As partes que fazem parte do ser.
Algo que muito me irritava quando era criança, era quando aquelas senhoras idosas chegavam perto de mim e apertando minha bochecha diziam; “é o xerox da mãe, igualzinha!”, ficava brava, na minha concepção infantil achava xerox uma palavra muito feia...
Hoje em dia me surpreendo ao perceber em mim muito além do que a aparência de minha mãe, mas aspectos do seu jeito de ser, de agir, e, indo além, percebo também semelhanças com minhas avós, tias, enfim, mulheres que fizeram parte de minha vida e que trago um pouco delas comigo.
Todos nós somos assim, ainda que não percebamos trazemos algo de outros conosco, tanto coisas boas quanto ruins, somos constantemente influenciados, moldados pelas pessoas com quem convivemos, de quem falamos, das histórias de que tomamos ciência, cada experiência é uma parte importante na formação do nosso ser.
Na cultura russa há uma boneca, feita geralmente de madeira, a Matriuska, que dentro de si traz várias bonequinhas que se encaixam uma dentro da outra, até chegar à última, que é de madeira maciça, se analisarmos encontramos uma analogia muito profunda sobre quem somos, quanto mais fundo se adentra no interior do ser, novas pessoas vão surgindo, somos muito mais complexos e misteriosos do que a aparência exterior demonstra...
Somos santos, somos loucos, incríveis, às vezes desprezíveis, ora simples ora sagazes, imprudentes, incoerentes e também nos pegamos agindo com tal prudência e sabedoria que surpreendemos a nós mesmos! Somos um misto de ações, pensamentos, emoções, em que toda nossa história de vida, de família, cada experiência vivida nos fez ser quem somos.
“O ser humano possui muitas coisas que nunca adquiriu por si mesmo, mas que herdou de seus ancestrais não nasce tabula rasa mas simplesmente inconsciente. Traz ao nascer sistemas organizados especificamente humanos e prontos a funcionar, que deve aos milhares de anos da evolução humana... ao nascer o homem traz o desenho fundamental de seu ser, não só de sua natureza individual, mas também de sua natureza coletiva” (O pensamento vivo de Jung, p 74).
Precisamos de um relacionamento mais profundo com nós mesmos, de ter prazer em estar consigo mesmo, de pensar em quem se é, em nossas origens e assim saber aonde se quer chegar. Muitas pessoas vivem infelizes por só cultivarem a casca, a superficialidade do ser, sentem um vazio, uma falta de sentido no viver... Já dizia o filósofo grego Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo!”, só quem entra nas profundezas do ser é capaz de se conhecer, o autoconhecimento propicia gozo, satisfação em ser o que se é, com todas as partes que se tem.