As pessoas constantemente nos olham, com olhares silenciosamente penetrantes, com um ar de repulsa, de julgamento, ou de estranheza. Como se não fôssemos normais, como se não pudéssemos pertencer àquele ciclo de convivência, por sermos diferentes, por sermos quem somos.
Por termos gostos distintos, e por fazermos nossas próprias escolhas
Por milésimos de segundos ao me olharem, eu sinto um aperto no peito, e coloco minha mão sobre ele. Respiro fundo, na tentativa de ignorar a situação, e literalmente, dar um passo adiante, nessa estrada, nesse caminho cheio de gente que me deixam desconfortável.
Antes de partir, olho uma última vez as faces das pessoas, e desta vez, sou eu quem as encaro. A minha vontade é de lhes dizer, alto e claro: “Não me olhe dessa maneira”
Segundos depois, quando já estou a fazer o meu caminho de volta para casa e “sozinha”, livre da multidão inicial, minha mente me prega uma peça, e eu me pego pensando:
O que há de errado em mim? O que há de estranho em mim?
O que há de errado com meus amigos e com as pessoas ao redor?
Gênero, orientação sexual, etnia, status social, fama, necessidades especiais, padrões e estereótipos sociais. O que tudo isso significa para os que me cercam? De que isso importa a ponto de me lançarem olhares tortos?
Por que não arriscar... Por que não me aceitar?
Diga-me... O que há de errado
Diga-me... O que é o amor.
O que é o amor, senão os laços afetivos que temos com determinada pessoa?
Nós nos amamos, e é isso que importa.
Não... Acima de tudo, eu me amo
Eu sei das escolhas que fiz, de quem eu decidi amar até o final, assim como a mim mesma, e conheço os meus motivos para isso, ainda que não possa “escolher” quem está me cercando a cada dia
Rostos desconhecidos e anônimos, ou conhecidos e familiares.
Todos me olham como bem querem, principalmente os primeiros, sem nem se darem conta do que suas expressões refletem
Por isso agora, é a minha vez de lhes dizer:
Não me olhe dessa maneira
Não nos olhe dessa maneira.
Apenas nos deixem em paz.