Morte Silenciosa
Sabrina Ternura
Tipo: Lírico
Postado: 27/08/20 02:11
Editado: 27/08/20 02:45
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 1min a 2min
Apreciadores: 10
Comentários: 8
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Palavras: 261
Este texto foi escrito para o concurso "Challenge Musical" A proposta do “Challenge Musical” é simples: vocês terão que escrever uma obra com base na interpretação de uma música. Ver mais sobre o concurso!
Não recomendado para menores de dezesseis anos
Notas de Cabeçalho

Ciao, pessoal. Como vão? Espero que estejam bem!

O Setembro Amarelo está chegando e decidi unir o útil ao necessário: escrever uma obra que abordasse na íntegra o que é conviver com certos transtornos psicológicos, baseando-me em uma música. Quando enfrentei tempos sombrios, a melodia que inspirou o nascimento deste poema era como um refúgio, pois a letra, ao meu ver, abordava acerca desta solidão incurável que nos ronda quando a depressão nos assola (nas notas de rodapé colocarei a minha interpretação da música). Então, caso você se sensibilize facilmente acerca deste tema, essa autora não se responsabilizará caso você continue. Desejo a todos uma ótima leitura ♥

I'm the ghost of a girl

That I want to be most

I'm the shell of a girl

That I used to know well

(The Lonely - Christina Perri)

Capítulo Único Morte Silenciosa

Perdi a conta de quantas vezes

A lâmina ensanguentou os meus pulsos,

Como se existissem diversos prazeres

Em cortar fiapos mortos.

Nunca me encontrei em canções,

Pois pulsava em mim mil corações

Incapazes de serem descritos

Por seus eternos conflitos.

Eu quis chorar

Quando vi meu espírito fracassar

Em se entregar para as trevas

Que foram apagadas como se fossem velas.

Eu pulei para a morte

De muitos jeitos diferentes:

Amando, escrevendo

Ansiando e vivendo.

Quis calar essa dor

Que sempre fez-me sentir horror

De cada pequeno detalhe

Deste corpo que não me cabe.

Sussurrei a verdade

Em todos os sorrisos de felicidade,

Mas vocês só perceberam

Quando quase me perderam.

Eu precisaria morrer de quantas formas

Para que vocês batessem em minha porta

Perguntando se existia alguma maneira

De mandar essa dor embora?

Jamais encarei meu reflexo,

Pois ele me mostrava

O quanto eu me odiava

Sem nenhuma explicação com nexo.

Eu gostaria de ser maior do que minha aflição,

Mas existia um monstro chamado Depressão

Que triturava o meu cansado coração

E me obrigava a dançar com a solidão.

Sempre quis ser a melodia mais doce,

Mas acabei sendo a mais triste,

Pois minhas lágrimas caíam como alpiste

De meus olhos cheios de bipolaridade e piche.

Sempre fui a dor silenciosa

Que andava de cabeça baixa

Nos corredores da escola

Com os cortes por baixo da blusa.

Sempre estive imersa

Nessa escuridão interna

Que silenciosamente me matou;

Que mortalmente me trucidou.

Eu sempre sonhei em morrer,

Porque essa dor me fez desaparecer.

Eu sempre sangrei,

Porque nunca me amei.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Interpretação Musical: há quem diga que essa música é sobre um coração partido, mas eu a interpretei como se fosse a queda em um mundo de sofrimento interno, onde nós vamos nos deteriorando cada vez mais. Muitas vezes isso acontece por conta do "amor" que nos parte e não permite que voltemos a ser o que éramos e deixa que nos afoguemos dia após dia em uma morte silenciosa. Como o Concurso nos possibilitou desenvolver a interpretação de uma música, optei por abordar essa face mais obscura, porém real, da dor. Muitas pessoas entram em um sofrimento sem fim por terem seus corações partidos (seja por amores, familiares ou amizades) e muitas vezes nós menosprezamos isso. A dor alheia jamais deve ser julgada como se fosse nossa. Pessoas cometem atos horrendos contra as próprias vidas, porque algumas pessoas subjugam a dor que elas sentem.

Pensando nisso, decidi criar um eu lírico que conseguisse mostrar as consequências, os pensamentos e os sentimentos do que é dançar com a solidão; do que é se sentir esgotado ao ponto de querer deixar de existir por conta de um sofrimento disfarçado de amor. No caso do eu poético, ele se sente abandonado pela família, que olha em seus olhos e não consegue ver a dor que o massacra, mesmo que ele dê todos os sinais. O amor nos transforma, porém, infelizmente, ele também nos parte ao ponto de não suportarmos a dor interna. Pessoas que estão mental e psiquicamente doentes, podem transformar o menor resquício de dor em um sofrimento diário e eterno. Conviver com depressão, ansiedade, bipolaridade e tantas outras doenças não é fácil. Não é como apertar um botão e esperar a dor passar. É ser constantemente esmagado e triturado dentro de si, todos os segundos de dias que parecem eternos. É não ter disposição para levantar, cuidar de si, falar, comer... é a dor que te paralisa de medo e agonia simultaneamente, e tudo o que você deseja nessas situações é encontrar meios de fazer a dor parar.

O intuito dessa obra não é incentivar ou romantizar a depressão, mas, sim, mostrar que vocês podem dar voz para a dor, que não estão sozinhos, que vocês podem se dar uma segunda chance. Quando eu olho para esse poema, vejo uma versão de mim que ainda me machuca e tenho certeza que a minha morte silenciosa, os cacos do fui, a sombra da garota que eu conhecia tão bem, sempre vão me acompanhar. Mas eu encontrei uma saída para essa dança eterna com a solidão e você pode encontrar também.

Você não está sozinho. Você é amado. Você é precioso. Você é necessário.

Busque ajuda médica caso você identifique que não está bem. Cuide da sua alma e das suas feridas, porque só você conhece a sua dor e sabe o quão letal ela pode ser. NÃO DESISTA DE VOCÊ!

Muito obrigada a todos que leram até aqui ♥

Apreciadores (10)
Comentários (8)
Comentário Favorito
Postado 27/08/20 12:11

Aquele momento em que você termina de ler algo tão incrível, profundo e visceral que sente as emoções evocadas pela obra ressoando no mais fundo da mente, coração e, especialmente, da alma...

Será mesmo que existe um modo de comentar a beleza, intensidade e importância deste texto de forma que lhe seja realmente digno? E como definir esse tumulto de sentimentos e pensamentos que tomam o leitor a cada estrofe, ainda mais quando o poema parece ter sido um relato/confissão dele próprio? Pois eu tenho certeza (e me incluo) que muitas pessoas que lerem esta obra irão se reconhecer em parte ou até totalmente nela...

"Jamais encarei meu reflexo,

Pois ele me mostrava

O quanto eu me odiava

Sem nenhuma explicação com nexo."

Satã, isso sou eu desde o ventre materno... E será até o túmulo...

Brina, sua Divindade não é sem motivo e precede a nomeação neste antro maldito. E agora eu desejo de coração que você vença este concurso simplesmente porque este poema transcende o papel de participante do evento. Ele é um perfeito representante da Dor, do Desprezo e do Desespero que pode/vai acometer alguém/alguns/todos em determinados momentos da vida. E isso é tão triste quanto magnífico.

Meus mais intenso e reverenciados parabéns por esta brilhante criação. E, mesmo sem poder de decisão algum, eu te declaro vencedora deste concurso pois meu íntimo se curva com olhos marejados perante seu talento e sensibilidade.

Atenciosamente,

Um ser natimorto que por vezes se cala, Diablair.

Postado 27/08/20 16:07

Fico muito feliz que essa obra tenha te tocando com tanta intensidade. Ela não é fácil de engolir, muito menos de ler, e meu coração se enche de alegria ao ver que consegui transmitir com exatidão a mensagem.

Com textos tão incríveis participando do concurso, acho difícil que eu consiga ganhar, mas agradeço muito pela fé e esperança em mim, meu eterno e estimado amigo!

Obrigada pela presença e comentário sempre estimáveis, Diab

Postado 27/08/20 09:14

Achei incrível sua obra, deusa Brina. Você expressou de maneira perfeita não só a dor externa mas a interna, conscientizando o leitor de que todos somos sujeitos a essa maldição chamada depressão. Mas que podemos combater isso.

No demais, sua escrita é perfeita, as rimas se encaixam perfeitamente.

Postado 27/08/20 16:05

Fico muito feliz que tenha conseguido transmitir tal ideia!

Muito obrigada pela presença e pelo comentário, Urizen

Postado 27/08/20 15:51

Senhorita Sabrina, estou profundamente tocada por esse seu poema. Não tenho nem palavras suficientes para descrever o quão importante foi você ter abordado esse tema.

Como sempre, a senhorita é uma escrita fantástica, e colocou toda sua alma para escrever essas linhas tão verdadeiras e cheias de magnetismo!!

Obrigada por ter escrito algo dessa magnitude!!

Abraços <3 <3 <3

Postado 27/08/20 16:08

Fico muito feliz que esses versos tenham te tocado de alguma maneira.

Obrigada pela presença e comentário, Mei

Postado 04/09/20 09:01

Excelente texto!

Potente em sua descrição da dor pungente que corrói a alma, mostra com graça e beleza que o sofrimento interno é real e avassalador...

Obra perfeita e necessária.

Talvez fosse interessante você publicá-la em outras redes, bem como a parte do texto do rodapé.

Gostei muito mesmo. Parabéns e sucesso!

Postado 04/09/20 20:33

Fico muito feliz que tenha apreciado e que tenha visto a necessidade dessa obra.

Obrigada pelo comentário e presença, Monise

Postado 12/09/20 23:56

Ai, Brina, é nessas horas que eu não sei como volta a comentar. Não tenho palavras para descrever o quanto esse poema é necessário na vida de muitos e o grau de importância que contém cada crítica distorcida aqui.

A depressão, apesar de ser tida como o mal do século XXI, ainda é um tabu na nossa sociedade. Cerca da metade das pessoas que sofrem com esta doença não procuram auxílio para superá-la, e um dos motivos principais é o estigma social ainda presente a respeito, onde se associa as expressões “frescura”, “falta de fazer algo” e “bobagem” ao cansaço físico e mental, fazendo com que tenham receio e, principalmente, vergonha de buscar ajuda, ocasionando no pensamento de ser um fardo para as pessoas ao redor.

E normalmente as pessoas tendem a ter uma visão errada dos acontecimentos, se interpelando de o porquê do indivíduo não ter procurado auxílio ou não ter demonstrado, quando todos os dias há indícios dessa dor, seja no olhar, nas palavras - principalmente na falta delas -, nas atitudes. Sempre esteve presente, mas muitos não querem enxergar.

E tudo isso culmina na auto inferiorização, no desejo insano de fazer essa dor parar, mesmo que seja temporário e até mesmo para sempre.

Eu amei como você abordou esse tema, mesclando junto com os outros transtornos psicológicos. Porque sim, nós temos que pôr em pauta esse assunto de uma maneira séria. Quantos mais precisam sucumbir para entender que essa morte silenciosa não é frescura?!

Volto a reforçar o quanto amei essa obra, e o quanto ela é necessária (por gentileza, postar isso na ternuridades para que eu possa sair espalhando, grata. hahahaha).

Muito obrigada por participar e escrever essa brilhante obra, Brina ♡

Postado 13/09/20 15:31

Não faço ideia de como responder esse comentário. Tudo o que posso fazer é agradecer por você ter conseguido capturar as minúcias e por ter gostado da obra. Ela é difícil de ler, mas é necessária. Vou tentar voltar com o insta, prometo kkkk

​Obrigada pelo comentário e presença, Pãozinho ♥ Foi incrível participar desse concurso!

Postado 12/09/20 23:57

Vamos começar agradecendo pelo lírico nosso de cada dia. Imagino que deve ser mais difícil encaixar a música em formato lírico, sem parecer que está apenas colocando o sentido em outras palavras (meio confuso, né? Desculpe).

Você, com maestria, transmitiu não apenas um texto baseado em interpretação musical, foi muito além disso. Seu texto é mais do que necessário e passa uma mensagem extremamente importante. A visão que deu para a música é bela, embora seja bastante triste.

Nada do que eu digitar aqui será suficiente para expressar o sentimento que percorreu meu ser durante, e até mesmo depois de finalizar a leitura. Confesso que me identifiquei com alguns trechos e acredito que não fui a única.

Sabrina Ternura, o seu T de Tristeza deve ser exaltado e gratificado depois de produzir tal obra atemporal e digna de todos os elogios existentes.

Meus parabéns e, mais uma vez, muito obrigada por participar.

Postado 13/09/20 15:33

Realmente! Foi muito díficil escrever o poema sem parecer que eu estava copiando a música e escolher uma linguagem clara para abordar um tema tão complexo.

Fico feliz em saber que essa obra te tocou e que tenha gostado!

​Obrigada pelo comentário e presença, Flavinha ♥ Obrigada por esse concurso lindo e maravilhoso!

Postado 13/09/20 14:52

Ao mesmo tempo que meu coração chorou lendo esta obra, me senti muito aquecida pelas notas de rodapé... Você é tão preciosa, senhorita T... Suas palavras foram certeiras e perfeitas, como sempre, o modo como você construiu os versos, as rimas e as estrofes... E a música que você escolheu para ser inspiração, já foi uma das minhas favoritas, Christina Perri é uma ótima compositora e cantora, e você, querida bruxinha dos T's, é uma escritora excepcional! Obrigada por este texto perfeito e acolhedor, apesar de mostrar os lados mais tristes amargos do ser... Você é TÃO necessária neste mundo, Brininha... Obrigada!

Postado 13/09/20 15:35

Fico muito contente em saber que esse poema te acolheu! Sinta-se abraçada por mim, também! Você não está sozinha, jamais.

​Obrigada pelo comentário e presença, 6 ♥

Postado 03/10/20 00:25

Mais um texto excelente da Senhorita Ternura! Amei como projeta no leitor os sentimentos presentes em cada verso. E essa música com certeza só agrega a experiência de ler algo tão grandioso!

E que mensagem importante! Você conseguiu aquecer o meu coração também! Obrigado!

Postado 03/10/20 00:46

Muito feliz em saber que você gostou da experiência de leitura!

Obrigada pelo comentário e presença, meu amor ♥