Problema Interno
Francisco L Serafini
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 27/09/16 13:24
Gênero(s): Comédia Drama Reflexivo
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 5min a 7min
Apreciadores: 3
Comentários: 2
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Palavras: 852
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Não recomendado para menores de catorze anos
Notas de Cabeçalho

Bah, hahaah. Sei lá, nem leiam, hahaah.

Capítulo Único Problema Interno

Eu já não aguento mais esta discriminação que me assola no trabalho, na rua, no supermercado, não importa onde é que esteja, e mutila minha pobre alma. Os olhares das pessoas são cruéis, carregados de desprezo, e possuem o objetivo de me fazer crer que eu seja um ser fora da normalidade. Bando de doentes! E se não bastasse, elas não são nada discretas e miram seus olhos direto para a fonte de todo esse desconforto: minha barriga inchada. Algumas se afastam, enquanto outras começam a rir. Isso é repugnante. Por isso, durante essa semana, a qual vem a terminar no dia de hoje, me preparei tal como se prepara um exército para ir à guerra e, assim, irei me livrar de uma vez por todas desta maldita prisão de ventre.

Caramba, vocês não têm noção de como ela me incomoda. Estou com todos os meus movimentos corpóreos extremamente limitados, por conta do desconforto gerado pela barriga dolorida e dura. E se isso não bastasse, eu entendi o sentido e a origem da palavra “enfezada” de maneira bem precisa. Puta merda, tudo me deixa fulo da vida! No entanto, pasmem, isso tudo não é o pior desse mal estar; as pessoas são. E é por conta delas que quero entrar nessa disputa contra a prisão de ventre. Antes que vocês me julguem — inclusive, quem são vocês para julgar quem não são vocês? Eita, me exaltei, desculpe-me pela grosseria —, quero deixar claro que tenho total consciência que lutar por um mundo de pessoas respeitosas e compreensivas seria muito mais honroso. Só que não é a falta de respeito gerada pela incompreensão do meu problema que me incomoda, mas sim as demais atitudes que as pessoas tomam por conta disso. As pessoas focam no meu problema e esquecem dos delas e esquecem de seus deveres. Então, é muito mais prático travar um luta contra prisão de ventre do que contra as pessoas, que são todas estranhas e ignorantes; no fim, para mim, o resultado será o mesmo.

Digam-me se não estou certo. Como lutar contra seres que deixam de executar seu serviço em pleno expediente para dissertarem sobre futilidades? Um desses seres é um dos meus colegas, o qual tem uma gargalhada insuportável que me perturba muito e desfoca minha concentração. É um barulho fino, engasgado, molhado. Então, para vocês sentirem o drama, estou lá sentado diante o computador, analisando as planilhas de compra e venda, e sou obrigado a ouvir essa gargalhada descomunal que me desconcentra, pois o tal ser ri como um porco da piada feita por outro ser sobre minha barriga deformada, o qual deveria, inclusive, estar sentado diante a mim, fazendo sua parte do trabalho, da qual sou dependente direto para fazer a minha parte. Ou seja, no trabalho estou cercado de pessoas que focam em qualquer coisa para fugirem de seus deveres. E no supermercado, onde faço minhas compras diárias, isso não é diferente: as atendentes ficam olhando para mim repletas de piedade e demoram uma eternidade para passar as compras pelo caixa. Eu perco muito tempo na fila e sempre chego tarde em casa para poder tentar relaxar e descansar. Estou convicto que vocês concordam comigo que é mais fácil lutar contra a prisão de ventre do que contra as pessoas.

E pois bem, é chegada a hora! Durante a semana, comi muito feijão, batata doce e laranja. Na internet, achei informações que diziam que esses alimentos, combinado com café bem doce eram mais eficazes que qualquer laxante para acabar com esse dilema. Veremos, portanto:

Este vaso gelado sempre complica a ação de defecar e me desconcentra. Preciso de concentração. Concentração e força. Vamos lá! Foco, intestino grosso! Faça sua parte! Vamos, porra! Vamos, músculos! Contraiam e empurrem essa merda para fora! Vamos, caralho! Vamos liberar essa tensão interna! Porra, não na versão de gases. Meu Deus, que fedor! Que peido fedorento. Está tudo podre por dentro. Vamos, intestino! Libere-se dessa imundícia que contamina meu ser! Vamos, caralho! Não aguento mais só gases! Quero os sólidos! Vamos! Vamos! Porra, está vindo um tijolo! Meu Deus, é gigante! Caralho, bateu água na minha bunda! Puta que pariu, abriu a porteira e está vindo a boiada inteira de uma vez só! Meu Deus! Venham com tudo e nunca mais voltem, seus bostas! Eles estão vindo! Eles vieram! Nossa, que alívio! Obrigado, Deus! Obrigado, internet! Veio tudo! Que fedor da porra! Foda-se! Veio tudo!

Meus prezados amigos de luta, como é boa a sensação gerada por sair vitorioso desse intenso confronto contra meu problema interno. Toda aquela merda que me enfezava foi-se embora — vocês podem notar como estou mais calmo e radiante — e a minha barriga desinchou e voltou a normalidade, o que fará com que os seres que me cercam percam suas eventuais desculpas para não trabalhar. Eu venci! Que felicidade! O rendimento na empresa e nas compras irão às alturas e, assim, chegarei em casa relaxado por não ter nada pendente no serviço e com tempo suficiente para prepara a janta e poder assistir ao jogo com tranquilidade. Finalmente, a discriminação não existe mais e eu vivo em paz.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Sim! O texto também é reflexivo!

Apreciadores (3)
Comentários (2)
Comentário Favorito
Postado 29/09/16 23:34

Todo mundo fazendo poema e escrevendo seriamente.

Acho que tu levou bem a sério sobre não ser todo mundo, né Chico? :D

Adorein, como todas tuas cômicas askaspoaks

Postado 30/09/16 00:04

Hahahaha, mas não sou mesmo todo mundo. Minha sempre dizia isso. Obrigado, Julih. Fico feliz que tenha se divertido.

Postado 05/10/16 22:43

Santo Deus Amado que Estais nos Céus!

HUEUHEUHUEUHUEUHUEUHEUHUEUHEHUEUHE

Esse texto foi demais para mim.... não to me aguentando de rir!!!

Mas é um rir estranho, bem reflexivo por sinal...

Parabéns por esse texto super interessante!!!

Postado 05/10/16 23:42

hahahaha, um rir reflexivo. Bah, de fato é estranho pensar que se ri de algo reflexivo.

No entanto, deixando o lado reflexivo de lado, fico feliz que tenha se divertido.

Obrigado pelo comentário e pelos elogios.