Acontecem coisas sempre que você vai embora. Não como um carro que capota, uma nave que decola ou um ciclo que se renova.
Acontecem coisas dentro de mim. Coisas que você não nota.
Sempre que você vai embora, eu tento entender, o que foi que te impossibilitou de ler os versos singelos, escritos em meu corpo, somente pra você.
Você passa da porta pra fora, e, minhas palavras, se voltam novamente à mim. O que você vai fazer agora? - elas perguntam - e eu as vejo bem em minha frente, esperando o meu comando, esperando que, num lampejo, eu as libere com todo o desejo, na esperança de que alguma delas faça morada em teu peito.
Fico sem reação, e, infelizmente, minhas palavras não ousam. Só vão com a devida permissão. E elas me olham, com olhos pidões. Queriam ir com você, e, para você, abrir os portões. Queriam abraçar a todos que chegassem perto de ti, só pra que cada pessoa soubesse que minhas palavras acompanham-te.
E eu só me angustio, nesse silêncio sombrio, que me faz perder o chão… (As palavras que não digo me causarão indigestão.)
Quando você vai embora,
um carro não capota,
uma nave não decola,
um ciclo não se renova.
Mas as minhas palavras…
Elas nunca saem porta afora.