Uma dose de nada por favor.
Scheffer
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 15/01/17 17:23
Gênero(s): Crítica
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 1min
Apreciadores: 3
Comentários: 1
Total de Visualizações: 666
Usuários que Visualizaram: 8
Palavras: 230
[Texto Divulgado] ""
Livre para todos os públicos
Capítulo Único Uma dose de nada por favor.

A porta já estava aberta, ela adentrou no estabelecimento, a penumbra em comunhão com alguns pontos de luz distribuídos na bancada indicava o local. Seguiu em frente, sem olhar para os inúmeros ‘’rapazes’’ que a dissecavam.

Era uma banqueta macia, apesar de carecer de encosto para sua coluna vertebral. Estava bom.

-Para a senhorita?

Enquanto observava a infinidade de recados rabiscados naquela pobre madeira que compunha o balcão, tardou a perceber que a pergunta se dirigia a ela.

-Moça!

Levantou paulatinamente seu tronco, como quem não tem pressa: uma dose de nada por favor!

-Como?

-De nada.

- Nada até temos, mas não sabemos servir.

Encantou-se com a resposta, ele sabia brincar.

- Dá-me o amigo do homem engarrafado!

-Whisky?

- Este mesmo, o mais barato e o mais forte.

Ela não olhou marca, não olhou cor, não olhou ano, não era de seu feitio. Mas o sabor, este não passaria despercebido, prestava atenção em suas papilas gustativas. Era amargo. Não costumava beber, era o nada que a moça queria e não este gosto.

Depois da terceira dose ela conseguiu. O que exatamente? Discursava frases inconclusivas e sentia-se agitada:

- Uma dose de nada, uma dose de nada!

O homem que a atendeu compreendera: a moça necessitava fugir de tudo e de todos por um momento, era o nada que ela buscava, era o nada que sua mente atordoada com tanta informação lhe negava.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Grandes observações: O intuito do diálogo foi apenas refletir sobre a necessidade de, por vezes, não pensar em nada. Um estado de tranquilidade livre de perturbações, este, infelizmente, cada vez mais financiado por alternativas externas, como os fármacos por exemplo.

Apreciadores (3)
Comentários (1)
Postado 17/01/17 00:37

Esse nada me agrada! Hehehe :p

Rapaz, que desejo complicado, o dessa moça. Como pode? Heheeh. E de fato, ela procurou por algo que lhe oferecia o nada; o jeito mais fácil, provavelmente. Mas sabe, não vejo isso como um problema se feito esporadicamente; o bravo é fazer todos os dias, todos os momentos. Assim, desse modo, passa de ser uma escapatória para ser uma necessidade. Aí as coisas se confudem.

É como diz a frase: o que diferencia o remédio do veneno é a dose.

Gostei, Ana! É uma boa mensagem que o texto traz, algo que seria muito interessante discutir num bar, heheeh.

Parabéns! =D

Postado 22/01/17 11:17

Chico, Chico, admiro como você consegue praticamente resumir a essência do conto em um simples comentário. Concordo que nada existe de mal no "de vez em quando", afinal é uma alternativa muito presente em nosso cotidiano, e cá entre nós, um vinho (ou seja o que for) aqui acolá faz bem para o coração e inté pro tal de nada, não é?

Obrigada pelo comentário e leitura!

Abraços.