Era véspera de Natal, toda a família estava muito animada por finalmente estarem se vendo, sem precisar ser às escondidas. Foram tantos meses de um falso isolamento social (já que o isolamento de verdade nunca foi apoiado pelo governo negacionista), de máscaras não usadas (afinal, segundo o governo, não precisa de máscara se é apenas uma gripezinha), mas como eles se achavam muito ricos (kkkkk), ao menos precisavam de aparências para se manter.
Por isso, para manter as aparências, eles não haviam feito muitas visitas uns aos outros durante esses meses, eles apenas se juntavam para o churrasco todo final de semana, mesmo que a família toda concordasse que no fundo não existia vírus nenhum e que era tudo uma invenção da China para dominar o mundo e derrubar o Mito, mas, mesmo assim, eles se mantinham arduamente afastados durente os dias de semana.
Essa era uma típica família classe média que se achava a alta burguesia, a típica família que adoraria fazer parte de um grupo neonazista sem se dar conta de que eles nunca seriam aceitos, pois para os "arianos de raça pura", essa típica família brasileira não passava de lixo imundo, sujo e pobre.
Mas finalmente era noite de Natal, a noite na qual mesmo com a ameaça comunista da China e do governador do Estado de São Paulo, essa família iria se reunir, se aglomerando inteirinha para a celebração. Afinal, a família precisa ficar unida. E esse coronavírus era só uma invenção para obrigar a população a ficar em casa, obrigar as empresas a falir, obrigar a economia a entrar em colapso, e o pior de tudo, obrigar a população a injetar no corpo uma vacina falsa para um vírus falso, tudo armação da China para destruir o amado e adorado Mito, presidente do Brasil. Ainda com o risco dessas vacinas suspeitas causarem autismo nas pessoas, Jesus credo.
Din don
Os avós do grupo de risco acabaram de chegar. O avô Bento estava com 94 anos, saúde debilitada, mas seu filho Carlos havia insistido que o vírus era baboseira e que não tinha problema nenhum passar o Natal em família, afinal isso era um direito da liberdade individual.
Din don
Chegaram os tios já bêbados, aqueles que sentem orgulho de brigar no mercado para tentar entrar sem usar máscara, e suas esposas submissas que sentem orgulho dos maridos babacas.
Junto vieram a cambada de primos. Aqueles playboyzinhos que iam sem máscara em festas rave entupir o cu de drogas e transar sem camisinha até o sol raiar. E as primas que viviam fazendo festinhas do pijama na casa das amigas da faculdade, obviamente sem se importarem com nenhum cuidado especial contra o vírus.
As horas foram passando, muitas risadas foram dadas na cara um do outro, baba voando para tudo quanto é lado, cuspe esguichando, copos e talheres compartilhados, muitas gotículas de coronavírus sendo espalhadas pelo ar, entrando no corpo de todos os ali presentes, em meio a muita "alegria", abraços grudentos e calorosos, beijos melequentos, comida farta, carnes caras, pratos complicadíssimos, bebidas raras, tudo isso em volta de uma mesa "muitíssimo feliz" e completamente irresponsável de Natal.
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Perto da meia noite tio Evaldo foi se vestir de Papai Noel para poder entregar os presentes para as crianças. Mas ninguém contava que dentro do saco de presentes havia apenas explosivos. Antes da ceia se iniciar, ele foi andando por toda a casa derramando álcool em todos os cômodos e lugares possíveis.
Evaldo era o único da família que estava usando máscaras durente essa confraternização. Ele havia comido seu jantar em um cômodo separado, para não correr o risco de se contaminar. Na rua, ele usava máscaras a todo instante. Durante esse tempo todo, ele nunca havia participado de nenhum dos churrascos que a família fez durante a pandemia. Evaldo era o único responsável, o único que se preocupava com a saúde. O único que estava fazendo uso do álcool em gel.
Mas seu pai, Bento, disse várias abobrinhas para Evaldo, tentando o convencer de que era direito deles passarem o natal juntos. A família inteira estava contra Evaldo, que acabou cedendo, e indo até a confraternização.
Então agora, após a ceia, todos se reunem na sala, os adultos em volta e as crianças ao centro, bem pertinho de tio Evaldo, que sentia muito ódio de toda sua ridícula família. Evaldo acreditava que todos deveriam estar usando máscaras, cada um dentro de sua própria casa, se mantendo em isolamento social. E não naquela palhaçada irresponsável de natal.
Porém ele infelizmente sabia que a grande maioria da população estava cagando e andando para a importância de usar máscaras, e até mesmo para a existência do vírus. E que não havia muito como mudar a opinião da população, enquanto o Governo ainda fosse o mesmo: imbecil, hipócrita, negacionista e cretino.
Só havia uma solução, tentar exterminar o máximo possível de pessoas negacionistas, para que o vírus se espalhasse um pouquinho menos. Então ali, rodeado de crianças e adultos da sua família, sem ninguém perceber Evaldo habilmente riscou um fósforo e o jogou aos seus pés, enquanto cantava uma musiquinha em tom satânico:
“Jingle bell jingle bell, já acabou o papel...
Não faz mal, não faz mal, eu limpo com jornal...
Jinglerança jinglerança, já acabou a esperança!!
Sem esperança, sem esperança, eu limpo bolsominions com matança!!”
E então, antes que aqueles adultos pouco inteligentes conseguissem processar toda a informação, os explosivos dentro do saco de presentes, em junção com a faísca provocada pelo encontro do fósforo com o álcool previamente derramado, explodiram em fogo, gritos desesperados de adultos e crianças, choros convulsivos, baba, sangue, terror e caos generalizado.