Suas mãos cruzadas apoiadas em suas pernas tremiam, a boca estava seca. A multidão aplaudia e rugia incontrolavelmente. A liteira tremia quase imperceptivelmente, e a cada tremida ela queria gritar.
O homem barbudo caminhando ao seu lado a olhava de forma reprovadora, e ela sabia que era por causa do suor perceptível que escorria em sua têmpora.
A multidão ainda aplaudia a falsa princesa prestes a ser coroada.
Seu pai a esperava no seu grande trono de ouro, com sua imensa coroa que valia mais que os carregadores da liteira e seus próprios súditos. Um sorriso bonito estava estampado no rosto também belo.
Ela rangeu os dentes.
O homem barbudo sibilou ao seu lado, o que a fez relaxar a expressão. Seus olhos pousaram nos paralelepípedos de cores alternadas que a aproximavam mais de sua desgraça.
O grande muro que cercava a cidade também brilhava de forma ostensiva, assim como o trono, a coroa e os paralelepípedos. Por trás desses muros tudo estava manchado de vermelho. Vermelho do exército do reino, vermelho de seus chamados súditos.
A multidão continuava aplaudindo.
O reino foi trancado, para a proteção do rei e da família real. Agora ela estava sendo coroada.
Coroada para a morte.
O reino estava perdendo, e o conselho do rei sabia disso. Seu irmão mais velho estava nas “linhas de frente”, e ela foi a única que restou.
Ela era uma mulher.
Seu irmão provavelmente estava escondido em algum lugar. Seu pai iria usar sua coroação como chamariz, e sua morte para incentivo para seus soldados e súditos. O alvo do velho também eram as mulheres, nunca houve uma rainha na história do reino, e ele queria o apoio total. Afinal, desde cedo ela ajudava a tudo e a todos.
Ela foi uma princesa amada no final das contas.
Ela realmente lutou quando o plano foi-lhe dito, sabia que poderia fazer melhor. Se ofereceu como oferta de casamento para o outro reino; como espiã; até sugeriu ser uma cortesã para o rei adversário.
Nada adiantou, seu orgulho foi pisado e sua boca selada.
Finalmente os carregadores pousaram sua liteira a frente da grande escadaria, onde a coroação de seu fim esperava.
O barulho de seus saltos era mais perceptível que o som da multidão e os flashes das câmeras.
Seu nome era gritado por todos e o barulho da batalha do lado de fora dos muros a embalava; achou hilário que provavelmente essa seria sua marcha fúnebre.
O sorriso se abriu em seu rosto quando ela aceitou a coroa de seu pai.
E agora seu pescoço estava amplamente aberto, a espera do abate.