Helena sentia que havia algo dentro de si que não estava bem,
Depois de tentar aquietar-se e olhar para dentro, conseguiu avistar no fundo de uma caixa velha e corrompida, seu juízo.
Alguns minutos observando, Helena reparou que o setor de análises estava abandonado. O juízo trabalhava exaustivamente, encaixando toda e qualquer opinião no setor de julgamento preestabelecido.
Observou que seu juízo havia entrado no modo automático, sobrecarregando seu cérebro, pois não conseguia assimilar tanta falta de assimilação.
Resolveu perguntar:
Que tipo de juízo é você?
Você não faz nada a não ser aceitar?
Não se expressa por que não pode?
Você se pergunta o porquê?
ou aceita sem saber?
Depois de perceber que estava sendo um tanto quanto abusiva, Helena resolve reduzir o tom e o ritmo de suas perguntas.
Seu juízo parecia não entender de onde vinha aquela voz, estava visivelmente atordoado.
Quando os ecos daquelas perguntas cessaram, o juízo voltou a sua função robotizada.
Aos poucos, Helena observava que ele se debatia.
Quando um pensamento resolveu cair da esteira de rolagem, o Juízo parou o maquinário e começou a tocar o chão como alguém que não tem visibilidade alguma.
Depois de muito tatear, encontrou o pensamento e recolocou-o na barra de rolagem.
Helena percebeu que o caso era bem pior do que imaginara de primeira viagem.
Resolveu fazer uso de sua voz novamente:
Juízo, pare um pouco. Me ouça. O que aconteceu contigo, está cego?
O juízo parou e sentou.
Estou.
Há cinco anos atrás eu ainda enxergava, minha função era estabelecer o que era certo e errado de acordo com meus arquivos históricos e minhas vivências. Era muito amigo da razão e inclusive da emoção.
Com o passar dos anos a goteira da falta de esperança começou a inundar o espaço. Não era mais o mesmo, pois toda vez que encaminhava um pensamento para o setor da dúvida e discórdia pacífica, recebia a raiva como resposta.
Com o tempo e o medo, o setor de questionamentos começou a decair e minha solução foi aceitar e encaminhar tudo para o setor de julgamento preestabelecido, já que esse era o único que aceitava todo e qualquer pensamento.
Restou o novo processo padrão, barato e rentável, da ideia preestabelecida. Não julgamos mais. Aceitamos. Pensar dói, se questionar machuca. Foi assim que nos ensinaram.
Assim continuamos vivendo e eu continuarei cego.