Ar que entra, ar que sai
6 de Janeiro
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 19/03/17 04:10
Editado: 30/07/20 17:46
Avaliação: 9.4
Tempo de Leitura: 6min a 8min
Apreciadores: 5
Comentários: 5
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Palavras: 1079
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Não recomendado para menores de doze anos
Notas de Cabeçalho

Hmmmm, não tem nada de zen aqui não. Sorry.

Ouçam uma música bem creepy para acompanhar.

Capítulo Único Ar que entra, ar que sai

Deitada no entretom de escuridão e claridade,

Contemplo um arsenal de mistérios futurísticos,

Inspirações para histórias,

Ansiedades amorosas,

Respostas a desaforos,

E também, o vão aberto na janela.

Começo lentamente, a reparar

N o a r q u e e n t r a e n o q u e s a i

Tórax se E X P A N D E,

tórax se contrai

O ar que entra me torna pálida,

Marrom acinzentada

Uma carne mastigada com gosto de papelão

(coincidência ou não...rsrs)

O ar que sai pelos meus lábios

Leva consigo as frustrações diárias,

Só restou o real e o macabro dentro de mim

Minha pele está a mercê.

Começo a me p e r d e r...

Seco

água,

água,

que bonita palavra,

visão embaça

bolinhas verdes e lilases

e fiapos neons

Ainda estou respirando?

a r q u e e n t r...

Não posso mais respirar

Não consigo mais suportar

S u f o c a r

Boca aberta

A R Q U E E N T R A

A R Q U E S A I

Pele

Cheiro

Maciez contra as bochechas

As lágrimas de sono em meus olhos secaram

E a língua é seca e áspera em minha boca e garganta

O corpo pesado contra a cama

Tenta se aconchegar às colchas e travesseiros

E m v ã o.

É frio e é muito cedo

A mente quer repousar

Porém, o corpo ainda está quente

A d o r m e c e d e n o v o v a g a r o s a m e n t e

Entre o sono e a confusão

A realidade:

- Mera impressão.

E a boca começa a agir sozinha

A garganta tem aspecto de ralador

O corpo estático

Como tábua de passar roupa,

Grudado ao colchão como ciclete no asfalto

Os membros tremulando

De frio

Pescoço torto

L u Z q U e P i S c A

Frio nos joelhos

E nos cotovelos

Vontade de urinar

E então... O silêêêênciiiiio.

Algo faz aquilo despertar.

Seja a canseira

O corpo atravessado na cama

Ou traumas inimagináveis da infância

Meus dentes mordem a língua e a bochecha

Secas

Eles se travam e meus membros se encontram amarrados

Por forças invisíveis

Mexer-se, não adianta

Quanto mais ar entra pela minha boca,

Mais umidade falta-me para manter-me sã.

Começo a sufocar novamente

Contorcer-me como um bicho sendo queimado

Dentes rangendo,

Enroscados como ganchos

Os ossos todos começam a se abalar dentro de minha carne estufada.

C a l m a r i a ?

Ainda não.

Uma força que vem por debaixo do colchão,

Me compele rumo ao teto com brutalidade

Meu pescoço acerta a quina

Sou empurrada como se fosse um tronco de árvore

A tentar arrombar a entrada de uma muralha

Me asfixio enquanto meus olhos ardem.

Todo o corpo formiga

Mãos, pés, barriga, cabeça, lábios

Dormentes, aterrorizados

O AR QUE ENTRA!!!

Meu pescoço se enrola como um pano molhado

As pernas abertas

Meu braço passa por detrás da cabeça

E pende na nuca, como se suspenso

O l h o s m e o b s e r v a m

A m e d r o n t a d o s

- ME SALVEM!

Eu tento avisar antes mesmo de cair de cabeça

Imergida sou, em outro cenário

Penso estar acordada,

Bom engano.

As forças por debaixo da cama continuam me empurrando

Como se eu fosse um peixe sendo raptado do mar

Sou estrangulada assim que atravesso as primeiras camadas até a superfície

Tingida de cinza pelo forro do teto

Pelas telhas que quebrei com a coluna cervical

Pelos tijolos

Poeira e ratos

Chovem em meus lençóis

Meu corpo, com o pescoço quebrado atravessa o teto

Como se eu fosse o gás subindo pela boca da garrafa de soda

Cuspida rudemente para fora

E que noite bela;

Que luar lindo!

Está tudo calmo;

Já posso mexer os braços!

E meu coração se acalma;

Estou no telhado!

Contemplando a orgia de todos os gatos;

Em todas as casas...

E meu corpo tremula novamente...

E a força de braços transparentes, mas cinzas e putrefados

Me puxa pelo estômago

Me atira na cama

Que é tão elevada quanto uma montanha

E eu... Vejo todo quarto aqui de cima

É tão alto

Daqui até o chão

(menos de dois metros de altura)

Me agarro à madeira,

No babado do travesseiro

(que aparenta pesar três mil quilos)

Eu preciso gritar:

- AAAA - sai em vão

Meus dentes enganchados

É impossível proferir

"SOCORRO!" - droga! Foi apenas em pensamento,

Mal há forças em meus músculos para eu mexer os lábios

Eu posso vencer o pesadelo

E eu necessito acordar

"Deus está comigo..."

Minha cama desperta, roda, me coloca no lugar novamente

Coberta, pernas presas, estática

Olhando para o teto

Vozes feias

Palavras proibidas

Pensamentos indevidos

Tenho plena consciência de tudo isso

Enquanto vejo o quarto na perspectiva de um pião

"Deus está comigo!"

"Preciso acordar, é só uma canseira... Eu sempre me deito da maneira incorreta, só este e, outros trezentos fatores... Mas eu posso...! Eu tenho de relatar esta vivência passada dentro de minha própria mente. Preciso escrever...Eu vou me lembrar de tudo... Só preciso acordar. Sair deste breu, deste limbo, desta perseguição; Não deixar com que estas bilhares de mãos apertem meu pescoço e se cravem em minha carne..."

Acorde, acorde!

- Mãe, mãe... - primeira tentativa demasiadamente baixa.

- Mãe, m-m-ãe... - o que acontecerá quando eu morar sozinha?

Ficarei presa e consciente nestes arredores do inferno até o amanhecer?

É S Ó U M T E S T E

é s ó i r r e a l

Fraquejando, me levanto entre os escombros

Do que é real ou não,

Me vejo firme de frente, mas de cima, estou deitada imersa em medo

(Eu saí do corpo? Não, o cérebro é que apimenta mais o jogo)

De frente para a ossada do que foi meu quarto,

Entre o fogo e o bafo quente do pesadelo dolorido,

Agarro sem unhas, a cabeceira de madeira maciça

Encho as narinas entupidas de ar

Vozifero para o clarão:

S O C O R R E

S O C O R R E

Desta vez, ouviram.

Estou acordada?

Meu corpo ainda balança.

Um feixe de luz corta a escuridão

Renasço das cinzas do pesadelo sombrio...

E lá está meu quarto, meus móveis, meus pés

Meus pulmões...

Despertei, enfim.

Sobrevivi a alguns momentos,

Posso enfim permanecer novamente

Na parte mais rasa (e segura) do meu eu.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Estou triste, pois eu tive este sonho há cinco horas atrás, e levantei de imediato e vim aqui escrever, mas a internet pifou, e perdi ele, tive de refazer, este eu diria, é uma versão do meu pesadelo 8/10. A primeira versão estava 10/10. Mas garanto, é totalmente autêntico, infelizmente.

Pode não parecer tão horrível para os senhores, mas eu sinto as sensações até agora (04h10 da manhã).

Obrigada por fazerem parte disto, obrigada por terem lido, se é que alguém leu, não sei, ainda não posso prever futuros.

Só acho que poderíamos fazer um torneio de contação de sonhos. Seria bem massa sim.

Já falei demais, socorro!

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Postado 25/05/18 03:02

Inicialmente, ao realizar uma leitura um pouco mais abstrata, tive um outro ponto de vista sobre toda situação descrita. O começo do poema me remeteu a tempos sombrios, onde meu único conforto se encontrava no desespero (sem exageros). A única coisa que me restava, era controlar o ar que entrava e saía, pois sobre o medo não há controle.

Quando a dimensão da obra se apronfundou e a atmosfera do terror se estabeleceu, ficou visível a natureza de um pesadelo na íntegra. Existem sentimentos que nos apavoram intensamente e é impossível que outras pessoas sintam/compreendam inteiramente, pois só quem vive, sabe o peso que o ocorrido tem. Lendo, já me senti aterrorizada, imagino tu que sonhou tudo isso.

Gostei desse vomitar acelerado do eu-poético. A estrutura também contribuiu muito para que essa ideia de muitos sentimentos e acontecimentos ocorrendo simultaneamente. Todo o manejo estrutural e semântico nos transporta para dentro deste pesadelo como meros espectadores, pois o único capaz de entender totalmente o que acontece, é somente e tão somente aquele que viveu.

Meus parabéns!

Postado 26/05/18 13:11 Editado 26/05/18 13:12

Agradeço tanto por este comentárip redigido com tanto amot, tato e qualidade! Somente uma escritora com talentos e sentimentos profundíssimos consegue compreender as sombras de outra se ver nestas mesmas sombras e conseguir tirar ua pitada de luz disso tudo.

Te agradeço, esse pesadelo foi deveras horrível mesmo, me lembro de tudo até hoje.

Pelo menos da dor, nós conseguimos tirar contos e poemas! <3

Postado 19/03/17 06:11

Srta Janeiro, eu sou seu fã número 666! Pelo sangue podre de Satã, que texto horrendo, surreal, espetacular foi esse?! A senhorita foi capaz de descrever um FUCKING pesadelo com uma miríade tão incrível de detalhes que pude imaginar e sentir muito de sua escabrosa experiência onírica! Que coisa louca! E esta estrutura? E este bailar tão único com a narrativa?! SATAN! És uma das autoras mais talentosas, surpreendentes e inspiradoras deste recinto!

Teu conto explêndido e tua sugestão nas Notas Finais são o sinal para eu postar uma velha obra minha... Muitíssimo obrigado por me deixar all fired up (como se isso não fosse algo constante) e receba meus mais sinceros, profundos e entusiasmados parabéns por mais esta obra-prima bizarra e tão bela quanto a senhorita!

Atenciosamente,

Um ser advindo de pesadelos, Diablair.

Ps: e pensar que havia a versão 10/10... Oh Hell... :/

Postado 19/03/17 18:22

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Pois poste seu texto de muitos tempos atrás, que eu quero lerrr! Te agradeço demais por todo o apoio, e acho que deveríamos sim, fazer uma contação de pesadelos, sonhos, experiências do tipo, tem um tempinho que venho pensando nisso. Tu também é um dos poucos autores aqui que me deixa all fired up! Me identifico DEMAIS com as coisas que tu escreve.

P.S: a versão 10/10 estava bem picuda do terror, quando é pra página atualizar, não atualiza, quando é pra ela ficar quieta, ferra com tudo. Mas é a vida! HAHAHA, já fico feliz por ter gostado desta! <3

Postado 21/03/17 00:41

Que belo sonho.

Gostaria que os meus fossem mais nítidos como os seus... Pena que ficam só no subconsciente mesmo, os melhores ficam lá.

Parabéns, até imaginei um pouco dos acontecimentos (só os que minha mente teve imaginação de criar, agora...).

<3

Postado 21/03/17 23:00

De belo num teve nada não hahahahahaha, foi terrível, mas pelo menos, bastou para me gerar uma obrinha. Cada vez mais eu encontro pessoas que não se lembram dos seus sonhos, não sei até que ponto isso é bom ou ruim.

As noites em que eu não me lembro dos meus sonhos, eu durmo perfeitamente, mas acordo sem a sensação de aventura ou mistério, porém, quando os tenho, são pesadelos, ou coisas insanas do gênero.

Obrigada, aliás, por ter lido khshaishiah <3

Postado 11/05/17 16:04

Muito intenso, sensacional que tu conseguiu retratar tudo aqui. Parabéns! <3

Postado 11/05/17 21:40

Aaaaaaa <3

Postado 11/07/18 12:53

Olha, eu tenho sonhos sinistros e tals, mas você me passou e muito nesse quesito. Eu tava aqui lembrando disso e, nossa! É muito intenso, meio assustador.... Não sei como descrever. x.x

Postado 11/07/18 23:47

Eu gostaria de poder escrever sobre todos os sonhos paralisantes e terríveis que eu tenho, espero que um dia seja possível, gostaria de ver os seus aqui também e... obrigada por estar aqui sempre aa ❤

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