Dizer adeus
Yvi
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 04/03/16 18:48
Editado: 17/04/21 11:55
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min
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Capítulo Único Dizer adeus

— Eu só preciso de um sinal, de qualquer sinal, Sofia. – Lucas pedia desesperado enquanto acariciava os cabelos de sua amada.

Sofia Miller estava em coma há pouco mais de quinze anos graças a um acidente de carro. Durante todo esse tempo Lucas estava ao seu lado, mas havia chegado a hora do adeus. Os aparelhos seriam desligados na manhã do dia vinte e seis de Abril.

Faltando apenas alguns minutos, o homem fazia seu último apelo, na esperança de que não precisasse desistir da sua amada Sofia.

— Sei que pode me ouvir, então diga alguma coisa antes que o pior aconteça. Sofia, você é a mulher que eu amo. Eu sempre vou te amar, não importa o que aconteça hoje. Por favor, não me deixe te dizer adeus. Vamos trocar essa despedida por um sorriso. O que me diz? — Chorava pesadamente debruçado sobre o corpo inerte da outra.

O hospital inteiro conhecia a história do homem que abandonou toda sua vida para cuidar de alguém que poderia nunca acordar. Com a noticia de que os aparelhos da mulher finalmente seriam desligados, alguns ficaram tristes e outros aliviados por saberem que Lucas não mais iria “perder sua vida”.

— Sofia, o doutor está aqui, ele vai desligar tudo daqui alguns segundos. Não deixe que ele faça isso. Dê algum sinal! Fale alguma coisa, por favor, eu te imploro. — Em desespero, Lucas tomou Sofia nos braços e começou a sacudi-la. Os enfermeiros tiveram que segurá-lo.

Todos já estavam em suas posições. O relógio marcava exatas dez horas quando o silêncio dominou o quarto. Nenhum aparelho era mais ouvido. Estava feito. Após quinze anos em estado vegetativo, Sofia Miller havia ganhado seu tão merecido descanso.

— Perdoe-me. Você é o meu amor e mesmo assim eu desisti de você. Eu fui fraco, não pude impedir e agora estou aqui, te dizendo adeus. — Uma lágrima caiu de seu rosto e escorreu pela bochecha da falecida. — Você está chorando? Está com raiva de mim? Desculpe, eu não posso te alcançar agora, tudo que posso fazer é dizer adeus. — Dito isso, enxugou suas lágrimas e foi embora sem olhar para trás.

❖❖❖
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Postado 06/03/16 17:02 Editado 06/03/16 17:03

Não importa a quantidade de vezes que me perco nesse mundo melancólico, eu sempre vou chorar, sempre vou odiar o Lucas por ter desistido, sempre vou odiar a Sofia por não ter forças o suficiente para reverter a sua situação, sempre vou odiar, mais do que tudo, a pessoa que causou esse coma vegetativo.

A dor é palpável do começo ao fim, tão presente e tão real que as minhas mãos coçam na vontade de abraçar esse homem que se dedicou há tanto tempo no intuito de lhe tirar um pouco a dor; estender os dedos e limpar suas lágrimas, dizendo que tudo ficará bem. Mas isso é totalmente impossível, uma que os personagens são fictícios, outra que a certeza que nada ficará bem é demasiada.

O amor de Lucas pela Sofia é notável, em cada palavra, em cada apelo, em cada desejo não contido. E sim, eu chorei, porque sou sensível pra caramba. Todavia, não tem como não chorar, não quando você está ante a uma história mágica e cruel. Mágica por nos fazer acreditar que ainda existe o amor, em sua mais pura forma, em seu mais intenso viver; e cruel por saber que apesar de toda a devoção de Lucas, de todo o seu amor que supera o limite do bom senso, não foi o bastante para vencer a morte. Não foi o suficiente para impedir que Sofia volte aos braços da eternidade.

E céus, ninguém sabe o quanto dessa vez (e das inúmeras outras vezes que li e reli esse texto), eu desejei um final diferente. Eu desejei trocar essa despedida por um sorriso. Mas a vida não é como queremos, nem na vida real, e nem na ficcional. Porque existe uma linha ampla entre desejar e concretizar.

Parabéns pelo texto, novamente! <3

Postado 11/03/16 21:13

"as minhas mãos coçam na vontade de abraçar esse homem[...]Mas isso é totalmente impossível "... Abraça eu então!!! Ah, isso pode até não ser impossível, mas está bem longe de acontecer!

E Céus, ninguém sabe o quanto dessa vez (e das inúmeas outras vezes) eu desejei um final diferente. Eu desejei trocar uma conversa por um abraço. (Ok, isso ficou bem estranho... #corre)

Agradeço pelo comentário, Gema linda que eu amo muito! <3

Postado 04/03/16 20:23

Nossa, que triste =/

Queria dizer algo mais, porém não consigo expressar -.-

Ainda to pensando nessa cena final =/

Muito bem escrito, parabéns.

Postado 04/03/16 20:24

Obrigada! <3

Postado 05/03/16 00:09

essa dor da perda é algo incalculável pra quem ama. triste, melancólico e real demais. parabéns

Postado 05/03/16 13:37

Obrigada!

Postado 12/03/16 05:20

SATÃ!

Que belíssimo conto temos aqui! Esta obra foi tão dramática, intensa, cruel e realista que me é impossível não reverenciar a autora pela criação de tão rico e sombrio texto.

Muito obrigado por nos brindar com esta preciosidade literária, Srta Flávia! Começar o dia lendo algo assim faz refletir o quão tênue e preciosa é a dádiva da saúde e da consciência. Gratíssimo.

Atenciosamente,

Um ser que se induz ao coma existencial, Diablair.

Postado 12/03/16 09:48

Dessa vez você se superou, Cuteblerie!

Agradeço por tudo!

Postado 14/03/16 13:51

Muito bom, como tem se tornado padrão nos seus textos :)

Postado 14/03/16 14:04

Obrigada, Alle !

Postado 29/03/16 20:11

Gosto desse tipo de final, realistico!

Postado 29/03/16 20:25

Obrigada!

Postado 11/04/16 14:23

Muito bem escrito, parabéns.

Postado 11/04/16 16:07

Obrigada!

Postado 27/09/16 17:41

Uau, eu nem sei o que dizer (até porque nada que eu diga expressaria o que eu gostaria). Isso foi incrível, desesperador, e, nossa, me abraça! \\o/

Postado 27/09/16 18:57

Muito obrigada! Abraço tudo! Vem k <3