podendo viver séculos ou até milênios. Ele mesmo era uma raposa velha, uma das últimas de sua espécie.
Depois que os seres humanos começaram a cultivar métodos de artes marciais, energia de chakra e magia, eles se tornaram ainda mais ambiciosos por poder e riquezas. Caçando bestas mágicas e usando suas peles, seu sangue e até sua carne para consumo próprio. Muitas bestas decidiram se refugiar na floresta para evitar o confronto, mas a cada dia o homem tomava mais e mais espaço.
Ele mesmo havia se isolado para cultivar seu poder nessa caverna escura, meditando por sabe-se lá quantos anos. Quando ele terminou de cultivar, descobriu que os humanos tinham criado uma aldeia, se mudando para aquela região, se multiplicando como coelhos. Ele se disfarçou e foi pessoalmente investigar, descobrindo a porra de um templo com ômegas. Era tarde demais para fugir.
−Cala boca e cuide da sua vida. Eu deixo você ficar, mas amanhã você vai ter que se virar com esse filhote.
−Ok, como se eu quisesse ficar aqui. − O puma embalava o menino tentando acalmá-lo
− Não adianta balançar, ele não vai parar até mamar. Eu vi como as mulheres humanas fazem. Elas tiram o seio para fora e esse monstrinho se gruda o dia inteiro.
−Eu tenho cara de mulher, por acaso?
−Ai que burro..eu vejo que terei que falar detalhadamente. Você vai até a aldeia e arruma uma mulher para amamentar, ou uma que saiba outra forma de fazê-lo comer.
O puma rosnou com a ideia.
−Ir numa aldeia de humanos? Você só pode estar de brincadeira.
−Eles não vão saber que você não é um deles, eles são pessoas ignorantes sobre magia − Ele estava perdendo a paciência com aquele puma.
−É mais os humanos também não gostam de ômegas marcados e eu falo o quê? Conto que eu achei na floresta?
−Aff...tá, eu vi que terei que me meter...eu o levo e uso minha magia para cobrir o sinal. Vamos, a chuva parou.
A raposa pegou o bebê no chão e ambos correram para o vilarejo.
−Você fica aqui e espera eu voltar.
Uma fumaça rodeou o corpo dele, deixando a aparência de um homem maltrapilho e sujo.
O puma ficou admirado com aquele poder, mas por fora ele fez uma cara de nojo. A raposa entrou no vilarejo e demorou algumas horas, saindo com uma garrafa de leite e com o bebê enrolado num pano limpo.
− Admita que eu sou bom demais. −Ele sorriu e entregou o bebê como um pacote.
− É, você se fez útil, eu irei indo então, talvez eu consiga chegar lá em dois dias.
− São uns seis dias de viagem.
− Não é só você que tem poder. O puma virou-se para ir embora, mas lembrou de um detalhe. − Avise quantas bestas você conseguir sobre o que aconteceu no templo, talvez algumas delas queiram ir atrás dos assassinos.
O outro homem revirou os olhos.
−Tá.
Os dois homens se transformaram e cada um foi para o seu lado.
Em uma árvore próxima, um pássaro negro ouviu e observou toda a história. Ele pensou por um momento e depois voou para longe.
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Na mansão, Aydan e seus irmãos foram acordados logo cedo com a movimentação dos guardas que entraram em sua cela e arrastaram os dois ômegas para fora, eles gritaram e Aydan e os outros tentaram ajudar em vão. Ele gritou e amaldiçoou todos eles, mas ficou em silêncio quando aquele homem desprezível surgiu.
-Quanta gritaria, vocês querem tanto vir junto? -Raiden chegou perto da grade e Aydan quase chorou de raiva. -Seu desgraçado, o que vai fazer com eles?
−Você quer ver? Guardas, tragam esse também.
Rinne e Rute seguraram o irmão.
− Nem por cima do nosso cadáver!
−Ah é? O que você acha disso Aydan..eu posso levar um dos seus irmãos no seu lugar, talvez essa jovem. -Seus olhos se encheram de malícia e ele olhou para Rute.
−Eu vou por conta própria! − Aydan se livrou do braço dos dois. Ele sabia muito bem o tipo de manipulação que Raiden queria e do que ele seria capaz. Ele não permitiria que ele tocasse seus irmãos, nem que para isso ele se sacrificasse.
−Por favor, irmão...-Rute pediu baixinho
−Tudo bem, Rute. Eu sou mais velho e sei me cuidar, cuide de Rinne enquanto eu não volto.
Rinne se sentia enjoado e tonto. Ele tentou falar, mas não conseguiu.
Assim, Aydan seguiu Raiden até uma carruagem.
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Após a saída de todos, o carcereiro fechou a grande novamente e Rute observou seu irmão sumir pela porta.
−Rute..eu não me sinto bem. -Rinne falou e suas vistas ficaram escuras, desmaiando no chão.
−Pelos deuses Rinne! Rinne! − Ela virou o irmão e passou a mão no rosto, a testa estava fervendo e seu rosto vermelho. − Ai droga, ah não Rinne, por favor, não entre no cio aqui!
Aquele era um sintoma do primeiro cio. Eles sempre perguntavam como seria seu primeiro cio para os monges e Aydan também dissera sua experiência.
Rute suspirou preocupada, todos os homens que faziam a guarda eram alfas e um ômega em cio era uma tentação.
−Que os deuses nos ajudem.