Outro dia, assistindo a comédia Doze é demais, protagonizada por Steve Martin, uma frase do personagem protagonizado pelo ator, que encenava o pai de doze filhos, quando este se referia à filha mais velha, me chamou a atenção: “eu pisquei e ela já está com vinte anos!”, é incrível como o tempo passa, o tempo é o fator mais democrático da existência, passa para todos, independente de sexo, raça, religião, posição social... a ciência tem se desenvolvido para retardar os efeitos físicos do tempo, com cosméticos, intervenções cirúrgicas, suplementos vitamínicos, exercícios, alimentação, contudo nada é capaz de fazer com relação ao tempo cronológico, ele simplesmente passa e se esvai, como areia que o vento leva.
Nos dias de hoje, em nossa ânsia de ter e de garantir um futuro melhor aos nossos filhos e a nossa família corremos atrás de muitas coisas, trabalhamos dia após dia, dormimos pouco, nos alimentamos mal, mal sentamos para ver um programa de TV e cochilamos, vencidos pela exaustão de noites mal dormidas.
Para quê tanto sacrifício, tanta correria? Há quem diga que: “quero dar aos meus filhos tudo o que meus pais não puderam me dar” ou ainda “quero garantir ao meu filho um bom futuro, para que ele não precise sofrer como sofri”, atitudes louváveis, por certo, contudo, no desejo de poupar os filhos de determinadas agruras da vida também acabamos roubando-lhes algo muito precioso: a alegria da conquista!
Todo mundo é capaz de se lembrar de como foi bom receber o primeiro salário, comprar o primeiro tênis, o primeiro rádio, o primeiro presente para a mãe sem ser com o dinheiro dado por ela, enfim, pequenas e graduais conquistas que nos ensinaram a saber o valor das coisas. É preciso deixar que os filhos escrevam a própria história.
Outra coisa também que acabamos por tirar de nossos filhos em prol do “futuro tranquilo” é a alegria de nossa companhia, de nossa atenção, do compartilhar a própria história. O que seu filho sabe a seu respeito? De suas brincadeiras, sonhos e travessuras da mocidade? É imprescindível ter tempo para compartilhar, para deixar o seu legado, para realmente estar presente na vida dos filhos, para dar e receber afeto.
O tempo passa sim, como nos lembra a Bíblia: “...porque tudo passa rapidamente e nós voamos” (Salmo 90: 10), nossa vida passa muito depressa e por isso precisamos ter tempo de vivê-la, de estar com quem amamos, de gozar os frutos de nosso trabalho, de nada adianta correr tanto se no final não tivermos saúde para viver.
Em uma piscadela, o tempo passa, os anos se vão e que estes anos não sejam em vão, mas sim bem vividos com os que nos são queridos, de modo que quando piscarmos novamente não venhamos a ter a impressão de que corremos em vão.