Provavelmente todo bairro tem aquela velinha que caminha curvada pela idade e simpática com todos, alguns lugares tem mais de uma, elas plantam florezinhas principalmente nas calçadas e não gostam quando alguma criança arteira fica subindo nas árvores que plantaram quando vieram morar ali a muitos anos atrás.
Em Goiaba não era diferente, mas em um dos bairros mais afastados — especificamente na rua Cão Chupando Manga — morava Tia Maria. Uma Senhora relativamente conhecida pela cidade e especialmente na rua em que morava a mais de trinta e cinco anos.
Quando mais nova a idosa dizia que nunca se tornaria “aquele tipo de velha que fica falando da vida dos outros”, acabará sendo exatamente esse tipo de pessoal. Mas ela não pensava neste assunto fazia muito tempo, principalmente agora que se mudara uma nova vizinha para a rua.
“Uma jovem muito simpática, educada e alegre” — dizia Tia Maria as “Vizínhas”.
Era uma notável honra conhecer, como diziam as velinhas, uma “criança boazinha”. E Tia Maria não só conhecia, como morava ao lado da casa de Alicie que de tempos em tempos conversavam.
Contudo a jovem não passava muitas noites em casa já fazia mais de dois meses e as vezes trazia diversas visitas, em grande maioria masculinas, a idosa não conseguia acreditar que a inocente, pura e santa, Alicie, estava fazendo aquilo.
— Alicie, o que está fazendo com sua vida? — questionava-a observando pela janela.
Tia Maria pensou em várias possibilidade: — E se ela estiver sendo forçada a se prostituir? E se estiver devendo dinheiro? Ou poderia estar por dificuldades financeiras — no final de suas suposições só pensou em uma coisa — Pobre menina, preciso ajudar.
No dia seguinte a idosa chamou a garota a sua casa para tomarem café juntas em meio a um gole, disse: — Eu sei que está trazendo homens estranhos para sua casa, não quero me intrometer mas estou preocupada, vou te ajudar a sair dessa vida.
A moça ficou congelada com as palavras sem saber como lidar com aquela situação.
— Se for dinheiro o que precisa, eu vou te emprestar, filha, e pode me pagar aos pouquinhos. Agora se for alguém te forçando a se vender assim...
— Dona Maria, calma.
— Vamos chamar a polícia, eles vão nós ajudar.
— Dona Maria — sorriu de canto. — Acho que temos um mal entendido, eu não estou me prostituindo, mas eu...
— Mas, Filha, você não dorme em casa e quando aparece é com homens estranhos, pode confiar em mim que eu vou te ajudar!
— Muito obrigada, Dona Maria, mas eu faço faculdade de moda. Algumas daquelas pessoas eram modelos, outros amigos e clientes. Não precisa se preocupar, estou bem.
Tia Maria respirou aliviada por saber que não havia se enganado com o carácter da jovem, a conversa continuou um pouco mais e Alicie foi para casa.
Deixou suas coisas sobre a mesa e destrancou um quarto ao entrar acendeu as luzes, revelando várias peças de tecidos, máquinas de costura, mesas e outros objetos, mas o item mais intrigante era o manequim de retalhos humanos no meio do cômodo. Alicie fechou a porta com um sorriso no rosto.