Para a minha avó, Apparecida Fernandes, com todo o amor.
O sono é o conforto dos desolados.
E não há outro jeito para eu estar.
Eu não sou o tipo de pessoa que crê
ou vê a morte como o fim de algo.
Mas como eu posso ficar,
estar
sabendo que não vou mais sair de casa
e ouvir ao teu "Vai com Dió"
Quem vai me contar as histórias da família?
Sobre os índios apaixonados
ou o drama com o Henrique.
Nessa madrugada,
na última vez que eu vi a senhora,
eu disse que tudo ia ficar bem
e eu realmente espero que tenha ficado.
"Hoje não vai ter sol"
eu disse pra tia Gi quando amanheceu,
sem saber do que o futuro traria.
Mas teve sol.
O sol saiu assim que a senhora chegou no céu,
e tava tão quente
que eu mal senti o vento gelado
soprar meu rosto.
Não há muito para eu falar aqui.
Mas eu gostaria de agradecer
por ter sido a primeira pessoa
a me apoiar quando eu disse que queria
ser artista.
E poxa, foi um dos momentos mais importantes
da minha vida.
Por me contar nossa história desde o início,
por nunca ter me julgado
quando eu mudei de religião,
por ter me ensinado a fazer cachecol...
por exatamente tudo.
Pela simplicidade, pela fé, pela força.
E saiba que eu sempre vou estar aqui ou ali
pronta para uma nova história.
Eu vou sempre estar aonde houver sol, índio, história pra contar,
cachecol florido a altar.
E siga seu caminho em paz.
Eu vou me encontrar aqui também.
A dor é consequência
mas o crescimento é involuntário.
E o amor verdadeiro prevalece,
mesmo em mares revoltos
porque índio se conecta com a natureza
e nada em busca da maré tranquila
onde há sol no horizonte.
E eu sei que sempre vai haver sol no horizonte,
enquanto a gente assiste à beira mar.
Porque sempre que a senhora tinha medo da chuva
o sol vinha depois pra acalmar.
todos os textos e "poemas" publicados aqui são de minha autoria.