Deitada no entretom de escuridão e claridade,
Contemplo um arsenal de mistérios futurísticos,
Inspirações para histórias,
Ansiedades amorosas,
Respostas a desaforos,
E também, o vão aberto na janela.
Começo lentamente, a reparar
N o a r q u e e n t r a e n o q u e s a i
Tórax se E X P A N D E,
tórax se contrai
O ar que entra me torna pálida,
Marrom acinzentada
Uma carne mastigada com gosto de papelão
(coincidência ou não...rsrs)
O ar que sai pelos meus lábios
Leva consigo as frustrações diárias,
Só restou o real e o macabro dentro de mim
Minha pele está a mercê.
Começo a me p e r d e r...
Seco
água,
água,
que bonita palavra,
visão embaça
bolinhas verdes e lilases
e fiapos neons
Ainda estou respirando?
a r q u e e n t r...
Não posso mais respirar
Não consigo mais suportar
S u f o c a r
Boca aberta
A R Q U E E N T R A
A R Q U E S A I
Pele
Cheiro
Maciez contra as bochechas
As lágrimas de sono em meus olhos secaram
E a língua é seca e áspera em minha boca e garganta
O corpo pesado contra a cama
Tenta se aconchegar às colchas e travesseiros
E m v ã o.
É frio e é muito cedo
A mente quer repousar
Porém, o corpo ainda está quente
A d o r m e c e d e n o v o v a g a r o s a m e n t e
Entre o sono e a confusão
A realidade:
- Mera impressão.
E a boca começa a agir sozinha
A garganta tem aspecto de ralador
O corpo estático
Como tábua de passar roupa,
Grudado ao colchão como ciclete no asfalto
Os membros tremulando
De frio
Pescoço torto
L u Z q U e P i S c A
Frio nos joelhos
E nos cotovelos
Vontade de urinar
E então... O silêêêênciiiiio.
Algo faz aquilo despertar.
Seja a canseira
O corpo atravessado na cama
Ou traumas inimagináveis da infância
Meus dentes mordem a língua e a bochecha
Secas
Eles se travam e meus membros se encontram amarrados
Por forças invisíveis
Mexer-se, não adianta
Quanto mais ar entra pela minha boca,
Mais umidade falta-me para manter-me sã.
Começo a sufocar novamente
Contorcer-me como um bicho sendo queimado
Dentes rangendo,
Enroscados como ganchos
Os ossos todos começam a se abalar dentro de minha carne estufada.
C a l m a r i a ?
Ainda não.
Uma força que vem por debaixo do colchão,
Me compele rumo ao teto com brutalidade
Meu pescoço acerta a quina
Sou empurrada como se fosse um tronco de árvore
A tentar arrombar a entrada de uma muralha
Me asfixio enquanto meus olhos ardem.
Todo o corpo formiga
Mãos, pés, barriga, cabeça, lábios
Dormentes, aterrorizados
O AR QUE ENTRA!!!
Meu pescoço se enrola como um pano molhado
As pernas abertas
Meu braço passa por detrás da cabeça
E pende na nuca, como se suspenso
O l h o s m e o b s e r v a m
A m e d r o n t a d o s
- ME SALVEM!
Eu tento avisar antes mesmo de cair de cabeça
Imergida sou, em outro cenário
Penso estar acordada,
Bom engano.
As forças por debaixo da cama continuam me empurrando
Como se eu fosse um peixe sendo raptado do mar
Sou estrangulada assim que atravesso as primeiras camadas até a superfície
Tingida de cinza pelo forro do teto
Pelas telhas que quebrei com a coluna cervical
Pelos tijolos
Poeira e ratos
Chovem em meus lençóis
Meu corpo, com o pescoço quebrado atravessa o teto
Como se eu fosse o gás subindo pela boca da garrafa de soda
Cuspida rudemente para fora
E que noite bela;
Que luar lindo!
Está tudo calmo;
Já posso mexer os braços!
E meu coração se acalma;
Estou no telhado!
Contemplando a orgia de todos os gatos;
Em todas as casas...
E meu corpo tremula novamente...
E a força de braços transparentes, mas cinzas e putrefados
Me puxa pelo estômago
Me atira na cama
Que é tão elevada quanto uma montanha
E eu... Vejo todo quarto aqui de cima
É tão alto
Daqui até o chão
(menos de dois metros de altura)
Me agarro à madeira,
No babado do travesseiro
(que aparenta pesar três mil quilos)
Eu preciso gritar:
- AAAA - sai em vão
Meus dentes enganchados
É impossível proferir
"SOCORRO!" - droga! Foi apenas em pensamento,
Mal há forças em meus músculos para eu mexer os lábios
Eu posso vencer o pesadelo
E eu necessito acordar
"Deus está comigo..."
Minha cama desperta, roda, me coloca no lugar novamente
Coberta, pernas presas, estática
Olhando para o teto
Vozes feias
Palavras proibidas
Pensamentos indevidos
Tenho plena consciência de tudo isso
Enquanto vejo o quarto na perspectiva de um pião
"Deus está comigo!"
"Preciso acordar, é só uma canseira... Eu sempre me deito da maneira incorreta, só este e, outros trezentos fatores... Mas eu posso...! Eu tenho de relatar esta vivência passada dentro de minha própria mente. Preciso escrever...Eu vou me lembrar de tudo... Só preciso acordar. Sair deste breu, deste limbo, desta perseguição; Não deixar com que estas bilhares de mãos apertem meu pescoço e se cravem em minha carne..."
Acorde, acorde!
- Mãe, mãe... - primeira tentativa demasiadamente baixa.
- Mãe, m-m-ãe... - o que acontecerá quando eu morar sozinha?
Ficarei presa e consciente nestes arredores do inferno até o amanhecer?
É S Ó U M T E S T E
é s ó i r r e a l
Fraquejando, me levanto entre os escombros
Do que é real ou não,
Me vejo firme de frente, mas de cima, estou deitada imersa em medo
(Eu saí do corpo? Não, o cérebro é que apimenta mais o jogo)
De frente para a ossada do que foi meu quarto,
Entre o fogo e o bafo quente do pesadelo dolorido,
Agarro sem unhas, a cabeceira de madeira maciça
Encho as narinas entupidas de ar
Vozifero para o clarão:
S O C O R R E
S O C O R R E
Desta vez, ouviram.
Estou acordada?
Meu corpo ainda balança.
Um feixe de luz corta a escuridão
Renasço das cinzas do pesadelo sombrio...
E lá está meu quarto, meus móveis, meus pés
Meus pulmões...
Despertei, enfim.
Sobrevivi a alguns momentos,
Posso enfim permanecer novamente
Na parte mais rasa (e segura) do meu eu.