Eu ainda lembro das tuas palavras derramadas. Lembro-me delas como se tivessem acabado de me atingir, geladas e irremediavelmente molhadas.
Porque você nunca foi seco e eu não sei se essa é uma coisa de que me orgulho ter te ensinado. Você nunca foi seco, sempre foi encharcado demais, sempre umedeceu o deserto da minha vida com as tuas amenidades. E eu sempre me orgulhei disso, mas agora não sei mais.
Sua voz continua cravada em mim como o som do trem que hora ou outra atravessa meu cenário meio esfumaçado pelos cigarros que você me ensinou a tragar. Meu vício preferido agora, que te substituiu, felizmente.
"Você sabe que eu te amo, certo? But I need more space."
Tão doce, tão delicado, dessa forma que sempre me trouxe tanta raiva. Porque você entendia uma parte de mim que eu não queria que fosse entendida, você amava um eu obscuro e em preto e branco e, por mais que teu amor não fosse em nada monocromático, você precisava de espaço.
Engraçado como as coisas funcionam. Eu nunca imaginei que uma conclusão como essa, após avaliada pelo deserto na minha vida, fosse tão... Reconfortante. Tuas palavras foram como uma miragem no meu coração apertado que suplicava por amor, mas sabia que ele nunca seria o suficiente.
E finalmente eu entendi: Eu também precisava de mais espaço, mas sempre me afundei nas tuas palavras, então nunca havia percebido isso.