Eu vi impotente enquanto cada fragmento deste mundo desmoronava,
um reino lamacento de enganos meus, alheios, próprios ou impróprios,
império feito em espuma vermicida, corrompendo-me e diluindo o que mais fosse,
indiferentemente batido, indiferentemente arruinado: contorcido em si até o próprio aborto.
Eram cristais enegrecidos que refletiam um sol morto; restos empilhados, cadáveres,
partículas de coisa nenhuma a brilharem com minha desgraça, meu além,
expandirem a dor daquilo que era, daquilo que fazia,
daquilo que horas após horas dependia de mim para ser arruinado:
meu trono no topo da colina de imundícies,
minha coroa feita em espinhos de ferrugem e osso,
meu domínio de cicios resignados, confianças abandonadas,
cada companheiro traído, morto, agarrado a meus pés de barro…
Não lembro se estava de corpo inteiro atolado na areia incolor, imóvel,
ou se decaído ao lado de tudo o mais que ainda podia lamentar;
apenas sei que vi minhas vergonhas e meus suplícios,
meus demônios amados, carrascos adorados…
sei que observei enquanto o dia transmutava em cinzas,
e as cinzas queimavam de tão gélidas, tão desintegradas:
sei que o pouco que possuía, meu lar de podridão, julgou-me indigno,
sei que permaneci onde agora já nada restava,
e aqui ainda estou.