Guilherme abre os olhos, são exatas 2h32. Seu corpo rejeita a ideia de se desligar novamente, ele rejeita a ideia de se ligar, daí o impasse acaba por fazê-lo continuar deitado, mas acordado. Plenamente acordado, mesmo com seus olhos fechados lutando pelo contrário.
Ela entra pela porta como se a casa fosse dela, deslizando feito névoa pelo quarto sombrio, sem barulho algum. Guilherme sente o colchão afundando ao seu lado, o peso da dama caliginosa deitando-se e aconchegando-se junto dele em sua cama de solteiro. Ele não a cumprimenta, nem ela diz olá, conheciam-se o suficiente para pular tais rituais.
Ela passa os braços pelo seu corpo naquele abraço sufocante, mais uma vez. Aperta Guilherme que sente que seu peito pode quebrar em mil-e-um pedacinhos, o tórax em chamas. Afunda as longas garras entre as suas costelas, bota mais peso em suas omoplatas já doloridas, quase quebra os ombros em seu aperto. Guilherme sorri, ao final das contas. Ele quase gosta do abraço, é o único que ele recebe.
— Que faz aqui à essa hora, Solidão?
A companheira ri baixo ao pé de seu ouvido. A risada é fantasmagórica, ele já está acostumado.
— A única coisa que faço sempre: companhia.