A porta rangeu por um segundo
Antes de ser arrancada do batente
Com dobradiças e tudo,
Anunciando o regresso iminente
De um ser maldito.
Aquilo a uma pessoa estava
Arrastando pelos cabelos
Enquanto um rastro rubro deixava
Durante o curto trajeto feito
À força pelo recinto.
A poeira se erguia
E se misturava com sangue,
Suor, lágrimas e saliva.
Gritos ecoaram a todo instante:
De nada adiantou.
Pedaços sanguinolentos
Entre golpes e gargalhadas
Espalharam-se pelo pavimento
Em uma maestria tão macabra...
Satã certamente elogiou.
O Mal em forma de gente
Relembrou de cada depravação
Ocorrida entre aquelas paredes
No silêncio, na escuridão,
Na solidão das madrugadas.
Com requintes de crueldade,
Com um sorriso no rosto,
Com o extremo da insanidade,
Todo ódio e sadismo eram poucos:
Mente e alma perturbadas.
Tantos atos hediondos
Foram ali executados!
Tantos prazeres inumanos
Naqueles cômodos realizados!
Malevolência ilimitada.
Porém, o Inferno um dia cobrou
O quinhão que lhe era devido
E então a carnificina cessou
Por um longo, longo período...
As trevas ficaram quietas.
Seu refúgio (e o de outros)
Acumulou vazio e decadência
Deteriorando-se aos poucos
Em uma provável referência
Ao fim da besta-fera.
Tudo estava tão abandonado
Imundo e sombrio
Quanto o coração necrosado
Do monstro ressurgido
Do Abismo onde estivera.
Mas, ainda era sua residência;
Aquele reduto profano
Onde urrava blasfêmias,
Praticava o desumano,
Amaldiçoava a própria Terra.
Com uma alegria doentia,
Percorreu os corredores até
Ficar perante uma placa que dizia
"Quarto 666 - Diablair":
Adentrou sem demora.
Banhado em todo aquele sangue,
Imerso em devassas emoções,
Abrindo os braços, triunfante,
Gritando a plenos pulmões
"Ave, Lúcifer! Estou de volta!"