-Renan, acorda! É hora de ir ao colégio.
-Já vou pai!
Gritou ele enrolado nas cobertas.
Desci as escadas para tomar café, e encontrei Tony, nosso lindo cão preto vira-lata que havíamos adotado meses atrás. Ele pulou sobre mim e me deu algumas lambidas.
Renan vinha descendo as escadas arrastando suas cobertas pelo chão, usando-a como uma capa.
-Por que você deixa o Tony aqui dentro e prende o Than lá fora? (Than era como ele chamava Thanatos, o nosso Rot tweiler).
-Porque ele é muito grande filho.
Sentou-se a pequena mesa redonda comigo e minha esposa, oramos, comemos, e então ele ajeitou-se e fomos para o colégio.
Ao chegarmos a professora abordou-me.
-Com licença, você é o Pai do Renan?
-Eu mesmo, por que?
-Ele é um ótimo aluno mas vem apresentando um comportamento estranho, é muito apático, quieto, tem se envolvido em brigas, estou preocupada com ele.
-Eu tenho certeza de que é só uma fase... Todavia, estarei levando ele a consultar um psicólogo.
Dei-lhe as costas e parti.
Fui para o meu escritório, mal pude iniciar o serviço quando o telefone tocou, era a Diretora Irene.
-Senhor Foster, acho melhor você vir buscar seu filho, ele aparenta estar transtornado. Pediu para um colega ajuntar um material e bateu a cabeça do mesmo contra a quina da mesa, e ele está desmaiado até agora. Ele será suspenso.
Que ótimo, obrigado por me dar mais trabalho, moleque.
-Tudo bem, estou a caminho.
Chegando a escola, encontrei os pais do menino machucado, que resolveram me dizer poucas e boas sobre como educar meu filho.
O seu fedelho apanha e eu que tenho que me incomodar? Pensei.
Dei de ombros, peguei o garoto e levei-o embora.
-Menino, você não sabe que não deve ser violento?- E dei-lhe um tapa.
-Desculpa pai.
Seguimos em silêncio para casa quando ele disse.
-Por que não pai?
-Porque não o que?
-Por que não devemos ser violentos?
-Pois é pecado machucar as outras pessoas. E pessoas violentas são castigadas.
-Mas eu gosto de pecado, papai.
Fitei-o surpreso mas não disse nada.
Chegamos em casa, estacionei o carro em frente ao quintal, mandei-o entrar e disse-lhe.
-Eu vou voltar ao trabalho, mais tarde teremos uma conversa.
Ele acenou com a cabeça, bati a porta e voltei para cumprir o meu expediente.
O que deu nesse garoto? Será que está precisando de umas boas pancadas?
Chacoalhei a cabeça e tentei me focar no serviço. A papelada não parava de chegar, e minha mente não ficava no lugar. A tarde voou. Não produzi nada hoje, maravilha.
Voltando a casa encontrei minha esposa consolando o menino, que de cócoras abraçando as pernas chorava muito.
-O que aconteceu? - Disse enquanto corria pra dentro preocupado.
-Tony desapareceu - falou Laura.
-Quando?
-Hoje a tarde.
Eu deveria acabar com a raça desse menino pelo que anda acontecendo, mas acho melhor deixar a bronca pra um momento mais adequado, pensei.
O garoto me olhava com os olhos cheios de lágrimas e uma profunda escuridão, abracei-o e disse-lhe.
-Tudo bem, vai ficar tudo bem.
Juro por Deus que ouvi esse garoto rir, mas devia ser coisa da minha cabeça. Subimos para o quarto, coloquei-o na cama e ele me disse.
-Obrigado papai, amanhã vou fazer uma surpresa pra você!
Raiou o novo dia, tudo seguia normal, ele ficou em casa hoje, havíamos sido notificados por um e-mail que ele ficaria suspenso por uma semana.
Chegou o horário do meio dia, e Laura veio me contar com um sorriso de orelha a orelha que ele havia sido ótimo hoje de manhã. Beijei-a no rosto.
-Me ajudou muito! Buscou a carne no mercado, ajudou a faxineira no preparo do almoço, foi um ótimo garoto!
Ele apareceu por detrás dela dizendo.
-Espero que você goste papai.
-Claro que sim campeão.
Comemos, estava realmente ótimo. A carne estava um pouco ácida, mas realmente maravilhosa.
Limpei a boca, e voltei a rotina.
Havia chegado mais tarde pois precisava esfriar a cabeça,acabei perdendo as horas e já era noite. Abri a porta e confrontei um estranho silêncio, fui andando e chamei por Laura.
-Querida, está em casa?
-Ela já esta dormindo!
Gritou Renan do seu quarto, fui ao seu encontro.
-Como você está campeão?
-Tá tudo bem...
-Não fique abalado pelo Tony filhão, nós vamos encontrá-lo.
-Não vamos não.
-E por quê não?
-Porque você comeu ele hoje de meio dia papai.
Senti meu estômago embrulhar, soltei uma gargalhada.
-Pare de brincadeiras bobas garoto.
-Não é brincadeira papai. Eu o matei e você o devorou.
-E por quê você o matou?
Perguntei a ele em um tom furioso.
-Porque eu estava entediado,e não posso machucar outras pessoas.
-Você não deveria machucar ninguém, moleque estúpido!
Peguei-o pelo pescoço e atirei-o na lateral da cama.
-Vou chamar sua mãe!
Marchei até o quarto, encontrei-a deitada de lado, aproximei-me com os joelhos na cama, chacoalhei seu corpo e a chamei.
-Querida! Precisa vir agora conversar com esse garoto! Ele está ficando fora de si!
Silêncio.
-Querida? Querida?!
Virei o seu corpo para cima, e percebi que o lençol em que ela estava enrolada encontrava-se banhado de sangue. Me debrucei sobre ela e cai em lágrimas.
-Quem fez isso? QUEM É O FILHO DA PUTA QUE FEZ ISSO?
Gritei, gritei com tanto ódio e dor quanto nunca havia sentido em toda minha vida.
Renan apareceu a porta, com a minha faca de chef em mãos, manchada de sangue.
-O QUE FOI QUE VOCÊ FEZ?
-Ela pecou papai, ela me machucou por que eu machuquei o Tony. Então eu machuquei ela.
-VOCÊ A MATOU!
-Ela pecou pai, mas eu também gosto do pecado e foi ótimo! Havia tempos que eu procurava algo que pudesse me divertir além de carrinhos e joguinhos idiotas, e de fato, esfaqueá-la no estômago me deixou convicto do que era melhor pra mim.
-EU VOU MATAR VOCÊ.
Gritei.
-Não vai não papai. Eu vou.
Então, ele segurou a faca com as duas mãos enfiou-a no próprio estômago e fez um corte horizontal, rasgando-se. Olhou nos meus olhos e disse.
-Pecadores precisam pagar papai.
E caiu com o seu pequeno corpo frágil e doentio ao chão.
Ajoelhei-me ao seu lado e retirei a faca ensanguentada.
Gargalhei profundamente, a maçã realmente não cai muito longe da árvore, pensei. Deslizei minha língua pela lâmina, levantei e sentei-me a cama, mordi o pescoço da minha esposa morta, cortei-lhe um pedaço da coxa e joguei pela janela, para o cachorro lá fora e gritei.
-Thanatos, teremos um delicioso churrasco especial amanhã!