Rosas de Ferro
Calígula
Tipo: Lírico
Postado: 15/11/17 22:38
Gênero(s): Poema
Avaliação: 9.9
Tempo de Leitura: 1min
Apreciadores: 7
Comentários: 7
Total de Visualizações: 821
Usuários que Visualizaram: 10
Palavras: 167
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Não recomendado para menores de dezoito anos
Capítulo Único Rosas de Ferro

Meti-me a protestar contra mim mesmo;

vi-me diante de um espelho coberto em esterco,

urinando em minhas próprias pernas,

uma mão arranhando o mundo

e outra masturbando o que sobrou de mim.

Havia-me prometido algo melhor que isso.

Provei lentamente os segmentos anelados daquele verme gordo:

ele desceu pastoso em minha garganta

e estourou em meu esôfago.

Eu era tão inchado quando ele,

antes;

era tão orgulhoso

que poderia esmagar o mundo

com uma mera bolha infecionada das tantas em minhas tripas.

Minhas sementes brancas escorriam e matavam.

Plantei rosas de ferro

para poder me espetar,

banhar-me em seu veneno enferrujado.

Não existe uma parte de mim que não tenha sido violada por meus desejos;

quero ser limpo,

quero ser morto,

empalado em um roseiral de ferrugem

e vômito.

Deixei crescer as vinhas

que não eram mais de coisa nenhuma.

A única coisa que podei foi a mim,

enquanto me olhava,

enquanto me odiava,

enquanto pensava em como ainda poderia piorar.

Algumas coisas nunca mudam.

❖❖❖
Apreciadores (7)
Comentários (7)
Postado 15/11/17 23:06

Estou boquiaberta, pasma e triste, por me ver tão bem pincelada nessa sua obra. Cada palavra, sentimento e textura... Tudo muito familiar, o espelho com esterco então?

Todos os dias.

Talvez eu nunca tenha me sentido inteiramente limpa, mas, tenho certeza que tanto eu, como o eu-lírico desta obra sensacional, somos muito duros e rudes com nós mesmos, por detrás da urina, do esterco e do gozo triste, há apenas um rosto, que carrega visões do mundo inteiro, um rosto que só quer ser beijado, ou conhecido, ou aliviado, de alguma forma.

Ao ler sua obra, meu sentimento inquietante de vazio, até se tornou mais agradável - é mesmo um prazer e uma admiração doentia se sentir "melhor" por ver que a destruição não pertence apenas a você mesmo.

Meus pêsames pelo eu-lírico, e pelas rosas que o espetam, e meus pêsames por mim, já que só me resta isso.

Extraodinário, parabéns de verdade, nunca imaginei que leria algo genuinamente sombrio e tão próximo de mim nesta noite.

Não sei mais o que dizer, só queria poder "dizer" algo, mas toda a sua obra me deixou sem palavras, de qualquer forma, a alma sabe mais.

Parabéns e mil obrigados por este texto.

Postado 16/11/17 04:37

Eu a beijaria, conheceria e quiçá canibalizaria inteira se pudesse, Srta Janeiro. Saiba/Lembre-se disso, pois estamos no mesmo maldito e apodrecido barco...

Postado 17/11/17 14:01

Eu sempre senti essas mesmas coisas lendo teus poemas, Janeiro. Fico grato que tenha conseguido te passar a náusea. Compartilhar o que temos de pior acaba sendo uma das melhores sensações, estranhamente; ainda mais quando alguém verdadeiramente entende.

Obrigado, mais que obrigado.

Postado 17/11/17 14:30

Vamos os três escrever juntinhos, na náusea, na dor e na complexidade da vida.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Postado 16/11/17 04:45 Editado 16/11/17 05:09

Mestre/Irmão... Como diabos faz isso? Sou obrigado a fazer do comentária da Srta Janeiro o meu, pois ele sintetiza real e completamente o que senti... O que revivi (e ainda vivo) ao ler esta obra miserável (no sentido essencial, claro, pois a qualidade e valor dela para mim é inexprimível).

Estamos juntos nessa, Mestre/Irmão. Em cada desgraçado detalhe.

Mais um excelente, pesado e pesaroso trabalho como só o senhor poderia nos prover... Gratíssimo e parabéns!

Atenciosamente,

Um ser que se masturba sentindo-se por dentro como fezes de um idoso, Diablair.

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Ps: ela com certeza amaria esta linhas.

Postado 17/11/17 14:07

Estamos nesse mesmo barco que não leva a lugar nenhum. Não há muito que possamos fazer a não ser vomitar, para esperar que o mal passe, ou para nos ajudar a morrer de uma vez de inanição.

Obrigado por estar aqui, irmão.

(Você acha? Eu gosto de pensar que ela leu, que achou uma merda e começou a me xingar. Não creio que mereço mais que isso. Mas... enfim, o julgamento dela é o que importa, e disso nada posso saber.)

Postado 08/01/18 17:59

A dificuldade que eu sinto em comentar os seus textos é gigantesca, mas dessa vez eu senti que deveria ao menos tentar alguma coisa.

Não sei bem como explicar o que senti, mas foi algo tão forte e verdadeiro que me impressionou. Acho que é como a 6 falou, é tudo muito familiar. Como se fosse vivido e não apenas lido. (Ou algo assim... x.x)

Sério, parabéns!!

Postado 09/01/18 16:42

Eu agraceço imensamente o teu esforço, e me alegra muito saber que gostou tanto assim.

Postado 10/01/18 22:58

Os versos transbordam uma melancolia exorbitante, quase gritante. Visualizei cada situação descrita, senti na pele a angústia do eu-lírico e terminei a leitura com um gosto amargo nos lábios; um gosto que conheço tão bem: o da dor.

Meus parabéns ❤

Postado 11/01/18 16:22

Esses eram meus objetivos.

Muito obrigado por ler, Sabrina.

Postado 03/03/18 11:01

O sentimento que colocas no poema é palpável, dá para sentir cada emoção completamente, a melancolia, o talvez desespero, deu-me uma ideia de algo querer sair da rotina indicada pelo final.

Bem interessante, parabéns <3

Postado 21/10/18 21:30

Senti muito e senti nada, o que pensar? Quando o estilo de rimas que mais amo está espalhado por toda a obra?

A pertubada ideia do poema para expressar os sentimentos e/ou desejos (e)levaram minha criatividade a loucura e eu, sinceramente, agradeço.

Agradeço por compartilhar sua obra e parabenizo-o por tão bela obra.

<3

Postado 06/08/20 22:28

Adorei a forma explícita e vulgar de escrita, expressa de forma incrível o sentimento do eu lírico. Sensacional, meus parabéns!!!

Abraços