Dez anos de relacionamento é muito tempo. Veja bem, quanta coisa dá para fazer em dez anos? Posso pensar em várias. Desde graduar até ter filhos. Às vezes me pergunto por que diabos o Henrique não se casou comigo nesse tempo todo. Se eu já reclamei com ele? Com certeza. Desde os três anos de relacionamento! Ele sempre inventa uma forma de mudar de assunto, me distrair ou simplesmente ignorar. Nossa recente discussão foi por isso. Estou cansado de ser enrolado e ignorado! A pessoa ainda vem me chamar de exagerado e diminuir esses dez anos. São dez anos e não dez meses!
Ele ficou bem irritado hoje de manhã após discutirmos. Com suas passadas pesadas ele saiu de casa sem me dar o beijinho de sempre. Pude até ver uma fumaça sair de suas orelhas vermelhas. Agora já está na hora do almoço e ele sequer mandou mensagem. Parece que eu o aborreci de verdade... Talvez eu esteja exagerando mesmo... Vou pedir desculpas.
Faz dez minutos que ele visualizou. Bem, eu tenho certeza que ele está ocupado e não pode responder agora. Sim, é isso. Vou fazer outra coisa. Bem, tenho algumas tarefas da faculdade para... Opa, chegou mensagem! Que surpresa! Ser otimista é bom mesmo. Recebi um pedido de desculpas pela demora para responder e logo abaixo uma foto como explicação de tal atraso. Seria essa a melhor foto que eu poderia receber? Com certeza. Era uma selfie do Henrique tendo como fundo a joalheria mais famosa da nossa cidade.
Sim, ele vai! Ele vai! Mal pude responde-lo, pois meus olhos verteram lágrimas de pura emoção. Tenho certeza que ele vai escolher bem. Estou tão ansioso que mal consigo bloquear o celular. Não consigo fazer mais nada. Quero que ele chegue em casa logo. Como será que ele irá me pedir? No estilo tradicional? Irá ajoelhar e pedir? Oh, eu já posso ouvi-lo dizer: “Quer casar comigo?”. Talvez ele me leve para jantar! É isso! Vou escolher uma roupa. A melhor roupa que eu tiver!
Juntei minhas roupas emaranhadas sobre a cama e joguei-as para o alto freneticamente. Cadê aquele “blazerzinho” preto? Não, tem que ser menos social e mais despojado. Cadê aquela calça vinho... Outra mensagem! Ele disse que está com a caixinha do meu presente em mãos. Disse que será uma grande surpresa! Oh, meu deus! Não posso conter minha empolgação! Ele chegará em cerca de uma hora! Preciso ficar pronto!
Corri para o banheiro, abri meu melhor sabonete e fui me preparar. Vesti a melhor roupa e deixei um chá pronto sobre a mesa. Ele chegará logo. Meu deus, porque o ponteiro não corre mais rápido? A campainha tocou! Ele tocou a campainha da nossa própria casa? Ele quer me matar de expectativa! Tão romântico! Meus cantos da boca doem de tanto que eu sorrio.
Eu consigo ver! Eu consigo ver a caixinha em sua mão. Bem, na verdade é maior que uma caixa de alianças tradicional, mas o que isso importa? Pulei em seu pescoço e o beijei com paixão. Ele sorriu surpreso com a minha reação. Puxei-o para dentro e o servi o chá.
— Nossa, eu não esperava tudo isso! — Disse Henrique.
— Como não? Você sabe o quanto quero...
— Sei?
— Não se finge de bobo, Henrique!
— Bem, fico feliz. Eu sinceramente estava querendo pedir já faz um certo tempo. — Henrique coçou a cabeça sem graça.
— E por qual razão não pediu logo? — Júlio sentou perto.
— Ah, tive medo de você não gostar da ideia.
— Você é louco, Henrique? É o que mais quero! — Júlio beijou a bochecha de Henrique.
— Bem, sendo assim... Espero que você goste. Comprei na sua pedra favorita. — Henrique entregou a caixa para Júlio.
Júlio suspirou emocionado. Tanto tempo e tudo que ele mais queria estava em sua mão. Esperando para ser usado. Delicadamente abriu a caixa e retirou com carinho o fino tecido que envolvia a jóia.
— Henrique... eu...
— Você gostou?
— Eu estou… Eu estou louco? Que diabo é isso que estou vendo?
— Ué, é o plug. O que você achou que fosse?
— Então você foi na joalharia para comprar isso? — Júlio enfatizou a última palavra. — Um plug anal de rubi? Sério?
— Você gostou ou não? — Um longo silêncio permeou o local.
— Você é único mesmo. — Júlio beijou Henrique um tanto quanto frustrado.
— Não mais que você. — Henrique sorriu. — Quer casar comigo?