Callidora (Em Andamento)
vhladrac
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 21/02/20 17:17
Editado: 26/12/21 01:10
Qtd. de Capítulos: 13
Cap. Postado: 09/07/20 02:39
Cap. Editado: 03/11/20 01:22
Avaliação: 9.76
Tempo de Leitura: 22min a 29min
Apreciadores: 1
Comentários: 1
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Palavras: 3550
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Não recomendado para menores de dezesseis anos
Callidora

Esta obra participou do Evento Academia de Ouro 2020, ganhando na categoria Romance ou Novela.
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Notas de Cabeçalho

Oi gente, trago aqui essa história que eu havia ocultado por um tempo, mas decidi voltar.

Espero que vocês gostem! Obrigada! Boa leitura!

Capítulo III O Rei perplexo compõe Aleluia

Uma fraca luz do sol entrou pela janela do meu quarto naquela manhã, aquecendo meu rosto e fazendo com que eu despertasse. A dor em meu tornozelo se fez presente novamente assim que movi minhas pernas para colocá-las no chão e minha cabeça estava a ponto de explodir. Me levantei com dificuldade e andei do mesmo modo até o banheiro, que ficava no final do corredor. O dia estava mais silencioso do que o comum, havia apenas três garotas além de mim se banhando e a irmã Cosmina estava sentada na cadeira acolchoada deixada lá para os vigilantes lendo um livro. Devido ao caminhar estranho, a freira moveu seus olhos para mim, medindo cada movimento que eu fazia e me surpreendendo por me notar.

– O que aconteceu? – ela perguntou deixando o livro de lado e caminhando até onde eu estava.

– Eu caí nas escadarias enquanto voltava para o meu dormitório – respondi baixo, sem encará-la.

– É o preço que se paga por sair escondido do Salão Principal, a Irmã Soare já foi avisada, não ache que sairá impune – respondeu caminhando até um dos tambores e colocando a água que era esquentada na caldeira no mesmo. – Venha, irei fazer uma compressa, entre na banheira enquanto eu busco a água fria no poço – disse e saiu.

Tirar a longa camisola branca me equilibrando em um pé só foi um sacrifício, mas logo foi compensado quando senti a água quente abraçar meu corpo e me relaxar levemente. Eu fechei os olhos dando um longo suspiro e logo depois ouvi a cortina que ficava envolta da banheira ser fechada.

– Quantas vezes temos que falar para você fechar as cortinas? Ninguém aqui é interessado em sua nudez – disse Soare, que entrara no banheiro junto da Irmã Georgeta. – Deixe-me ver. Jesus, o rosto roxo e o tornozelo está inchado – pediu colocando a mão direita na água e puxando minha perna para cima, me fazendo prender um gemido de dor na garganta. – Consegue mexer? – perguntou e eu assenti.

– Dói quando mexo – respondi arfando quando meu pé foi mergulhado na água extremamente gelada dentro do balde.

– Pare com isso, por mais que seja totalmente contra a minha vontade, teremos que chamar o Doutor Othrepluza. Por que você tem que fazer esse tipo de coisa, Callidora? O Padre Fierar e virá nos visitar hoje para irmos na Igreja do centro ver a missa e o coral de natal, espero que isso já tenha se resolvido até lá. Junte suas coisas, você volta para o andar inferior ainda hoje – disse Soare pegando uma toalha de dentro do armário de madeira e a estendendo para mim. – Se vista e vá tomar seu café da manhã, aguarde o doutor na sala de espera. Irmã Georgeta, a ajude, por favor.

Aquela manhã foi lenta, Georgeta ficou ao meu lado até a hora em que eu fui para a sala de espera e rezei para que o doutor chegasse o mais rápido possível. Era véspera de natal e eu não me lembrava, naquela altura, era irrelevante para mim; mas fui aguçada pela ideia de deixar aquele lugar e, talvez, nunca mais retornar. Enquanto aguardava, tomei coragem para encarar a dor de Ileana e comecei a folhear o pequeno livro preto de suas anotações, passando por desenhos e textos que, em sua maioria, relatavam a crueldade que era feita com ela durante toda sua estadia no Moș Maria.

A Irmã Soare disse que hoje eu receberia a visita do Padre Fierar para mais uma tentativa de exorcismo. Todos dizem que ele é um homem sensível e de bom coração, ele ficará aqui por três semanas.”

Ontem o Padre Fierar disse que queria me observar enquanto dormia para ver como os demônios se manifestavam, pediu para que me amarrassem na cama e foi muito difícil dormir daquele jeito. Me lembro de acordar paralisada pela segunda vez nessa semana, ele me observou enquanto sussurrava algumas palavras em latim, mas isso não teve efeito algum, acordei depois de mais ou menos dois minutos. A Irmã Soare permitiu que o Padre Fierar cortasse meu cabelo como punição por não ter sido forte o suficiente à duas noites atrás. Não é a primeira vez que ela deixa com que terceiros tomem medidas desse nível comigo.”

Ontem acordei com o Padre no meu quarto, sentando na poltrona que fica na frente da minha cama e me encarando. Ele disse que eu parecia um dos meninos do coral, que meus traços eram mais masculinos do que femininos e que eu era claramente concebida de um pecado. Ele me ameaçou ao subir na cama, disse que terminaria o castigo de Deus e cortaria minha língua caso eu contasse para alguém o que estava prestes a acontecer. Se as irmãs descobrirem me castigariam de maneiras que nem quero imaginar. Me sinto suja, não consigo olhar para meu próprio corpo mais e sinto muita dor, achei que um banho na banheira quente me ajudaria mas a Irmã Soare disse que ímpios não podiam se banhar nela.”

Querido Deus, peço perdão pelos pecados que cometi. Peço que tenha misericórdia de minha alma e que faça isso acabar logo. Não sei o que fiz para que isso acontecesse, mas peço que pare, por favor.”

Eu parei de ler naquele momento, sem conseguir expressar reação alguma. Minha respiração estava pesada e parecia que tudo ao meu redor havia desaparecido, só havia eu e minha tamanha indignação. Eu me toquei que o que eu sabia de Ileana era uma pequena ponta de um imenso iceberg, ela havia sido estuprada, ameaçada, torturada e tratada como um objeto qualquer. Ele a comparou com garotos do coral, então ele fazia aquilo com pequenos garotos também. O hábito se tornou extremamente quente e meu estômago estava embrulhado, o que fez com que eu mancasse até o banheiro da sala de espera e me ajoelhasse na frente da privada, deixando ali todo o meu café da manhã e colocando a mão sobre a boca com indignação, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. Eu tentava controlar a respiração, mas me perdia a cada tentativa.

– Callidora? – ouvi a voz da Irmã Georgeta.

– Já irei sair – respondi o mais alto que pude, me equilibrando e indo até a pia para lavar a boca e o rosto.

– Não pode usar esse banheiro! – ela disse brava assim que abri a porta, dando de cara com minha feição pálida. – Você está bem?

– Acho que seria bom se pudessem me levar para um hospital, Irmã – respondi em um tom baixo, indo lentamente até o sofá e pegando o pequeno caderno, escondendo-o atrás de meu corpo.

– Só seria levada ao hospital se fosse algo muito grave, febre muito alta, uma fratura, algum machucado muito grave ou algo do tipo. O Doutor Tepes está em outra cidade, acredito que ele mandará Dragos para analisar sua situação – ela disse e eu franzi o cenho confusa, Dragos? – Ele é filho do Doutor, estava na Transilvânia estudando medicina na escola do pai – ela explicou. Ileana tinha um irmão se formando em medicina e ele nunca se importou em analisar o caso da garota? Na verdade, não havia motivos para minha surpresa uma vez que ele escondeu sua existência durante toda a vida da irmã.– É provável que ele chegue daqui algumas horas, terá que esperar mais um pouco.

Assim que ela saiu, eu decidi caminhar até meu quarto, com passos lentos e minha cabeça avoada; eu precisava sair daquele lugar o mais rápido possível. Quando estava próxima à escadaria, um pensamento passou por minha cabeça e fez com que eu paralisasse onde estava.

O Padre Fierar irá nos visitar hoje...”

Sentindo a dor em meu tornozelo aumentar e a ignorando por completo, eu corri até meu quarto, batendo a porta com força e chorando novamente. Aquilo era uma tortura. Coloquei o pequeno caderno embaixo do colchão e me sentei no chão, apoiando as costas na cama para ouvir uma suave batida em minha porta.

– Callidora, o Padre Fierar acabou de chegar, venha para o Salão Principal o mais rápido possível – ouvi a voz de Soare do outro lado e me levantei rapidamente, mancando até a porta.

– Achei que eu ficaria aqui esperando o doutor.

– Não falte com respeito com o Padre, esteja no salão em menos de cinco minutos – disse e eu ouvi os passos enquanto ela se afastava.

O salão estava cheio, todas as feiras do convento estavam reunidas ali, fazendo uma fila para beijar a mão do estuprador. Eu me sentei no fundo, dando o meu máximo para não ser notada mas acredito que a ira que eu emanava era suficiente, uma vez que ao passar os olhos pelo salão, ele me encarou por alguns segundos.

– Boa tarde, minhas irmãs – ele disse, vendo todas responderem como um coral. – O Senhor esteja convosco.

– Ele está no meio de nós – todas responderam e eu olhei todo o salão com indignação, cruzando os braços em seguida.

– É com muito orgulho em meu coração que eu anúncio que nossos amados corais se apresentarão amanha na igreja principal que dá nome ao vosso convento, Santa Maria, na missa de natal que será apresentada por mim – disse e foi aplaudido. – Gostaria de prestar aqui uma singela homenagem à jovem Ileana, que faleceu há dois meses. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor – eu franzi o cenho desgostosa com tamanha hipocrisia e estava pronta para me levantar e sair daquele lugar tóxico, quando a porta do salão fora aberta de maneira bruta, fazendo com que todos olhassem e Fierar parasse sua fala ridícula.

– Perdoe-me por atrapalhá-las, irmãs – disse Dragos caminhando em minha direção. – Mas preciso retirar Callidora Del Arcano para cuidados médicos.

– Acredito que ela possa aguentar até o final, não é, irmã? – disse Soare caminhando em direção à ele.

– Deixe a pobre criança, Irmã Soare – ouvi a voz de Fierar no altar. – Por favor, cuide bem de nossa garota – pediu sem receber uma resposta.

Soare se sentou e Dragos me ajudou a caminhar para fora daquele pedaço do inferno. Ele me levou até meu quarto em silêncio e quando chegamos pediu para que eu esperasse enquanto ele pegava sua maleta de instrumentos.

– Obrigada – eu disse baixo quando o vi entrar e fechar a porta. – Por ter me tirado de lá.

– Fierar é o padre mais querido da igreja, achei que se sentiria ofendida quando eu a tirasse de lá – ele não sabia. – O que aconteceu aí? – perguntou sem me dar chance de respondeu seu comentário anterior, apontando para meu tornozelo. Eu ergui um pouco os tecidos do hábito, mostrando o estrago que havia feito. – Foi uma bela queda, não? Isso vai doer um pouco – me avisou antes de tocar a área machucada com as mãos frias, girando meu pé e me fazendo arfar como resposta. – Não foi nada muito grave, mas vou ter que imobilizar, você vai ter que poupar esforços durante essa semana – disse sério, caminhando até a maleta e pegando um rolo de faixa. – Como você caiu? Conseguiu machucar até o rosto.

– Preciso te mostrar uma coisa – disse o atropelando nas palavras e puxando o pequeno caderno debaixo do colchão, vendo o olhar surpreso que me fora lançado. – Estava comigo o tempo todo.

– Por que não me entregou quando eu pedi?

– Porque eu não quis. Não achei que devesse.

– E o que lhe fez mudar de ideia? – ele perguntou pegando o caderno aberto nas páginas que eu havia lido mais cedo.

Ele ficou cerca de um minuto lendo as páginas, foi o minuto em que meu coração batia tão forte que eu mal o sentia no peito. Eu não sabia se estava fazendo o certo mas sabia que se havia alguém que poderia vingar Ileana, esse alguém era Dragos, se ele realmente quisesse fazer algo pela irmã uma vez em sua vida. Eu observei sua respiração pesar e seus dedos ficaram brancos com a pressão que ele passou a colocar enquanto segurava o pequeno caderno.

– Você poderia me tirar daqui, por favor – pedi sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

– Quando você leu isso? – ele perguntou com uma voz baixa e rouca, fechando o caderno com força e o jogando em cima da cama, me encarando com fúria.

– Hoje, enquanto o aguardava na sala de espera – respondi como se estivesse num piloto automático. – Eu sinto muito, ela nunca me contou sobre isso. Eu queria poder ter feito algo.

– Ele… eu não acredito – inquiriu em um tom mais alto, passando as mãos pelos longos fios loiros.

– Acho que ele também faz com as crianças do coral – eu disse baixo, encolhendo meu corpo como resposta à sua fúria. – Eu não sabia, ela nunca me disse. Por que ela nunca me disse? Eu poderia ter feito alguma coisa.

– Ela estava com medo, envergonhada – sussurrou mais para si do que para mim. – Como não estaria? É só isso que esse lugar faz com as pessoas.

– Me tire daqui – pedi novamente, com medo de que ele optasse por me deixar apodrecer naquele lugar, me levantando e caminhando até ele. – Por favor, eu não sei o que fazer.

– Não é tão fácil assim, não posso simplesmente te colocar na droga da carruagem e ir embora – disse se virando de costas.

– Pode se eu estiver com algo sério – respondi puxando seu braço para que me olhasse. – Por favor.

Ele nada disse, apenas andou para fora do quarto e sumiu no grande corredor. Meu desespero aumentou e meu corpo produziu mais adrenalina do que nunca, mas nada disso foi suficiente para que eu desistisse de sair daquele lugar. Decidida, caminhei até o andar superior, onde ficavam os dormitórios das Madres; caminhando até o parapeito da escada, usando a pouca força e a coragem que tinha para passar a perna lesionada para o outro lado, fazendo o mesmo com a outra. A queda não seria suficiente para me matar – segundo as teorias de minha cabeça – e o máximo que poderia acontecer era uma batida forte de cabeça e um desmaio – também segundo as teorias de minha cabeça – e então, rumo à minha tentativa de liberdade, ou ao real inferno, deixei meu corpo cair e fechei os olhos, esperando o desmaio.

Infelizmente, eu fiquei consciente o suficiente para sentir uma imensa dor nas costas e quase agonizei quando senti a real dor em meu tornozelo. Soltei um alto gemido de dor, tentando me sentar e falhando; movi a cabeça para tentar ver além da visão turva e consegui ver meu pé em uma posição estranha, mas logo voltei a cabeça para o chão e voltei a chorar de dor. Liguei os pontos e entendi que ninguém viria naquele momento, pois todos estavam no show de horrores de Fierar. Eu rastejei até um pequeno sofá e me sentei no mesmo, tomando um tempo para respirar e voltar para minha consciência. Caminhei apoiada na parede tirando as lágrimas de meu rosto para que conseguisse enxergar melhor, acabei tropeçando nos mesmos pequenos degraus que me levavam para o meu quarto, arfando de dor novamente e rezando para que eu chegasse o mais rápido possível em meu quarto.

– O que aconteceu com você? – ouvi a voz de Dragos atrás de mim e senti meu corpo ser levantado e fui levada até meu dormitório. – O que você fez?

– Eu caí – respondi sentindo ele me deitar na cama enquanto parecia estar delirando.

– A verdade – ele falou puxando minha perna e colocando o pé no lugar sem me avisar, me fazendo soltar um grito e levar minha outra perna para chutar seu ombro. – Calma! – pediu colocando minha perna na cama e caminhando até a maleta. – Não tem o que fazer, você vai ter que ir para um hospital – ele disse baixo. – Vou falar com Soare, não faça nenhuma loucura enquanto isso.

– Não sinto meu pé – eu disse em meio aos delírios de dor.

– Me surpreenderia se sentisse.

Após ele sair do quarto, eu passei a mão pela testa suada e dei um longo suspiro, sentindo minha perna latejar com tamanha dor. Ergui a cabeça ao ouvir a porta do quarto e vi Fierar entrar com um olhar curioso.

– O que aconteceu, criança? – ele perguntou fazendo menção de tocar minha perna.

– Saia de perto de mim – eu gritei me sentando na cama em recuo, reclamando de dor em seguida. – O que você está fazendo aqui?

– Callidora, tenha mais respeito! – disse Soare entrando no quarto e sendo seguida por Dragos, que estava extremamente sério e lançou um olhar digno de morte para Fierar.

– Eu não respeito estupradores! – gritei sem pensar, vendo a feição do homem se tornar séria e sentindo um ardor em minha face, percebendo que ele havia me dado um tapa no rosto, na região que já estava roxa.

– Como ousa falar assim com seu superior, um verdadeiro servo de Deus? – ele disse em um tom alto. – Esqueça, ela será tratada aqui. Vá e busque o que você precisa, nós o esperaremos.

Eu olhei amedrontada para Dragos, se eu ficasse, teria o mesmo fim de Ileana e ele sabia disso.

– Não existe essa possibilidade, ela precisa ir para um hospital – ele respondeu juntando suas coisas e as colocando na maleta. – Faça uma pequena mala com os pertences dela, por favor. Iremos para a Transilvânia, para hospital de meu pai – pediu à Soare, que olhou para Fierar como se pedisse permissão. – Não tenho o dia todo, irmã.

– Não será possível, todas as noviças devem estar no convento às sete da noite, para levarmos as irmãs ao local onde será a apresentação de amanhã – disse Fierar olhando diretamente para mim. – É um pecado uma jovem noviça do senhor passar a véspera do Natal em um templo pagão.

– Ela caiu de uma altura considerável, quebrou uma perna e provavelmente bateu a cabeça. Ela irá para o Templo de Arcadian, e só voltará quando meu pai disser que está curada – respondeu também sem olhá-lo, vendo Soare colocar algumas roupas em uma bolsa média. – Ela voltará quando estiver pronta.

– Não podemos deixar uma filha de Deus ir a um templo pagão, Padre. É um pecado – disse Soare, encarando Dragos com fúria.

– Eu não estou pedindo permissão. Ela precisa de cuidados que vocês não são capazes de realizar aqui. Fierar, meu pai pediu para avisá-lo que vocês têm assuntos a tratar. Não me faça chamar a senhorita Polona.

Ele andou até a cama e me ajudou a me levantar, caminhando lentamente e me auxiliando até a saída do Moș Maria, onde havia uma carruagem com quatro cavalos pretos nos aguardando. Eu subi com sua ajuda, sem olhar para os dois monstros atrás de mim. Me acomodei no pequeno banco acolchoado enquanto os três conversavam do lado de fora. Estava difícil de lidar com a dor, eu estava com calor e pude ver o olhar de reprovação de Soare quando eu retirei o chapéu do hábito e o coloquei ao meu lado no banco.

Dragos subiu e fechou a porta da carruagem, pegando minha perna e a colocando em cima do banco em minha frente, o mesmo em que estava sentado, dando ordem para que partíssemos.

– Por que se jogou da escada? Você não pensa? – ele perguntou enquanto eu via a imagem do Moș Maria se afastar.

– A sorte favorece os ousados – disse sem o olhar, sentindo meus olhos lacrimejarem pela dor física e o alívio emocional, meu corpo estava suando e eu sentia meu rosto latejar.

– Poderia ter sido uma ousada inteligente.

– Eu fiz o que tinha que fazer para sobreviver, Dragos. É isso o que pessoas como eu fazem.

– E se estivesse morta agora? Quebrado o pescoço ou algo do tipo?

– Eu iria pro inferno mesmo – eu disse e ele riu levemente. – Não irá fazer nada com Fierar?

– Meu pai cuidará dele – respondeu com raiva em sua voz, pegando uma pequena garrafa de dentro de sua mala. – Beba tudo.

– Isso é álcool? – eu perguntei após sentir o aroma do líquido. – Está oferecendo álcool para uma noviça?

– São alguns dias de viagem até a Transilvânia, eu poderia te dar algum chá mas não será tão eficiente quando te deixar embriagada – respondeu retirando outra garrafa e bebendo. – Não se ligue mais ao convento, ele ficou para trás. Beba o sangue de Cristo – disse sarcástico.

– Amém – respondi dando um longo gole na bebida que desceu seca em minha garganta. – Sinto muito por tudo o que aconteceu com Ileana.

– Não se culpe por isso. Ela está livre agora e você também – ele disse e eu me permiti sorrir por um momento, esquecendo as possibilidades de mandarem alguém atrás de mim ou de Dragos desistir e resolver me mandar de volta.

O sol estava brilhando suavemente no céu e refletindo em meu rosto através da pequena janela, eu via as árvores passando rápido devido à velocidade e sentia a aura negra que me assombrava sair de meus ombros, ficando para trás. Talvez eu deveria ter alertado as outras garotas, talvez eu devesse ter ficado para acabar com Fierar sozinha ou talvez eu deveria ter aceitado meu destino como noviça solitária; mas meus únicos pecados no Moș Maria foram querer justiça por Ileana e querer ser livre. Se Deus quisesse me punir por isso, eu aceitaria sem um murmúrio, mas eu não abriria mão da sensação de ir para longe por nada. Eu estava com um pé quebrado, dor nas costas, bêbada e com olheiras enormes, mas eu estava livre.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Espero que tenham gostado! Nos vemos nos próximos capítulos!

Um grande beijo! <3

Apreciadores (1)
Comentários (1)
Postado 11/07/20 14:53

Que capítulo emocionante!! Tantas escolhas foram feitas para sair dali, mas a dúvida se foram as melhores medidas sempre ficaram no ar.

Um líder cruel e estuprador não é nova, mas a forma como você colocar em sua obra deixa qualquer um com raiva e sede de sangue. Então, espero saber o que acontecerá com esse "demônio".

Sem dúvida, a parte mais "emocionante"(?) do capítulo foi a forma que nossa ousada menina encontrou de sair do convento, só não posso deixar de pensar o que aconteceria se ela não tivesse agravado seu caso médico. Dragos a ajudaria?

Não consigo imaginar quais segredos a família de Ilena tem por baixo dos tapetes e nem quero imaginar, quero me surpreender com o que venha a seguir.

Sem saber mais o que dizer, agradeço por compartilhar sua obra e por continuar a mesma.

Assinado alguém que seria expulsa de um convento, <3

Postado 13/07/20 23:17

Olá, Shizu! Fico muito contente em saber que consegui transmitir a ira que eu queria em relação ao padre e ao convento em geral, fique tranquila, ele colherá tudo o que plantou!

Mais para frente acredito que poderemos ter uma noção e nos aprofundar mais na personalidade de Dragos para saber se ele a ajudaria ou a deixaria nas mãos do convento!

A família de Ileana é um poço muito fundo, sua história é, literalmente, o início de toda a história! Não gosto de surpresas então já adianto que estou com planos de escrever sobre a mesma, mas são planos futuros!

Agradeço imensamente todo seu apoio!

Até o próximo capítulo! Um grande beijo <3

Postado 14/07/20 02:20

Tantas novidades que trás com sua resposta ao meu comentário e já digo que ficarei ao agrade desde de agora.

Até o próximo capítulo, <3

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