Até Eu Te Perder (Parte 1) (Em Andamento)
Sabrina Ternura
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 17/10/21 02:25
Editado: 02/06/23 16:29
Qtd. de Capítulos: 7
Cap. Postado: 17/10/21 02:29
Cap. Editado: 23/10/21 01:03
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 11min a 15min
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Palavras: 1869
[Texto Divulgado] ""
Não recomendado para menores de catorze anos
Até Eu Te Perder (Parte 1)
Capítulo 2 A Gentil Sinfonia do Primeiro Amor

Ternura despertou perto do anoitecer. Se não fosse pela iluminação das velas que flutuavam pelo cômodo, a menina estaria na mais completa escuridão. A Mansão das Sombras não possuía esse nome por capricho ou para afastar possíveis invasores, afinal, quando a noite chegava, o local era completamente engolido pelas trevas por conta dos altos Pinheiros Sombrios que rodeavam a propriedade e que conseguiam impedir parcialmente a luz da lua de iluminá-la. Por esse motivo, todos os espaços comuns da residência possuíam algum tipo de objeto que pudesse gerar luminosidade. No quarto verde menta que Ternura utilizava quando visitava a casa dos tios, por exemplo, haviam candeeiros cor-de-rosa com vagalumes dentro que eram responsáveis por iluminar o ambiente, mas os mesmos insistiam em escapar. Quando questionada por Pablo acerca da aparente fuga dos insetos, a pequena informou o seguinte enquanto mexia nervosamente as mãos:

— Eu não fiz nada, juro-juradinho-de-coração. Eles gostam de ficar em cima do meu cobertor e gosto de ter eles pertinho.

Auxiliada pela luz, Ternura desceu do sofá e conseguiu localizar seu par de sapatilhas brancas. Ao encaixar os dois pequenos pés em ambas, ela passou a amarrar as fitas das mesmas. Entretanto, quando a última volta estava sendo dada para finalizar o último laço, um espirro alto assustou a menina, que rapidamente se virou para trás para repreender a culpada:

— Tristeza! Que susto!

— Desculpe, desculpe! — Exclamou a irmã com sinceridade.

Tristeza estava sentada no outro sofá e trajava um vestido azul simples com duas camadas de babados brancos que ela mesma havia costurado. Seu cabelo castanho escuro levemente encaracolado e a ponta de seu pequeno nariz avermelhado contrastavam com sua pele pálida. Apesar de aparentar estar resfriada, aquele era o estado normal da adolescente, pois a mesma sempre estava dentro de algum lago ou no meio de uma tempestade. Ternura finalizou o laço de sua sapatilha e, ao encarar a irmã, viu que ela segurava uma xícara de chá.

— Há quanto tempo está aqui? — Questionou a mais nova.

— Há exatos 47 minutos e 37 segundos. — Respondeu a mais velha de modo trivial, como se fosse a coisa mais comum do universo alguém saber de tais informações certeiras.

Ternura, já acostumada com esse tipo de resposta, passou a encarar os biscoitos postos sobre a mesa de centro e prosseguiu:

— Onde os tios estão?

A menina esticou o braço para pegar um dos biscoitos, porém Tristeza deu um tapinha no dorso da mão da irmã, o que a fez se afastar da bandeja.

— Você sabe que não pode comer doces antes do jantar. — Repreendeu a mais velha, o que fez Ternura juntar as mãos na frente do corpo recatadamente e ficar com um semblante frustrado. — Tio Pablo e tio Diab foram para o escritório conversar a sós e tia Fubuki me pediu para ficar aqui com você e levá-la para o seu quarto quando acordasse para que Ferbi pudesse te arrumar para o jantar. Parece que o filho do czar do Hades chegou, então a ocasião será um pouco mais formal do que o habitual e…

A mais nova apenas parou de ouvir o que Tristeza estava tagarelando, pois seus ouvidos só conseguiam ouvir o som abafado de passos na grama, assim como o movimento quase inaudível das vestes de alguém se mexendo. Os sons diferenciados e que, à primeira vista, seriam considerados perturbadores, chamaram a atenção de Ternura, que se encaminhou para a janela como se aquele fosse o lugar em que ela devesse estar. Mesmo estando no segundo andar e com pouca iluminação no jardim, a menina conseguiu visualizar uma cabeleira loura que estava de costas para a casa e que levantava levemente o braço, pois, apoiado em seu dedo indicador, havia um vagalume. Pela estatura e pelas vestes, ela deduziu que fosse um menino um pouco mais velho que ela.

O garoto levantou delicadamente o braço e o pequeno inseto luminoso alçou voo. O menino virou o rosto com o intuito de acompanhar o vagalume se afastar e Ternura o viu sorrir com uma sinceridade tão real e palpável, que tal ação ocasionou um misto de sentimentos no coração da menina. Ela arregalou seus olhos lilases com o intuito de conter as lágrimas que ameaçavam cair. Paralisada diante da janela, ela notou que o sereno silêncio ao redor melodiava em seus ouvidos uma sinfonia gentil. A brisa da noite adentrava suas narinas com doçura. A atmosfera terna que tomava o ambiente deixava seu âmago com uma exuberante calmaria, porém, quanto mais ela encarava a figura diante de seus olhos, mais seu coração saltava em seu peito como se uma imensa tempestade estivesse prestes a despencar dos céus.

A luz da lua começou a adentrar lenta e timidamente o gramado, o que fez o garoto acompanhar o movimento da mesma, pois até ele sabia que um evento assim não era comum naquele local. Quando a luminosidade saiu da grama e passou a clarear as paredes da Mansão das Sombras, ele ergueu os olhos e se deparou com uma pequena figura o encarando de uma das janelas do segundo andar.

O coração de Philip começou a saltar e o de Ternura pareceu compreender o verdadeiro significado de desespero, dada a velocidade insana com a qual as batidas martelavam em seu peito.

Philip já a havia visto, mas nem em seus sonhos daquela tarde ele poderia imaginar que ela possuía uma beleza tão arrebatadora. Emoldurada pela janela e com a luz da lua iluminando-a, a menina era o ser mais belo da existência e estava diante dos olhos dele como um quadro raro. Ternura, por outro lado, estava vendo-o pessoalmente pela primeira vez naquele instante e, ainda assim, sentia que já o conhecia a muito tempo. Um sentimento de confusão e de pertencimento os tomou. A menina quis derramar todas as suas lágrimas de alegria contidas, enquanto o garoto sentia uma vontade imensa de sorrir e recitar para ela, bem ali do jardim, todos os poemas do mundo com o intuito de mostrá-la que verso nenhum seria mais lindo do que os olhos lilases dela.

Philip sentiu toda a escuridão de seu âmago ser substituída por uma luminosidade cheia de carinho.

Ternura aceitou todas as trevas e dor que emanavam dele de braços abertos e sem medo.

Nenhum dos dois sabia o significado do sentimento que os havia atingido como um meteoro, contudo tinham ciência de que era belo, gentil e acolhedor. O responsável por quebrar a conexão foi o garoto, que fez uma reverência à menina, como se a estivesse convidando para dançar. Ela perdeu o fôlego, porém conseguiu se recompor rápido o suficiente para balançar a cabeça positivamente e retribuir singelamente a reverência, esticando seu pequeno braço para fora da janela, mostrando a ele aceitava. Philip, ao receber a resposta, segurou o ar em seu peito com animação, soltando-o com força em seguida para sussurrar:

— Então, por favor, venha me encontrar quando a hora chegar.

Aquelas palavras baixas pareceram gritar nos ouvidos de Ternura, que começou a balançar compulsivamente a cabeça e acenou para o menino, se despedindo. Ainda sob o encanto do momento, ela encarou sua irmã e disse em tom decidido:

— Estou indo me arrumar para o jantar.

A menina saiu do recinto a passos rápidos e não notara que Tristeza estava encostada na janela ao lado, vendo toda a situação acontecer com preocupação. A mais velha voltou o olhar para o gramado e encontrou o garoto — que ela reconheceu como o filho do czar do Hades, dadas as descrições fornecidas por Fubuki — agachado e com as mãos escondendo o rosto envergonhado. Tristeza pôde notar que as orelhas dele estavam totalmente vermelhas, apesar da tentativa de ocultamento. A preocupação que outrora pairava nos olhos cor de mar da mais velha sumiram e instantaneamente ela soube que algo imparável e grande nasceria daquela situação. Ela se afastou da janela e começou a correr atrás da irmã mais nova.

No jardim, Philip ouviu alguns passos se aproximando dele e ergueu a cabeça.

— Jovem Mestre! — Chamou Nekromanteion. — O que está fazendo agachado aqui com suas roupas formais? Você pode se sujar antes do jantar e… Por que está tão corado?

— Jeff! — Exclamou o menino levemente desesperado, fazendo seu servo se sobressaltar com o modo informal que havia sido chamado. — Me ajude a trocar de roupa, por favor!

— Por que diabos eu faria isso se não faz nem meia hora que você se trocou? — Questionou Nekromanteion com os olhos negros semicerrados, desconfiando de toda a situação.

Philip apenas ignorou os questionamentos e começou a caminhar para dentro da residência dos Calígula, enquanto seu servo o seguia sem compreender a razão do pedido.

______________________________________________

As sombras que pairavam nos olhos de Diablair poderiam facilmente assustar a luz da lua que se estendia pelo jardim, se o mesmo continuasse encarando o gramado com tanto ódio. Ele havia travado o maxilar e parecia estar prendendo o fôlego, por conta de todas as emoções negativas que se apoderavam dele. Pablo, que havia ido se sentar em uma das poltronas após ver toda a situação, levou uma das mãos a boca, tentando impedir o riso que queria explodir. A ação não deu certo e o mesmo desatou a rir.

— Pare com isso! — Repreendeu Diablair, afastando-se da janela.

— Então pare de fazer esse maldito semblante de pai que acabou de deixar a filha no altar. — Defendeu-se Pablo, ainda rindo. — Se continuar tenso assim, vai quebrar o maxilar.

— Eu vou quebrar cada um dos ossos daquele pivete se ele ousar se aproximar da Ternura! — Exclamou o líder Infernal. — Ela ainda é uma criança!

— Ele também é. — Respondeu o senhor Calígula.

— De que lado você está, afinal? — Questionou Diablair, indignado. — Há menos de dois minutos atrás você estava falando como ele poderia vir a ser uma ameaça e que poderia ser um espião do Hades tentando se infiltrar fazendo papel de bom garoto. Então, de repente, ele faz uma reverência galanteadora para a minha sobrinha e se torna apenas uma criança? Ora, com trinta demônios, meu irmão!

Pablo suspirou e encarou o irmão com severidade.

— Posso ter me colocado em uma grande contradição nesse momento, porém não esperava que algo assim fosse acontecer... Você sabia que a luz da lua só ilumina totalmente os hectares da minha residência em apenas um tipo de ocasião?

O homem negro arqueou a sobrancelha e, enquanto se sentava na poltrona do outro lado, seu semblante de dúvida respondeu a pergunta de seu irmão.

— Você sabe que conheci Fubuki neste lugar a muito tempo atrás, certo?

O líder Infernal acenou positivamente com a cabeça e o outro homem prosseguiu:

— Por este motivo especial, construí nosso primeiro e único lar nestas terras. Naquela noite em questão, pela primeira vez a luz da lua iluminou esse local... Tudo por conta do nosso encontro. Quando duas pessoas estão predestinadas e se descobrem apaixonadas enquanto estão pisando neste solo, reza a lenda que a lua atravessa os Pinheiros Sombrios para abençoar os amantes. Este fenômeno se chama A Gentil Sinfonia do Primeiro Amor.

Por alguns minutos, o líder Infernal permaneceu em silêncio, apenas encarando seu irmão sem demonstrar qualquer reação. Entretanto, abruptamente ele se levantou e começou a caminhar até a porta. Antes de girar a maçaneta, Diablair disse com uma calmaria perturbadora:

— Eu vou matá-lo.

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Postado 27/10/21 17:15

Esse capítulo sempre vai deixar meu coração borbulhando de amor. Philip e Ternura são fofos demais e eu posso provar.

É incrível como você consegue dobrar os gêneros com facilidade sem fazer o texto ficar confuso. A gente lê a primeira parte suspirando e termina a segunda parte rindo kkkkkkkk. É incrível como o personagem do Diab consegue ser o mais assustador e o mais engraçado.

Parabéns, meu amor :)

Postado 30/10/21 23:09

Fico feliz que esteja se divertindo.

Obrigada pela presença e comentário, meu bem ♥

Postado 23/10/21 23:22

A fofurinha desses dois. Que vê pensa que a Ternura é inofensiva e que o Philip é um príncipe... Coitados. Kkkkkkkkkkkkkkkk

E essa lua aí iluminando tudo. Nem o olhar maléfico do tio Diab fez ela recuar. É magia das brabas!

Eu senti o infarto do Diab chegando. O tio vai precisar de vários corações. Tadinho dele... CONTINUAAAA! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Acho que o Pablo vai ter que arrumar uma camisa de força pro Diab. Ou isso ou a festa dele vai acabar antes mesmo de começar.

Postado 30/10/21 23:08

KKKKKKKKKKKK calma que tudo que tá ruim pode piorar.

Obrigada pela presença e comentário, Flavinha ♥

Postado 03/07/22 18:09

Satã... Mesmo um ser maldito e tão desprezível quanto desprezado feito eu devo reconhecer todo o peso, beleza e significado de um evento tão perfeitamente elaborado e descrito nesta cena envolvendo o infante casal. E, novamente, sinto um misto de compreensão e hipocrisia em relação ao Diablair a cada nova postagem deste épico, por conta de tudo o que haveria de ocorrer entre ele e Ternura pouquíssimos anos depois...

E, nesta mesma linha de pensamento, minha empatia pelo jovem Phillip só se eleva, pois vejo tanto do Líder Infernal nele... Aliás, acredito que este é o real motivo dele ser tão hostil e ultraprotetor com as suas sobrinhas em relação aos pretendentes delas: no final, eles de um jeito ou de outro parecem com ele e ele tem um profundo temor e desprezo pelo que isso significa e pode acarretar para as suas preciosas meninas.

A interação fraternal entre Pablo e Diablair, assim como a explicação oficial e idíliaca do fenômeno ocorrido naquela noite (e na ocasião anterior entre o Mestre/Irmão e sua amada) e a declaração final do Líder Infernal são a cereja do bolo, atestando uma vez mais o quanto a autora se dedica e se supera no detalhamento desta magnífica obra.

Que capítulo, oh Lúcifer! Que capítulo!

Meus mais sinceros e entusuasmados parabéns por nos brindar com algo tão (literalmente) mágico, Divina Brina!

Atenciosamente,

um tio cada vez mais preocupado e ameaçado pelo futuro afetivo de sua sobrinha mais nova, Diablair.

Postado 06/08/22 00:07

Será que a autora intencionalmente colocou algumas semelhanças entre os meninos e o Diablair? SERÁ? Me abstenho de responder u.u

A relação do Pablo com o Diab nesta obra é como um abraço seguido de uma crise de riso: gosto muito de desenvolver as interações entre ambos, porque sei que algo incrivelmente bonito e divertido surgirá. Fora que eles são baseados em duas pessoas incríveis que estimo demais e é um deleite (e uma baita responsabilidade) saber que ambos acompanham a obra e gostam da maneira que seus respectivos personagens são representados.

Obrigada pela presença e comentário, Diab ♥

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