Inferno em Família
Lucas Gomes
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 22/08/16 21:52
Editado: 23/08/16 00:06
Avaliação: 8.55
Tempo de Leitura: 6min a 9min
Apreciadores: 6
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Palavras: 1084
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Não recomendado para menores de dezesseis anos
Notas de Cabeçalho

Espero que gostem.

Capítulo Único Inferno em Família

-Renan, acorda! É hora de ir ao colégio.

-Já vou pai!

Gritou ele enrolado nas cobertas.

Desci as escadas para tomar café, e encontrei Tony, nosso lindo cão preto vira-lata que havíamos adotado meses atrás. Ele pulou sobre mim e me deu algumas lambidas.

Renan vinha descendo as escadas arrastando suas cobertas pelo chão, usando-a como uma capa.

-Por que você deixa o Tony aqui dentro e prende o Than lá fora? (Than era como ele chamava Thanatos, o nosso Rot tweiler).

-Porque ele é muito grande filho.

Sentou-se a pequena mesa redonda comigo e minha esposa, oramos, comemos, e então ele ajeitou-se e fomos para o colégio.

Ao chegarmos a professora abordou-me.

-Com licença, você é o Pai do Renan?

-Eu mesmo, por que?

-Ele é um ótimo aluno mas vem apresentando um comportamento estranho, é muito apático, quieto, tem se envolvido em brigas, estou preocupada com ele.

-Eu tenho certeza de que é só uma fase... Todavia, estarei levando ele a consultar um psicólogo.

Dei-lhe as costas e parti.

Fui para o meu escritório, mal pude iniciar o serviço quando o telefone tocou, era a Diretora Irene.

-Senhor Foster, acho melhor você vir buscar seu filho, ele aparenta estar transtornado. Pediu para um colega ajuntar um material e bateu a cabeça do mesmo contra a quina da mesa, e ele está desmaiado até agora. Ele será suspenso.

Que ótimo, obrigado por me dar mais trabalho, moleque.

-Tudo bem, estou a caminho.

Chegando a escola, encontrei os pais do menino machucado, que resolveram me dizer poucas e boas sobre como educar meu filho.

O seu fedelho apanha e eu que tenho que me incomodar? Pensei.

Dei de ombros, peguei o garoto e levei-o embora.

-Menino, você não sabe que não deve ser violento?- E dei-lhe um tapa.

-Desculpa pai.

Seguimos em silêncio para casa quando ele disse.

-Por que não pai?

-Porque não o que?

-Por que não devemos ser violentos?

-Pois é pecado machucar as outras pessoas. E pessoas violentas são castigadas.

-Mas eu gosto de pecado, papai.

Fitei-o surpreso mas não disse nada.

Chegamos em casa, estacionei o carro em frente ao quintal, mandei-o entrar e disse-lhe.

-Eu vou voltar ao trabalho, mais tarde teremos uma conversa.

Ele acenou com a cabeça, bati a porta e voltei para cumprir o meu expediente.

O que deu nesse garoto? Será que está precisando de umas boas pancadas?

Chacoalhei a cabeça e tentei me focar no serviço. A papelada não parava de chegar, e minha mente não ficava no lugar. A tarde voou. Não produzi nada hoje, maravilha.

Voltando a casa encontrei minha esposa consolando o menino, que de cócoras abraçando as pernas chorava muito.

-O que aconteceu? - Disse enquanto corria pra dentro preocupado.

-Tony desapareceu - falou Laura.

-Quando?

-Hoje a tarde.

Eu deveria acabar com a raça desse menino pelo que anda acontecendo, mas acho melhor deixar a bronca pra um momento mais adequado, pensei.

O garoto me olhava com os olhos cheios de lágrimas e uma profunda escuridão, abracei-o e disse-lhe.

-Tudo bem, vai ficar tudo bem.

Juro por Deus que ouvi esse garoto rir, mas devia ser coisa da minha cabeça. Subimos para o quarto, coloquei-o na cama e ele me disse.

-Obrigado papai, amanhã vou fazer uma surpresa pra você!

Raiou o novo dia, tudo seguia normal, ele ficou em casa hoje, havíamos sido notificados por um e-mail que ele ficaria suspenso por uma semana.

Chegou o horário do meio dia, e Laura veio me contar com um sorriso de orelha a orelha que ele havia sido ótimo hoje de manhã. Beijei-a no rosto.

-Me ajudou muito! Buscou a carne no mercado, ajudou a faxineira no preparo do almoço, foi um ótimo garoto!

Ele apareceu por detrás dela dizendo.

-Espero que você goste papai.

-Claro que sim campeão.

Comemos, estava realmente ótimo. A carne estava um pouco ácida, mas realmente maravilhosa.

Limpei a boca, e voltei a rotina.

Havia chegado mais tarde pois precisava esfriar a cabeça,acabei perdendo as horas e já era noite. Abri a porta e confrontei um estranho silêncio, fui andando e chamei por Laura.

-Querida, está em casa?

-Ela já esta dormindo!

Gritou Renan do seu quarto, fui ao seu encontro.

-Como você está campeão?

-Tá tudo bem...

-Não fique abalado pelo Tony filhão, nós vamos encontrá-lo.

-Não vamos não.

-E por quê não?

-Porque você comeu ele hoje de meio dia papai.

Senti meu estômago embrulhar, soltei uma gargalhada.

-Pare de brincadeiras bobas garoto.

-Não é brincadeira papai. Eu o matei e você o devorou.

-E por quê você o matou?

Perguntei a ele em um tom furioso.

-Porque eu estava entediado,e não posso machucar outras pessoas.

-Você não deveria machucar ninguém, moleque estúpido!

Peguei-o pelo pescoço e atirei-o na lateral da cama.

-Vou chamar sua mãe!

Marchei até o quarto, encontrei-a deitada de lado, aproximei-me com os joelhos na cama, chacoalhei seu corpo e a chamei.

-Querida! Precisa vir agora conversar com esse garoto! Ele está ficando fora de si!

Silêncio.

-Querida? Querida?!

Virei o seu corpo para cima, e percebi que o lençol em que ela estava enrolada encontrava-se banhado de sangue. Me debrucei sobre ela e cai em lágrimas.

-Quem fez isso? QUEM É O FILHO DA PUTA QUE FEZ ISSO?

Gritei, gritei com tanto ódio e dor quanto nunca havia sentido em toda minha vida.

Renan apareceu a porta, com a minha faca de chef em mãos, manchada de sangue.

-O QUE FOI QUE VOCÊ FEZ?

-Ela pecou papai, ela me machucou por que eu machuquei o Tony. Então eu machuquei ela.

-VOCÊ A MATOU!

-Ela pecou pai, mas eu também gosto do pecado e foi ótimo! Havia tempos que eu procurava algo que pudesse me divertir além de carrinhos e joguinhos idiotas, e de fato, esfaqueá-la no estômago me deixou convicto do que era melhor pra mim.

-EU VOU MATAR VOCÊ.

Gritei.

-Não vai não papai. Eu vou.

Então, ele segurou a faca com as duas mãos enfiou-a no próprio estômago e fez um corte horizontal, rasgando-se. Olhou nos meus olhos e disse.

-Pecadores precisam pagar papai.

E caiu com o seu pequeno corpo frágil e doentio ao chão.

Ajoelhei-me ao seu lado e retirei a faca ensanguentada.

Gargalhei profundamente, a maçã realmente não cai muito longe da árvore, pensei. Deslizei minha língua pela lâmina, levantei e sentei-me a cama, mordi o pescoço da minha esposa morta, cortei-lhe um pedaço da coxa e joguei pela janela, para o cachorro lá fora e gritei.

-Thanatos, teremos um delicioso churrasco especial amanhã!

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Apreciadores (6)
Comentários (4)
Postado 23/08/16 00:30

Simplesmente GENIAL!

Parabéns, Lucas.

Postado 23/08/16 01:57

Sr Lucas... Estou realmente surpreso e agradecido pelo que li. Seu conto foi de uma grotesquice sem tamanho, com um desenvolvimento gradual, doentio e muito satisfatório. A parte do almoço foi tensa, mas o suicídio e os eventos posteriores foram de fato inesperafos para mim e vi-me a sorrir como um demente...

Que desfecho, ó Satan! Admirável, ouso dizer! Gostei muito de sua obra, meu caro! Meus parabéns!

Atenciosamente,

Um ser que não vê pecado em quase nada, Diablair.

Postado 15/10/22 13:25

EU AMO CRIANÇAS ASSASSINAS!!

Meu Deus, não acredito que eu nunca tinha comentado, se eu já tinha lido tantas vezes e em todas elas amado!

Esse texto é a perfeição da perfeição!

Eu deveria é imprimir e colar na parede do meu quarto *---*

Perfeito perfeito <3

Postado 15/10/22 15:03

Esse texto é tão sinistro, do jeitinho que eu mais gosto!

Genial!

Parabéns!