No Controle
Yvi
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 10/09/17 22:03
Editado: 17/04/21 14:56
Gênero(s): Drama Terror ou Horror
Avaliação: 9.75
Tempo de Leitura: 3min a 4min
Apreciadores: 4
Comentários: 6
Total de Visualizações: 718
Usuários que Visualizaram: 9
Palavras: 487
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Não recomendado para menores de dezesseis anos
Capítulo Único No Controle

Eu me fiz maior que meu próprio corpo, me tornei mais fria que o inverno e muito mais cruel que meus terríveis demônios. Eu sou a personificação do seu medo. Pode ter certeza, você deveria estar assustado e implorando para que eu pare, mas eu não posso evitar essa energia terrível. Não estou mais no controle.

Eu sou como uma torturante doença mortal! Vou te quebrando aos poucos, tirando sua força, embaralhando sua vista e destruindo sua mente e não existe medicamento que possa me curar, pois eu sou a sombra que te persegue até mesmo no escuro de uma casa acordada onde os corredores ecoam o medo. Sou o mal que todos temem. Eu sou o bicho-papão que vai comer todas as criancinhas.

E elas gritam, esperneiam e fazem carinhas fofas na esperança de que eu tenha pena e reconsidere, mas eu não posso e não quero! Eu simplesmente não ligo. Que se fodam; se explodam; se despedacem; se liquefaçam! Eu não estou nem aí. Até mesmo os meus demônios não ousam me contrariar. Eu os assusto, os domino e os mastigo.

E o gosto de ferro permanece em minha boca. O coração inocente ainda ousa pulsar em minhas mãos. Os olhos arregalados e sem brilho continuam a me vigiar. Eles estão em toda parte, tentando não perder nenhum detalhe e gravando cada mínimo movimento. Eu os coloquei lá para que pudessem admirar minha arte, os coloquei por que gosto deles. Os olhos são os espelhos da alma e eu não poderia virar todos os reflexos ao contrário. Não! Eles devem ver, devem sofrer mesmo depois do fim.

Até as criaturas mais sombrias que habitam o meu subconsciente conturbado me observam em silêncio, vez ou outra implorando para que eu as transfira para um papel, assim libertando-as de mim e da minha Doença. Elas clamam pela imortalidade que eu não posso dar e até prometem que vão se comportar, mas nós sabemos que não é assim.

Se eu assusto, elas aterrorizam. Não posso deixar que fujam de mim e voem pelo mundo. Não posso deixar que façam o medo transbordar dos olhos de quem as encontrar. Eu não quero perder o prazer de massacrar almas puras, não quero deixar que as criaturas tomem o meu lugar. Se elas forem, eu sumirei. Perderei o controle!

Alguém, por favor, me diga quem está no comando. Eu posso controlar as criancinhas! Posso obrigá-las a me obedecer, a matar umas às outras e a comer seus dedos e roer os ossos, mas não estou no controle. Eu não sei mais o que está acontecendo. Me tornei maior que meu corpo, mais fria que o gelo e muito mais cruel que seus mais tenebrosos pesadelos. Não há ninguém para me ordenar... Ninguém pode me parar!

Ei, você, poderia me dizer quem está no controle antes que eu te desmembre e te faça de alimento para as minhas famintas e angelicais crianças?

❖❖❖
Apreciadores (4)
Comentários (6)
Postado 10/09/17 22:09

Sou capaz de jurar q li algo parecido em algum lugar...

Anyway, bem escrito, como sempre. Bem focado nos sentimentos sendo extravasados. Pobres crianças, levadas à perdição enquanto são enganadas por uma angelical face que esconde uma "loba-má" em vias de perder a sanidade... tsctsctsc

Parabéns por mais um texto, minha anjinha.

P. S.: Sobre estar no controle... conversamos depois :*

Postado 10/09/17 22:14

Bom, foi baseado em uma música... '-'

Obrigada!

P.S: ¬¬

Postado 10/09/17 23:31

Sempre, na grande maioria das suas obras, o eu-lírico/narrador tem algum conflito interior que não consegue dar conta; que sempre gera em seu âmago algum tipo de duvida. Ele sempre vive entra a linha da sanidade angelical e insanidade brutal. O famoso 8 ou 80. Gosto de ler suas obras justamente por isso. Mostrar os dois extremos de uma situação e senti-los não deve ser algo fácil, porém entendo. Afinal, eu sou tripolar (por algum motivo, sinto que meu trono está quase sendo usurpado. Devo me preocupar?! KKKKKK).

A agonia do narrador é insana, mas ao mesmo tempo, me soa como um pedido de socorro. É como se para cada clamor por ajuda, existisse uma faca nas costas de quem ousasse ouvir. Por isso, torna-se árduo não perder o controle.

Parabéns pela obra, Flávia das Facas. Espero que nunca perca o controle conosco aqui, pelo amor dos deuses!

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Postado 11/09/17 16:44

kkkkkkkkkk Seu trono será meu!!! *risada malígna* (ok, parei.)

Obrigada!

Postado 09/12/17 23:56

Se uma entidade macabra como essa perde o controle das coisas, acho que tudo bem eu, mero mortal sem muito propósito, perder o controle das minhas pequenas causas!

Gostei muito da narrativa, e de imaginar esse ser abissal e sem misericórdia!

Postado 10/12/17 00:02

Tudo de boa!

Que bom que gostou!

Obrigada. :)

Postado 03/01/18 03:03

Mais uma obra que me devorou e regorgitou.

Magnífica! Mesmo!

Estou até sem palavras como pode perceber, logo eu que sou a fundadora dos textões de internet, enfim, parabéns por mais uma obra que vai me deixar refletindo no cantinho do castigo por um bom tempo!

Postado 04/01/18 23:26

Muito obrigada! <3

Postado 25/02/18 10:33

Magnífico como sempre, vindo de ti, Yvi <3

Por favor, continue assim <3

Postado 01/03/18 16:25

Obrigada!

Postado 04/10/20 16:18

O monstro que carregamos dentro de nós é até certo ponto controlável, todavia, ele vai se alimentando dos nossos erros, receios e medos, tornando-se forte às nossas custas, para depois emergir da escuridão e começar o caos.

Gostei da maneira como foi feito a narrativa, como se algo estivesse sussurrando e nos contando como se tornou maléfico; o prazer de ceifar uma vida inocente.

Parabéns, Gema ♡

Postado 04/10/20 18:52

Muito obrigada, Pami! <3