Abriu então os olhos com um chamado,
Vindo de fora da escuridão,
"Levanta-te, ainda não jaz em pecado!"
Estava ainda em sua própria perdição.
Sentia galhos perfurar suas costas,
Tocava o caule no chão.
Estava dentro da arvore do pecado,
Em meio a madeira que o prendia,
Sabia que ali seria condenado.
Estava por passada heresia.
Balançou seus braços,
Ouviu então do outro lado
A voz mais forte que todos os aços,
Era novamente o chamado:
"Vamos! Rompa-se desses laços
De madeira que lhe sugam pelo pecado!"
O Herói então gritou.
Em meio a escuridão,
Cerrou os punhos e os levantou
Bateu contra a madeira de seu caixão.
A sua frente se rompeu,
Foi de encontro ao chão.
Sangue em suas veias percorreu
Sentia mais uma vez o coração.
Caído como a besta de Teseu.
Seus músculos rígidos pela tensão.
Havia saído do interior da árvore
E a voz mais uma vez se pronunciou:
"Vamos, não demore!"
A besta se aproximou.
"Se quer, então chore!"
O jovem caído, ergueu a cabeça e viu aquilo
Logo se assustou com o porte
Mais assombroso que as torturas de Ésquilo.
De pele vermelha e crânio de bode.
"Erga-te, homem!"
Falou a besta carmesim.
"Mantenha a calma, não sou Lobisomem,
Vampiro ou Morto-vivo, sou Demônio, sim!
Pois deixe-me apresentar
Sou um rebelde que lhe observa, ceifado.
Sou seu Demônio particular!
Me chame pelo nome de seu agrado!
Não tenho poder militar.
Nem ao menos um soldado.
Pois tenho ti! Meu amigo.
Eu o levarei ao Sagrado!"
Nosso Herói o via como um antigo
Conhecido de caminho errado.
Este se levantou e proferiu:
"Seria você meu demônio penitente?
Que ao lado de seus irmãos, deferiu
um ataque ao Onipotente!
Este então os feriu...
Caído como eu, no lago fervente!
Seria então esse meu Abismo?
Que pecado vim a cometer?
Dessa tragédia terminada, o protagonismo
Me resta mais do que o viver?
Não se aproxime de mim, criatura!"
Se colocou contra uma rocha.
Continuou: "Isto tudo és loucura!"
Seu demônio debocha:
"Sim! Você falhou
E eu serei seu guia, sua tocha!"
O Pecador e o Pecado
Se calaram como se deve.
O Pecador se viu desconcertado
Pois sua pele estava coberta pela neve.
Engoliu a vontade de chorar
Como faz uma criança.
Ao respirar, via que estava a baforar,
De sua boca saia uma leve fumaça.
Desejou ter asas para dali voar.
E fugir de vez de sua desgraça.
"Como poderá me ajudar?"
Perguntou ao Demônio.
Respondeu: "Teremos que andar,
Eu sei o caminho de Pandemônio"
Viu em sua volta uma floresta
Árvores negras e terra vermelha,
De neve toda a vista estava coberta.
Sabia que, como, de dentro de cada árvore velha
Tinha uma alma a ser descoberta.
Teve de falar: "E o que quer ganhar com isto?
Pelo que sei, Demônio é sempre mesquinho."
Demônio: "Aqui sou malvisto!
Estou cansado desse joguinho!
Quem agora lidera é Asmodeus!
Este que nunca gostou de mim
Oh, como quero retornar a Deus!
É isso que quero, isso sim!
Sair daqui sem nem um Adeus!
A muito fui um querubim.
Porém aqui eu sou um escravo.
Malditos rebeldes Serafins!
Meu valor foi reduzido a um centavo,
Mas posso te ajudar a sair desses confins...
E o que me diz? Deseja paz?"
Estendeu a mão de unhas grandes,
Foi retribuído pelo rapaz.
"Me prometa a saída de Hades"
Disse sem o ver como capaz.
O Demônio acreditava em suas habilidades.
Partiram para a saída da floresta Rubra.
Ambos despidos de qualquer censura.