CENA ÚNICA: INT. ESTACIONAMENTO – NOITE.
Dois irmãos, Nathália e Arthur, andavam calmamente pelo estacionamento.
ARTHUR: Não entendo, o que estamos fazendo aqui ainda mais a essa hora? Se a Valéria te mandou para tentar me convencer a não os denunciar, esqueça. Isso já foi longe demais. Além disso, sabe que pode vir comigo, não é?
NATHÁLIA: Nossa mãe, irmão, ela é nossa mãe, seria interessante ter um pouco de respeito com ela e com a nossa família.
ARTHUR: Está falando sério? Não é possível que justo você concorde com isso.
Nathália para, ficando de frente com Arthur.
NATHÁLIA: Eu aprendi a aceitar o meu destino. E enquanto você ia às festas se divertir eu estava estudando mais a respeito da nossa família e do nosso legado. Engraçado que quando os seus luxos eram bancados com o nosso dinheiro você não se importava, mas agora cansou e resolveu pagar de bom samaritano? Hipócrita.
ARTHUR: Por que está falando assim comigo? Que raios aconteceu com você? Deixe-me adivinhar, a nossa querida mamãe juntamente com o nosso tão presente pai a convenceram de participar do trabalho da família? E o mais incrível de tudo isso: é uma máfia! Você é a minha única irmã, e apesar de terem conseguido fazer essa merda de lavagem cerebral em você, ainda dá tempo de desistir. Por favor, Nathália, sabe que estou certo.
Silêncio. Os irmãos se encaram. Nathália tira um estilete do bolso da sua calça. Um corte longo é feito na palma da sua mão de forma rápida, enquanto faz outro corte por todo o seu antebraço.
ARTHUR: ESTÁ LOUCA? Me dê isso aqui. O que pensa que está fazendo, sua idiota?
Arthur pega o estilete das mãos de Nathália, sujando as suas próprias com o sangue. Tenta pegar o braço na irmã, porém Nathália se afasta de maneira calma, abaixando a cabeça.
NATHÁLIA: Eu te amo, Arthur. Independente das nossas escolhas eu sempre vou te amar. Você sempre me protegeu em quaisquer circunstâncias, sempre cuidou de mim enquanto nossos pais ficavam ausentes sem motivo. Mas infelizmente você escolheu o lado errado. Saiba que quando resolver aceitar as suas origens, nossa família, inclusive eu, estaremos de braços abertos. Entretanto, enquanto isso não ocorre, não posso deixar você trazer suspeitas indesejadas.
Nathália segura sua mão, o sangue escorrendo devido ao corte. Arthur ainda segurava o estilete.
ARTHUR: Por que está dizendo tudo isso? Nathália...
NATHÁLIA: Me perdoe, irmão. Mas você quer entregar o trabalho da nossa família para a polícia. Entendo que é ilegal, mas não posso deixar você fazer isso.
Arthur tenta se aproximar, porém Amélia se afasta novamente; levanta a cabeça para encarar o irmão. Seus olhos vermelhos, lágrimas escorrendo por seu rosto.
ARTHUR: Está chorando... Por que você está chorando? Nathália, o que você vai fazer?
Ao fundo começa a soar o barulho de sirenes cada vez mais próximos.
NATHÁLIA: As ordens foram para que me livrasse de você antes que pudesse nos trair. Sabe por que nossos pais me escolheram primeiro? Eles queriam a melhorar garota. E essa sou eu.
Dois carros da polícia param há alguns metros. Dois policiais armados saem, cada um de uma viatura, apontando as armas em direção aos irmãos. Uma terceira pessoa saí da viatura. Uma mulher com o rosto coberto por lágrimas.
MULHER: Eu disse que ela estava em perigo! Meu Deus, filha. Por favor, salvem a minha menina.
Nathália sai correndo em direção a mulher a abraçando. Arthur continua imóvel no mesmo local, com o estilete ensanguentado ainda em suas mãos, ostentando uma expressão assustada.
POLICIAL: Pode nos contar o que ocorreu?
NATHÁLIA: Correndo pelo estacionamento ele me perseguiu e não queria parar, agarrou minha mão, me empurrou para baixo...
ARTHUR: O quê? Espera, não foi isso que aconteceu!
POLICIAL: PARADO! Você está preso e tem o direito de permanecer calado. Tudo o que disser poderá ser usado contra você.
O policial vai em direção a Arthur, algemando suas mãos e o colocando no banco traseiro da viatura. A mulher abraça Nathália, sussurrando.
MULHER: Ótima interpretação, meu amor. Você realmente é a melhor.
Nathália sorri ainda abraçada a mulher. Ao se separar, ambas seguem para a outra viatura.
POLICIAL: Vocês estão bem? Iremos passar no hospital para que possam examiná-la, limpar os ferimentos e fazer os curativos.
MULHER: Nós só queremos paz, Sr. Policial. Agradeço imensamente por nos ajudar, se não fosse a agilidade de vocês talvez algo pior pudesse ter ocorrido com o meu bebê. Ainda não acredito que o meu filho mais velho tentou torturar e matar a própria irmã...
POLICIAL: Sinto muito por essa situação, mas agora podem ficar tranquilas, nada de ruim irá acontecer. Deixem o resto com a justiça.
Nathália e a mulher agradecem novamente o policial, sentando-se no banco traseiro da viatura para que pudessem ir embora.