Esta curta história trata-se, em última análise, de um desperdício para quem procura por inícios, meios e fins, por superações edificantes ou mesmo por leve entretenimento. Falaremos sobre uma história real, vivida não só por uma pessoa, por um trabalhador em específico, mas sim, entretanto, por milhares deles.
É três horas da madrugada e num ímpeto ele acorda. Viver nunca foi tão difícil quanto de repente se tornou. Para dizer a verdade, é num ou noutro momento que a pessoa se dá conta do poço no qual, sem escapatória, repousa. Mas o que aconteceu exatamente? pergunta-se, sentado na mesa da cozinha. Distraído, acende um cigarro, esperando que da mesma forma que com a fumaça, o ar também se encarregue de levar a sua imensa dor.
Ele olha para a parede, e esta parece também observá-lo – e nisto entram os dois em um jogo. A parede se dissolve em imagens que formam um tipo de filme um tanto difuso, cujo conteúdo são as lembranças que possui, que ora são de passagens coloridas ora são de vultos que o trazem para dolorosos sentimentos que o sufocam.
Num piscar de olhos acaba com este jogo.
Apaga o cigarro. Levanta e anda desequilibrado, cambaleante, detém-se por um momento nas estantes para examinar sua coleção de canetas, teus poucos livros, suas fotos com recordações de uma época em que não precisava vender o seu conhecimento como mão de obra, duma época em que não precisava ensinar as pessoas que o único caminho a se tomar é manter o status da sociedade em que vive; duma época em que não tinha que vender o próprio pensamento, na qual não precisava ensinar o que não acreditava pela necessidade de sobreviver.
E de novo recupera a sonolência que o anestesia da sua rotina massacrante. Adormece sempre com o sonolento espectro do dia seguinte a perpassar, ainda que vagamente, por sua mente.