O Lago da Terminalidade
Meiling Yukari
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 25/08/20 15:14
Editado: 05/05/21 15:13
Avaliação: 9.56
Tempo de Leitura: 37seg a 50seg
Apreciadores: 8
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Palavras: 100
[Texto Divulgado] ""
Não recomendado para menores de dezoito anos
Notas de Cabeçalho

É triste, é trágico, e estou sim, de certa forma, "romantizando" a ação final... Apesar de "romantizar" não ser exatamente a palavra certa a ser utilizada aqui, pois não estou dizendo que essa atitude é certa, estou apenas dizendo que às vezes é a única forma de escapar de um sofrimento ainda maior (e desnecessário) na mão dos médicos desumanos.

Podem me apedrejar...

Capítulo Único O Lago da Terminalidade

Já não aguentava mais. Seus músculos não possuíam força, o corpo todo doía, quase não respondia mais suas vontades.

Tentava se erguer: sofria.

Tentava andar: caía.

Sentia fome: não comia.

Esses eram seus últimos dias.

Precisava escapar daquele hospital que tanto machucava seu corpo. Mesmo sabendo que dali alguns dias estaria morta, ainda insistiam.

Com seus últimos resquícios de lucidez, arrastando-se fugiu do hospital, e conseguiu chegar na estrada atrás dele.

Nunca conseguiria chegar em casa... Olhou ao redor, pousando a vista num lago com flores azuis.

Sua alma sim conseguiria, livre, chegar em casa, pensou.

E então, se afogou.

❖❖❖
Notas de Rodapé

A maioria de nós já passou por situações nas quais tivemos parentes ou amigos, que se encontravam acometidos por doenças terminais, e que já estavam em seus últimos dias de vida, mas mesmo assim eram submetidos à dolorosos tratamentos.

Os tratamentos dolorosos deviam ser feitos apenas nas pessoas que tem chance de sobreviver e viver bem por muitos anos, e não naquelas que apenas estão sobrevivendo aos seus últimos dias, lutando contra a morte ao mesmo tempo que têm que lutar contra a angustiante dor de tratamentos inúteis.

As pessoas em seus últimos dias de vida deveriam ser tratadas com amor e carinho, e com remédios para aliviar a dor. Mas os hospitais só pensam em lucrar, e não têm o mínimo respeito pela dignidade humana dos doentes...

APEDREJEM-ME...

Apreciadores (8)
Comentários (7)
Comentário Favorito
Postado 29/08/20 12:48

Mei, seu texto é lindo, acho que todos deveríamos escolher no final - nestes casos -, se queremos repousar enfim, ou continuar vivendo.

Espero que algum dia minha alma encontre um charmoso rio de flores para repousar, não se martirize. A arte, a poesia, a escrita, nos ajuda a viver e a sobreviver mediante a estas coisas.

Obrigada por fazer a minha vida mais bonita com seus textos magníficos <3

Postado 29/08/20 13:12

Aaaaaaa querida senhorita 6, preciso encontrar as palavras certas para conseguir te agradecer por esse comentário tão maravilhoso!!!

Eu te agradeço imensamente, e com todo o meu coração, por você ter gostado disso aqui que eu escrevi...

Suas palavras são muito importantes para mim <3

Muito obrigada <3

Um enorme e fofoloso abraço para a senhorita <3 <3 <3

Postado 25/08/20 16:11

Infelizmente, senhorita mei, eu vejo com grande frequência esse tipo de coisa. O que era para ser amor se tornou ganância e interesse próprio, como se uma vida nao valesse mais que uma nota de 100,00.

As vezes me pergunto qual o sentido deste mundo. E, espero nao estar certo em minhas conclusões.

Postado 27/08/20 17:17

Infelizmente, Sr. Urizen, a humanidade tomou esse rumo e apresenta esses moldes...

É muito triste o dinheiro prevalecer sobre a vida...

Gratíssima por seu querido comentário <3

Um grande abraço <3

Postado 26/08/20 11:35

O pior de tudo é que tudo isso que vc falou é muito verdade, nunca vi coisa mais desumana que hospital. E sabe eu acho isso principalmente dos velhinhos, tipo minha vó que morreu faz uns anos atrás e ficou muito tempo internada, semimorta e toda hora tinha um monte de abutre médico em cima dela pra ficar tirando sangue e tal, mas mano ela ia morrer não precisava de tudo aquilo, então nossa eu te entendo super viu... vc não precisa ser apedrejada, sua opinião é muito válida viu

Postado 27/08/20 17:19

Sinto muitíssimo por sua avó, eu também vivi isso com meu avô, é uma situação desoladora.

Agradeço imensamente por seu comentário tão fervoroso e tão favorável ao meu pensamente aqui expressado...

Um grande abraço <3

Postado 28/08/20 01:46 Editado 28/08/20 01:56

É uma situação muito complexa, Mei, porque nem todos os profissionais da saúde têm esse posicionamento. Nós temos que lembrar que eles estudaram para estar ali e estão exercendo essa profissão tão árdua muitas vezes sem os meios precisos (não é segredo para ninguém o quão precária é a área da saúde). Nem todos os médicos e enfermeiros aplicam certas formas de tratamento porque querem, mas, sim, porque é necessário. Nem sempre é sobre dinheiro, é sobre querer desesperadamente salvar alguém.

Meu namorado é enfermeiro e eu perdi a conta de quantas vezes ele chegou em casa transtornado, triste ou simplesmente esgotado depois de um dia cansativo no hospital. Uma vez, uma das pacientes que ele cuidava morreu por conta do câncer e ele desabou quando me contou a respeito. Não é somente a saúde do paciente, mas também a do profissional. A gente tem que lembrar que eles são treinados para ver a vida e a morte, muitas vezes, em um só dia e é culpa deles tentarem fazer o suficiente para salvar alguém?

Os pacientes em estágio terminal tem toda uma estrutura diferenciada de tratamento. Eles sabem que vão morrer, mas a medicina e a enfermagem trabalham com aquela mínima porcentagem, aquela esperança de 1% que pode virar o jogo e simplesmente trazer alguma forma de melhora para o paciente condenado. Por isso, todos os dias tem os remédios, as injeções e os exames. Existe a constante procura pela melhora, porque, veja bem, se um médio porventura vier a desistir de um paciente, ele vai sair como o culpado, afinal nós temos tecnologias que podem provar que um paciente foi deixado ao relento quando estava melhorando. Se um médico desiste de um paciente, pra que diabos precisamos de médicos?

Não penso dessa maneira somente porque meu namorado é enfermeiro, mas também porque o meu pai tem câncer e eu cresci em hospitais acompanhando o tratamento dele. Muitos falaram que ele estava condenado, mas a única médica que realmente estudou o caso dele viu que tinha uma saída. Eu poderia ter perdido o meu pai se ele tivesse acatado todas as sugestões médicas acerca do caso dele, mas isso não aconteceu, porque houve insistência, houve uma voz que fez com que ele entrasse em um tratamento que possibilitou a melhora dele em 100%.

Sinto muito que a sua experiência nesse sentido tenha sido ruim e lamento muito pela sua perda, mas não acho certo condenar todos, afinal nem todos os profissionais da área são assim maldosos e invasivos. Nós temos que nos lembrar que há muito respeito e carinho também, além de um esforço imenso por parte desses profissionais. Se para nós, parentes, é difícil ver alguém que amamos naquela situação mortal, imagina o quão devastador é para o profissional que constantemente cuida dessa pessoa, sem poder expressar seus sentimentos, que conhece/estuda o caso e não pode fazer absolutamente nada para reverter tudo isso? Posso te responder com muita convicção que não é fácil para os profissionais da saúde, principalmente quando eles lidam com pacientes em estágio terminal. Eles sofrem na mesma medida e, sinceramente, não acho que seja culpa deles tentarem fazer o suficiente e mais um pouco para tentar salvar alguém. Óbvio, ao ver um profissional com uma má conduta, é fundamental que a família denuncie e busque meios para que esse indivíduo seja mandado embora e barrado em exercer a profissão. Caso a família e o próprio paciente sintam-se incomodados com a forma de tratamento é muito importante contatar a pessoa responsável pelo caso e abordar como eles e, principalmente o paciente, querem lidar com a situação. Se não me engano, pacientes em estágio terminal continuam o tratamento caso essa seja a vontade da família e, em caso de lucidez, com o consentimento do paciente. Nada é feito contra a vontade humana nos hospitais, porque, apesar de haver sim muita coisa podre lá, existe uma burocracia imensa que eles devem respeitar e a maior delas é a vontade do paciente e familiares - além do respeito a vida que nem deveria ser citado por ser óbvio.

Espero que meu ponto de vista tenha ficado claro e, por favor, não entenda que estou te apedrejando. Prezo muito pela liberdade de expressão, mas acho fundamental mostrar os dois lados da moeda. Então, achei interessante trazer para a discussão essa minha experiência como namorada e como filha.

Muito obrigada por compartilhar essa obra conosco e possibilitar toda essa discussão. Como sempre, você traz pautas incríveis para serem analisadas.

Parabéns, mil vezes, Mei ♥

Postado 28/08/20 14:01

Não sei nem por onde começar a responder esse comentário que me deixou sem chão. Mas acho que devo primeiramente me desculpar, pois provavelmente as minhas palavras devem ter ferido seu coração, principalmente no tocante ao seu pai.

Sinto muito que sua família tenha que passar por isso, desejo tudo de melhor para vocês, para o seu pai. Entendo um pouco, não tanto quanto você, mas pelo menos um pouco essa situação, pois meu avô também teve câncer. Ele não era tão velho, e pegamos a doença no começo, então foi tudo muito esperançoso, e por mais doloroso que fosse o tratamento e tudo, valia a pena, pois mesmo idoso ele ainda poderia ter muitos anos de vida. Mas chegou uma hora que a situação foi ladeira abaixo em questão de dias, e assim permaneceu, moribundo esperando a morte sem nenhuma perspectiva de mudança, e foi nesse momento que eu acho que não valia mais pena continuar fazendo ele sofrer, pois já não tinha mais jeito.

Seu pai devia ser jovem quando descobriu a doença, e com toda a certeza valia muito a pena lutar pela vida dele, pois ele tinha muito para viver ainda. E fico imensamente feliz que houve essa insistência pela vida dele, e que ele está aqui até hoje, vivendo e amando a família.

Meu pai trabalha em hospital, e atráves dele pude ver os dois extremos opostos: tanto os médicos do meu texto que fazem coisas malvadas para insistir no impossível, quanto os médicos demônios que simplesmente, na calada da noite, desligavam os aparelhos dos pacientes. Esses são assassinos. E eu nunca defenderia uma coisa dessas. Defendi apenas o deixar a morte vir, naturalmente, sem a continuidade de tratamentos dolorosos, mas nunca um assassinato assim...

Agradeço por todas as informações tão importantes que a senhorita agregou ao debate. E peço desculpas novamente, eu nunca tive a intenção de ferir os sentimentos. É sempre muito delicada essa situação e esse tipo de discussão...

Postado 28/08/20 17:18

Mei, não é necessário pedir desculpas. Não me senti ofendida ou algo do tipo. Só compartilhei a minha opinião querendo mostrar ambas as perspectivas da situação.

Eu concordo com você em muitos aspectos, principalmente porque existem profissionais invasivos e desrespeitosos, mas eles não são a maioria. Há muito amor e cuidado nessa área tão difícil, mas também existe a podridão. Em todas as áreas as pessoas estão propensas a esses dois pontos, infelizmente. Cabe a nós sempre denunciar ao vivenciar essas situações.

A morte é uma abordagem médica muito complexa, é difícil deixar um paciente partir, mas os médicos e enfermeiros trabalham muito para que a vontade do paciente seja feita. Existem casos que podem trazer esperança, como o caso do meu pai, mas também existem casos inalteráveis e tudo o que esses profissionais podem fazer é tornar tudo ainda mais confortável para o paciente (palavras do meu namorado).

Sinto muito se de alguma maneira pareceu que eu desmereci a sua vivência. Não foi a minha intenção. Cada um de nós tem uma experiência diferente na situação e é muito legal quando isso ocasiona um debate saudável. Eu me compadeci muito de ver o seu ponto de vista e fiquei indignada com o que fizeram.

Obrigada demais por essa oportunidade de discussão, Mei

Postado 07/09/20 08:34 Editado 07/09/20 08:46

Me fazia sempre essa pergunta nos dois anos que trabalhei no hospital.

Será que compensava mesmo usar tanta tecnologia para manter uma existência de sofrimentos sem fim?

De um certo modo, no passado, a vida era mais tranquila em relação a certas enfermidades...

A criança nascia com determinado problema vivia uns dias, uns meses e logo o sofrimento tanto dela quanto da família tinham um fim!

Hoje em dia a criança nasce, tem uma infinidade de problemas totalmente incapacitantes, sem nenhuma possibilidade de evolução e vai se estendendo a vida, com máquinas, tecnologia... E a mãe e a família se tornam reféns de tratamentos sem fim, medicamentos caríssimos, dias e dias de terapia, para quê?! Para uma existência de dor e sofrimento para todos os envolvidos...

Via essas coisas, analisava sempre e perguntava a Deus, será que realmente tudo isso é bom, é necessário?!

Quantas e quantas mães, sem vida, na luta da manutenção da vida desses filhos não se culpam e não vão ao suicídio? Não são poucos os casos...

Sua reflexão Meiling, é muito pertinente, pois ver a dor que certos tratamentos causa e a teimosa manutenção de certos estados clínicos, maltrata demais as pessoas que vivenciam isso dia após dia...

Parabéns pela iniciativa de nos proporcionar esta importante reflexão!

Postado 07/09/20 19:12

Senhorita Monise... Não sei nem como começar a responder esse seu comentário tão intenso, triste e profundo...

Enquanto escrevia eu pensava mais nos idosos e adultos termináis, mas o seu comentário veio para me dar uma facada dolorosa, ao me fazer enxergar essa situação nas crianças...

Eu imagino o quanto deve ser ainda mil vezes, ainda infinitas vezes mais doloroso ver um filho nessa situação... As crianças condenadas são almas sofredoras, e elas sofrem nesses tratamentos que infelizmente não vão trazer a vida saudável de volta, apenas uma vida cheia de tormentos e sofrimentos...

Esse é um assunto extremamente delicado, eu sei...

Muito obrigada, senhorita Monise, por trazer esse comentário tão profundo aqui, muito obrigada de coração!

Um enorme abraço! <3

Postado 07/09/20 16:20

Triste, bela escrita, jovem.

(Inclua aqui um texto longo e triste sobre eu falando de minha experiência e da preciosidade da vida. Não escrevia por poder ser mal interpretado, desculpa)

Obrigado por compartilhar sua obra e participar do desafio.

Assinado uma pequena vampira, <3

Postado 07/09/20 19:19

Senhorita Shizu... Eu peço desculpas por ter escrito esse texto, com esse assunto tão delicado...

Qualquer que seja a sua opinião, nada iria mudar, e você merece todo o respeito do mundo, sem medo de ser mal interpretada, Shizu...

Sei que a grande maioria dos que lerem esse texto terão uma opinião contrária a minha, e está tudo bem!

Muito obrigada por ter lido!!

Um enorme abraço, com muito carinho <3 <3

Postado 07/09/20 20:57

Fiquei imaginando a experiência da personagem para optar a morte a luta...

Não peça desculpas nunca, essa é sua opinião e imagino que em muito casos seja a verdade.

Mas também que alguns médicos não são "ruins" pelo dinheiro e as vezes por problemas deles mesmos, como minha mãe diz tem uma médica na clínica dela que é "o cão chupando manga" e não dá colher de chá para ninguém (minha mãe sente pelos pacientes que são maltratados por essa médica e eu tbm, que malvada por um lado da historia)

Eu gostei bastante do seu texto, ele trás exatamente aquela emoção de frustração e tristeza (não sei expressar direito).

Um grande abraço, <3

Postado 09/09/20 13:15

Nossa, que situação mais triste essa vivenciada por sua mãe na clínica... é uma pena que existam profissionais assim...

É claro que sempre existem os dois lados, e existem médicos maravilhosos, obviamente. Sou muito grata a existência desses que são bons, e muito triste com a existência dos que são maus...

Sobre minha personagem, ela tem câncer, é uma moça de uns 25 anos, e está lutando contra isso pelo menos desde os 10. Eu não pude explicar tudo isso já que optei pela drabble né... Mas havia um tratamento pois havia esperança, mas nos últimos meses ela já não vivia, apenas sobrevivia da pior e mais dolorosa forma, por isso a decisão de acabar com seu sofrimento através da morte...

Obrigada, senhorita Shizu <3

Grande abraço <3

Postado 09/09/20 13:48

Que triste, pelo menos na morte sua dor foi amenizada (creio).

Adoraria ler um texto mais longo sobre sua história, ahhahaha sem pressão!

Obrigado por responder (´∩。• ᵕ •。∩`)

Beijinhos, <3

Postado 16/09/20 20:09

Eu acho que assim: Se existe alguma possibilidade de prolongar a vida de forma humanizada, vale a tentativa. Mas prolongar apenas para sobreviver de maneira sofrida, não seria muito interessante. Melhor poucos instantes bem vividos e aproveitados do que vários momentos dolorosos e complicados.

Talvez eu esteja falando bobagem, já que nunca aconteceu nada assim perto de mim - e espero que nunca venha a acontecer, mas sei lá. Acho que é assim que penso.

Parabéns, Mei!

Postado 16/09/20 22:46

A senhorita conseguiu captar completamente a essência de tudo que eu tentei dizer aqui, e eu agradeço muito por isso!!

Compartilho inteiramente da sua opinião... Sei que é uma questão extremamente complexa, mas penso dessa forma sim, principalmente porque tive meu avô e outros parentes em situações assim...

Agradeço de coração por sua querida presença <3

Um enorme abraço para você, Flavinha <3

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