É errado... Muito errado?... Sim, totalmente errado! Em todos os aspectos possíveis. Então por que é tão bom? Por que eu não consigo parar? Não consigo fugir... Abandonar.
Seria eu o abandonado?
Eu o amo. Apenas isso deveria importar. Eu o odeio. É, definitivamente tem algo errado.
Estou preso. Ele me sequestrou; me aprisionou, mas a porta está aberta... Eu poderia sair a qualquer momento. Deveria ir? Não posso mover minhas pernas. Ele as quebrou: Uma marreta, um lance de escadas. Já se passou tanto tempo (quanto tempo?). Talvez elas já estejam curadas.
Não entendo como isso foi acontecer. Me apaixonei por um louco psicopata, ou seria eu o insano dessa relação? Sé é que posso chamar assim.
Completamente doente. Me bate. Me acaricia. Faz cortes em minha pele. Cuida dos meus machucados com carinho. Me obriga a cozinhar e limpar. Prepara um jantar perfeito. Me acorrenta no porão. Me carrega no colo até a cama.
Nos dias felizes a faca fica ao lado da cama por toda a noite, mas nos dias em que ele está triste, ela percorre cada lugar do meu corpo. Ainda consigo sentir alguns cortes formigarem. É errado, mas continua sendo tão bom.
Certa vez ele disse que o sangue humano era quente... Eu deveria experimentar. Talvez aproveitar um momento de distração e cravar a faca em seu pescoço. Sim, eu deveria fazer isso. Eu deveria me livrar dele... Eu ficaria sozinho. Não há para onde voltar. Quem iria cuidar de mim se eu o matasse? Não posso mais (sobre)viver sem ele. Seu corpo é tão quente e aconchegante que poderia viver grudado a ele para sempre.
Não irei morrer. Não irei matar. Irei amar, apenas amar e torcer para que os dias felizes durem a eternidade de um abraço e os tristes se esvaiam com a mesma intensidade que o sangue se vai de cada pequeno corte em meu corpo.