"Todas as obras de arte devem começar pelo final."
- Edgar Allan Poe
A particularidade central das minhas esculturas é que elas parecem mulheres reais. Alexandre de Antioquia e Michelangelo esculpiam em mármore. Donatello utilizou o bronze. Mas nenhum utilizou a matéria-prima mais sublime da natureza: o corpo humano.
A forma dos corpos, a nuance e o traços são todas criações minhas. As pessoas questionam como pode ser tão real, palpável, parece um milagre o que está em frente aos seus olhos. E realmente é tudo isso. Um milagre, porém real. Eu resvalo e transformo milagres aonde ninguém mais consegue ver.
Nem mesmo Michelangelo, Donatelo ou Pilon poderia fazer a arte renascer da formar como eu a concebo.
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Eu me sinto inspirado.
Subo os degraus até o local o qual eu uso para esculpir. O Sótão me pareceu o lugar perfeito a primeira vista, com uma pequena janela com entalhes de madeira em direção à rua silenciosa e vazia, mais adiante um lago, ao norte, tão translúcido como deveria ser e árvores frondosas que agora se despem das suas folhas, mas a minha paisagem preferida se encontra aqui, dentro do meu ateliê. As paredes de altura mediana têm um tom claro como gelo, com prateleiras de madeiras e um grande balcão de mármore na outra extremidade. A luz do local é intensa e fria.
Caminho em direção à pequena estrutura de concreto no meio do cômodo, sinto que estou sendo observado, até olhar para cima e ver aqueles grandes olhos pretos sob mim. O corpo despido e inerte, impossível de mover qualquer músculo, não há reação quando a toco, mas dizem que os olhos são as janelas da alma e eu vejo dentro deles e os mesmos imploram: eu quero a ser sua musa.
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As minhas regras são: todas as minhas esculturas são expostas em um salão na minha casa; elas não estão à venda e só podem ser vistas a um de 1 metro de distância. Nada de toque.
Volto o meu olhar ao corpo, sem lesão alguma, plena e ideal para lapidar. Com o passar dos anos, eu descobri a composição perfeita para fazer os corpos ficarem rígidos e durarem o tempo suficiente. Em passos lentos, direciono-me até o grande balcão ocupado com grandes caixas térmicas, apesar do peso consigo tirá-las e arrastar até a minha musa. Pego uma espátula em uma das prateleiras e começo a esculpir, o primeiro passo é moldar, lapidar e então o processo final acontece.
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Eu a vejo no meio de todas as outras centenas de esculturas, mas ela é diferente. Ainda consigo ver através dos seus olhos, as lágrimas, a felicidade em ser minha. A minha musa, mas a ela eu irei chamar Vênus.